Hoje, no mercado, a agência Lusa constatou a quase ausência de clientes, apesar de a maioria das bancas ter peixe fresco, proveniente da Nazaré. As peixeiras alegam que estão a assumir o custo adicional, sem o fazer refletir no produto que vendem aos clientes.

"Ontem [quarta-feira], comprei 300 quilos de peixe, de tudo um pouco. Tenho de ir pela autoestrada até à Nazaré, fica mais caro, mas estou a assumir esse custo. Mas as vendas caíram, porque o mercado esteve fechado na segunda-feira [por causa de alguns danos no telhado] e desde terça-feira isto está muito parado", disse à agência Lusa Flávia Varela.

A comerciante disse desconhecer quanto tempo irá durar o encerramento da lota da Figueira da Foz - a Docapesca reportou prejuízos de mais de 700 mil euros - e, até a reabertura acontecer, continuará a deslocar-se diariamente à Nazaré, a cerca de 100 quilómetros a sul daquela cidade do distrito de Coimbra.

"Os nossos barcos também estão a vender na Nazaré e em Aveiro. Espero que as pessoas regressem ao mercado, venham que temos peixe fresco na hora, acabado de chegar", enfatizou Flávia Varela.

Umas bancas mais adiante, Helena Simões, a "Lena do Mercado", também percorre quase 200 quilómetros, diariamente, na viagem de ida e volta à Nazaré para comprar peixe, saindo depois de almoço - a lota abre às 16:00 - e regressando pelas 22:00.

"Traz-nos muito mais despesas, porque até aqui não tínhamos necessidade de nos deslocar. É o gasóleo, são as portagens, é o tempo que perdemos, quase que não justifica, porque também temos estado muito parados", declarou.

Helena Simões não soube indicar a quantidade precisa de peixe que compra por estes dias, mas revelou ser cerca de "metade" do habitual.

"O custo a mais quem o está a suportar somos nós, para não perdermos os clientes, mas se calhar ganhava mais dinheiro em não estar aqui", lamentou.

A falta de clientes no mercado justifica-se, segundo a comerciante de peixe, porque "algumas pessoas tiveram falta de luz [e não tinham como guardar e conservar o peixe], outras andam a tratar dos telhados e das suas casas".

"E eu também vendo para restaurantes e alguns estão de férias e outros tiveram prejuízos e fecharam", alegou.

"Eu entendo, isto [a tempestade] foi uma coisa em que ninguém acreditou. Todos desvalorizámos os avisos, as pessoas e as autoridades também. Falo por mim, que saí no sábado à noite para ir ao CAE [Centro de Artes e Espetáculos, onde decorria um concerto], estava uma noite ótima, com alguma chuva, mas normal. E quando o furacão veio estavam lá 800 pessoas e podia ter sido uma tragédia", frisou Helena Simões.

Os prejuízos causados pela tempestade Leslie na região Centro ultrapassam os 80 milhões de euros, de acordo com os dados preliminares avançados pelas câmaras municipais mais afetadas.

A passagem do Leslie por Portugal, no sábado e domingo, onde chegou como tempestade tropical, provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados.

A Proteção Civil mobilizou 8.217 operacionais, que tiverem de responder a 2.495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.