Em entrevista à Lusa em Washington, à margem dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), Tonela indicou que os ataques na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, estiveram em destaque nas reuniões que manteve na capital norte-americana, no sentido de conseguir mobilização de recurso.
“Nós tomamos esta oportunidade para interagir com os parceiros de cooperação, sobretudo multilaterais, mas também bilaterais, sendo que o Banco Mundial, o Fundo (FMI), são algumas delas. E nas discussões sobre as questões de desenvolvimento de Moçambique, tocamos também nos desafios que o Governo tem para lidar com a assistência humanitária, lidar com mobilização de recursos para assistir às comunidades que se deslocaram, mas também para todo o programa de reconstrução e desenvolvimento acelerado de Cabo Delgado”, disse.
De acordo com o governante, o conflito em Cabo Delgado “tem vindo a fazer uma pressão extraordinária sobre as contas do país”, pelo que procurou “trabalhar com parceiros na mobilização de recursos para capacitação das Forças de Defesa Nacional para poderem lidar melhor com esta situação, mas também questões de equipamento”.
Sobre o tipo de apoio internacional já recebido até ao momento, Max Tonela indicou que este tem sido “multiforme”, desde formação e capacitação das forças de Defesa e Segurança por parte de parceiros bilaterais, como dos Estados Unidos, União Europeia, países africanos e do Reino Unido; assim como financiamento por parte da União Europeia para aquisição de equipamentos diversos, “que já foi recebido em parte pelo país”.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por uma violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás. Contudo, surgiram novas vagas de violência a sul da região e na vizinha província de Nampula.
Questionado sobre o impacto que a guerra está a ter no défice de Moçambique, o responsável pela pasta da Economia e Finanças frisou que “questões de defesa nacional são questões de soberania e terão de ser priorizadas”.
“A nossa perspetiva é criar condições para eliminar o mal, mas também, em simultâneo, promover desenvolvimento e criar uma melhor harmonia, e todo o pacote de reformas que temos vindo a implementar responde a este quadro de desafios”, explicou.
O governante salientou que o apoio financeiro recebido por parte de instituições internacionais, como do FMI e do Banco Mundial, não é destinado à Defesa, mas sim para propósitos de desenvolvimento, sobretudo de setores sociais como educação, saúde, aumento da proteção social às famílias, desenvolvimento de infraestruturas, entre outros.
“Mas estamos também a implementar um programa de Estabilidade Económica com o objetivo de alargar o espaço fiscal do Estado e aí temos reformas previstas no Código do IVA, da pauta aduaneira, entre outras. Estamos também a trabalhar no sentido de assegurar maior eficiência nas despesas, inverter o quadro de evolução da dívida pública – interna e externa -, e também com a criação deste espaço fiscal permite que possamos, com recursos próprios e mobilizados, fazer face aos desafios de capacitação”, declarou.
Sobre a semana intensa que manteve em Washington, Max Tonela assegurou que as reuniões com o FMI e com o Banco Mundial foram “bastante frutíferas”, assim como as discussões paralelas que manteve “com outros investidores interessados em Moçambique”.
“Foi muito positivo porque permitiu ter discussões muito francas, diversificadas, com vários parceiros, com vista a encontrar soluções para os desafios do país em matéria, sobretudo, de financiamento, quer para projetos privados, quer para projetos públicos, mas também dar seguimento à mobilização de recursos para a implementação do programa de reformas, visando criar uma maior sustentabilidade e aceleração no desenvolvimento da nossa economia”, observou.
Nesse sentido, foi possível “abrir portas para dispormos de recursos adicionais e há discussões técnicas que se vão iniciar em função dos entendimentos que tivemos”, anunciou.
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