“Ver mais duas pessoas expostas ao ‘novichok’ no Reino Unido é, obviamente, profundamente perturbador e eu sei que a polícia vai investigar até ao fim o que aconteceu”, afirmou hoje Theresa May em Berlim, onde se encontrou com a homóloga, Angela Merkel.
A chefe do Governo britânico falava sobre o caso de um casal, ambos de 44 e 45 anos e de nacionalidade britânica, atualmente hospitalizados e em estado crítico após se terem sentido mal no sábado em Amesbury, cerca de 150 quilómetros a sudoeste de Londres.
Na quarta-feira à noite, após concluídos testes num laboratório especializado em armas químicas, as autoridades confirmaram que a substância desconhecida a que tinham sido expostos se trata de um agente neurotóxico de nível militar de origem russa chamado ‘novichok’.
Esta substância é a mesma que esteve na origem do ataque a Sergei Skripal, um britânico de origem russa com 66 anos que tinha sido agente duplo dos dois países, e a filha de 33 anos, Yulia, de nacionalidade russa, no início de março na cidade vizinha de Salisbury.
Ambos tiveram alta após estarem hospitalizados durante várias semanas, tal como o agente Nick Bailey, que também tinha sido contaminado pelo ‘novichok’, mas receberam entretanto alta e encontram-se em local desconhecido, sob proteção das autoridades britânicas.
Numa declaração esta tarde no parlamento, o ministro do Interior, Sajid Javid, disse: “Obviamente, este incidente traz à memória a irresponsável tentativa de homicídio de Yulia e Sergei Skripal no início deste ano. Muitos perguntam-se se este incidente está ligado a esse caso. Essa é claramente a principal linha de investigação”.
O ministro conduziu esta manhã uma reunião convocada de urgência do comité COBRA, onde se juntam elementos de diferentes ministérios e agências governamentais, incluindo diferentes forças de segurança, para lidar com emergências de caráter civil.
Javid teve ainda contactos com os serviços de informação e a polícia de combate ao terrorismo e adiantou que a operação em Amesbury já envolve mais de uma centena de agentes de segurança.
O ministro indicou que, tendo em conta o reduzido número de vítimas, o risco para a saúde pública é reduzido, aconselhando apenas que as pessoas que frequentaram seis locais atualmente protegidos por um perímetro de segurança para lavarem a roupa e limparem objetos pessoais.
Respondendo à hipótese de que este caso poderia ter sido o resultado de uma limpeza ineficiente da cidade após o primeiro incidente, o ministro referiu que nenhuma das duas vítimas “visitou qualquer dos locais frequentados pelos Skripal”.
“Todos os locais que foram descontaminados após a tentativa de homicídio de Yulia e Sergei Skripal são seguros. Todos os locais que foram reabertos foram submetidos a testes e quaisquer objetos que pudessem conter vestígios residuais do agente [neurotóxico] foram removidos com segurança para serem destruídos”, garantiu.
Referindo-se ao ataque aos Skripal, Javid desafiou o Kremlin a explicar o que se passou, alegando não existir “explicação plausível para os eventos em março a não ser que o Estado russo foi responsável”.
O Governo britânico manifestou-se pronto a responder quando forem mais claras as circunstâncias deste ataque, recordando a resposta coordenada no início deste ano que resultou na expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido e cerca de 150 outros por ordem de 88 países aliados.
O ministro prometeu ainda tornar públicas provas e factos quando estiverem disponíveis para combater uma campanha de desinformação “que já começou nas redes sociais”.
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