Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) indicam que o número de cidadãos brasileiros a residir no distrito do Porto aumentou mais de 50% em 2019 (19.703) face a 2018 (12.994).
O aumento de 50% de imigrantes brasileiros no último ano ao distrito do Porto explica-se "sem sombra de dúvida" com a "segurança e a qualidade de vida" que existem em Portugal, mas também se justifica com os 'Tech Visa’,uns vistos especiais criados em janeiro de 2019 destinados a funcionários altamente qualificados na área das tecnologias e que permitem a legalização em "dois ou três meses", conta Felipe Sales, 41 anos, informático, que emigrou há três anos do Rio de Janeiro para o Porto com a mulher e o filho, deixando para trás a "violência" e a "crise económica" do país natal.
Inicialmente, o casal Sales abriu dois negócios próprios - um de joias e outro de acessórios para telemóveis -, mas agora Felipe Sales conseguiu arranjar trabalho na sua área da informática e trabalha com vários compatriotas que chegaram no último ano através do 'Tech Visa'.
“Um ‘Tech Visa’ pode trazer, na verdade, quatro ou cinco brasileiros, porque o trabalhador traz normalmente a esposa e os filhos”, observa Felipe Sales que está atualmente a trabalhar numa consultora na área de Tecnologia de Informação e Iformática (TI), na Trindade, no chamado coração da cidade do Porto. A sua empresa, conta, contratou no último ano cerca de 100 cidadãos brasileiros através do ‘Tech Visa’.
As divergências ideológicas e partidárias relacionadas com o governo atual de Jair Bolsonaro e/ou com o anterior governo de Lula da Silva, bem como o aumento do desemprego relacionado com a empresa Petrobras e as investigações da chamada Operação Lava Jato são outros motivos que "espoletaram o desejo de sair" do Brasil, referiu Felipe Sales, que acabou de ser pai da bebé "portuguesinha" Sofia.
"Com a Petrobras e a questão da [Operação] Lava Jato reduziram-se muitos projetos. (...) Houve um esvaziamento gigante. Os projetos foram acabando e as pessoas foram dispensadas às centenas. Não é à toa que o número de desemprego no Brasil chegou a bater 13 milhões de pessoas. É [a população de] Portugal e mais um bocado. A Petrobras era uma empresa descomunal (...), chegou a ter 150 mil trabalhadores tercerizados (de empresas externas), e, quando ela começa a sofrer as investigações, as empreiteiras e as grandes consultoras também começam a ser afetadas", conta o informático.
O facto de Portugal estar a acolher a 'Web Summit' e de estar na moda pelas 'startups', e receber empresas como a Farfech, Talkdesk, Natixis, e outras empresas que começaram a montar ‘hubs’ tecnológicos em Portugal", são também motivos fortes para que muitos brasileiros da área das TI aproveitem o 'Tech Visa' e rumem à imigração como sucedeu com Felipe Blaya, 24 anos, e Wesley Modro, 33 anos, ambos programadores informáticos.
Felipe Blaya conta que chegou a Portugal há um ano, logo após a implementação dos 'Tech Visa'. Para aquele jovem brasileiro, o 'Tech Visa' é "excelente", porque impulsionou muito a imigração para vir trabalhar em Portugal com uma legalização rápida.
"Estive seis meses a estudar inglês na Irlanda e decidi vir para Portugal trabalhar através do 'Tech Visa' em busca de desafios pessoais, porque pesa muito no Brasil a experiência laboral na Europa", conta Felipe Blaya, atualmente a morar em Vila Nova de Gaia e a trabalhar no Porto como consultor na área da programação informática.
Wesley Modro, 33 anos, licenciado em Ciência da Computação, também decidiu imigrar para o Porto, aproveitando os benefícios do 'Tech Visa'. Largou há seis meses São Paulo, uma cidade "muito agressiva", "violenta", e com "muito trânsito" e quis vir para o Porto, uma cidade que considera "segura" e "com elevada qualidade de vida".
"Contei com o apoio de uma empresa para agilizar o procesos da legalização com o visto de trabalho 'Tech Visa'", conta Wesley Modro, assumindo que aquela ferramenta foi fulcral para tomar a decisão de emigrar, porque vem com a segurança de ter um trabalho na área da sua formação, que lhe dá também benefícios fiscais no imposto da renda de casa.
As questões políticas que se vivem atualmente no Brasil, a falta de segurança que vivia em São Paulo e o aparecimento do 'Tech Visa' são as três razões principais que o motivaram para emigrar.
"Não tenho nenhum interesse de voltar nos próximos anos para o Brasil. A qualidade de vida não tem comparação. Espero conseguir trazer os meus dois filhos para estudar aqui", afirmou, reconhecendo que, apesar de ganhar metade do que ganhava no Brasil, é mais recompensador viver no Porto como programador informático.
A “questão da saúde pública e da educação pública, que no Brasil não se pode contar com isso, pelo menos quem é de classe média ou de classe média alta”, são também motivos para a imigração, acrescenta ainda Felipe Sales.
"Os novos imigrantes brasileiros não são só aqueles jovens de cerca de 20 anos que vinham tentar a vida no estrangeiro com pouca qualificação. Atualmente, os novos imigrantes brasileiros têm mais qualificação académica, são também pessoas mais velhas, com a vida já resolvida, com mais de 50 anos, com filhos crescidos e que vêm mesmo para abrir um negócio ou vêm mesmo para gozar da reforma”, relatou.
Ter laços familiares com portugueses também facilita a tomada de decisão de imigrar para Portugal.
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