O exército de Israel informa ter efetuado pelo menos duas séries de bombardeamentos aéreos contra áreas alegadamente ocupadas pelo Hamas, após vários lançamentos de rockets em direção ao sul do país.

As explosões atingiram a cidade de Gaza, segundo correspondentes da AFP, e o braço armado do Hamas afirmou ter respondido com baterias antiaéreas e mísseis terra-ar.

Nenhum lado reportou feridos. Muitos dos rockets disparados a partir de Gaza foram intercetados pelo sistema de defesa aérea israelita.

O Hamas e o grupo Jihad Islâmica prometeram represálias após a incursão de quinta-feira no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, que deixou nove mortos. Outro palestiniano faleceu ao ser atingido por tiros de tropas israelitas num incidente separado perto de Ramallah, na Cisjordânia.

Entre os mortos estava uma idosa e 20 pessoas ficaram feridas durante a operação militar no campo de refugiados da cidade, informou o Ministério da Saúde palestiniano.

A Autoridade Palestiniana classificou a incursão pela Cisjordânia como um massacre e anunciou que deixará de cooperar com Israel em matéria de segurança.

De acordo com a ONU, não eram registadas tantas mortes numa só incursão israelita na Cisjordânia desde o início dos registos das operações em 2005.

O Departamento de Estado americano anunciou que o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, vai viajar na próxima semana a Israel e Cisjordânia para "reduzir as tensões".

Desde o início do ano, pelo menos 30 palestinianos, civis ou membros de grupos armados, morreram em incidentes de violência envolvendo as forças de segurança e também cidadãos civis de Israel.

Um porta-voz militar israelita disse que o Exército realizou "uma operação antiterrorista" contra a organização armada Jihad Islâmica, envolvida em vários ataques contra Israel.

Antes de se retirar, as forças israelitas "atirarm deliberadamente granadas de gás lacrimogéneo" em direção a uma ala pediátrica de um hospital de Jenin, "o que provocou a asfixia de algumas crianças", denunciou a ministra da Saúde palestiniana, Mai Al Kaila.

"Ninguém disparou gás lacrimogéneo deliberadamente contra um hospital [...], mas a operação ocorreu não muito longe de um hospital e é possível que o gás lacrimogéneo tenha entrado por uma janela aberta", disse um porta-voz do Exército israelita à AFP.

Durante a incursão em Jenin, os soldados israelitas dispararam contra vários "terroristas" numa troca de tiros, afirmou o Exército israelita, e entraram em um prédio onde havia "suspeitos", acrescentou.

"A resistência está por toda parte e está preparada para o próximo confronto caso o governo fascista [israelita] e o seu exército criminoso continuem a atacar nosso povo, a nossa terra e os nossos lugares sagrados", disse Tariq Salmi, porta-voz da Jihad Islâmica.

Uma das vítimas de quinta-feira chamava-se Majeda Obeid, uma mulher de 61 anos, e a sua filha contou à AFP como faleceu durante a operação militar israelita. "Quando acabou de rezar, olhou pela janela por um momento e foi atingida por uma bala no pescoço. O seu corpo tombou contra a parede e depois caiu sobre o chão", disse Kefiyat Obeid, de 26 anos.

O acampamento de Jenin, criado em 1953, é como uma cidade dentro da cidade e abriga cerca de 20 mil refugiados, segundo a UNRWA, agência da ONU encarregada dos refugiados palestinianos.

O Exército israelita, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, realiza operações quase diárias neste território palestiniano, principalmente no norte, nos setores de Jenin e Nablus, redutos de grupos armados palestinianos.

"O Exército israelita destrói tudo e atira em tudo o que se move", disse o vice-governador de Jenin, Kamal Abu Al Rub, acrescentando que os moradores vivem "em estado de guerra".

"O que está a acontecer em Jenin e no seu campo é um massacre perpetrado pelo governo de ocupação israelita", disse Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente da Autoridade Palestiniana.

O secretário-geral da Liga Árabe denunciou um "massacre sangrento" perpetrado "sob as ordens diretas de [o primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu", que retornou à chefia de governo do Estado judeu no fim do ano passado.

Netanyahu disse que Israel não pretende escalar a situação, mas ordenou as suas forças de segurança a "prepararem-se para todos os cenários nos diversos setores", adianta o The Guardian.

A tensão entre as duas partes subiu exponencialmente como resultado da violência, sendo que as mais recentes sondagens apontam para os níveis mais baixos de sempre de apoio para o processo de paz.