O poema "O Tigre", de William Blake, poeta inglês e uma das bandeiras da literatura romântica, que faz parte de "Canções de Inocência e de Experiência", é talvez um dos poemas mais traduzidos e conhecidos da língua inglesa. E, tal como os tigres, já tem um certo tempo por cá — a coleção data de 1794.

"Tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?"

[Tradução: MOURA, Vasco Graça. "Laocoonte, rimas várias e andamentos graves". Lisboa: Quetzal Editores, 2005.]

Esta é apenas uma das várias traduções da primeira estrofe que é possível encontrar, mas é talvez aquela que melhor capta a essência do original de Blake. E a essência neste caso é importante porque o animal assim o exige, ou não se estivesse a falar de uma criatura que desperta diferentes sentimentos. Uns olham-no como símbolo de poder e força, outros olham-no com receio. No entanto, há um sentimento que não parece ter lugar na sua caracterização: a indiferença.

Se assim não fosse, a lista de tigres famosos não seria tão extensa — independentemente da sua origem, seja em filme, na literatura ou até numa marca de cereais. Os exemplos multiplicam-se. À cabeça vem quase de imediato o imponente Richard Parker de "A Vida de Pi" ou o antagonista Shere Khan do "Livro da Selva", sem desfocar o divertido Hobbes de "Calvin e Hobbes", o Tigger da Disney, mas que originalmente foi introduzido nas séries de "Winnie-the-Pooh", ou a mascote dos cereais da Kellogg’s, Tony the Tiger. Ah, e também há Rajah de "Aladin". No fundo, as referências são também geracionais.

Todavia, mais antiga até que o poema escrito ou os tigres das fábulas, é a bela criatura laranja às riscas que os inspira: fazendo jus à descoberta de uma equipa de paleontologistas em 2004, as grandes almofadas das suas patas pisam a Terra há 2,5 milhões de anos.

O britânico Jonathan Jones, crítico de arte e jornalista do The Guardian, escreveu que nenhum outro poema traduz com tanta precisão a nossa relação com a natureza como este que se debruça sobre o mítico e majestoso felino. Jones diz que Blake "combina um retrato infantil do mais bonito e perigoso dos gatos com versos que contemplam a criatura". E diz que para o autor não é a sua beleza mas sua ferocidade que o torna "num milagre da natureza" — um milagre que pode estar bem perto da extinção no seu habitat natural se nada mudar. 

E os números fazem soar alarmes. De acordo com as estimativas da World Wildlife Fund (WWF), uma das principais organizações não-governamentais de conservação da natureza, no século XX a população de tigres selvagens em território asiático rondava os 100.000. Hoje, o cenário é bem diferente; os dados apontam para menos de 4.000. E é sobre números e sobre esta realidade que assenta o documentário "Tigerland", exibido a 1 de abril, no Discovery Channel. 

O filme é de Ross Kauffman e segue na linha dos seus trabalhos anteriores (co-realizou "Born Into Brothels: Calcutta's Red Light Kids", vencedor do Óscar em 2004, e assinou "E-Team", disponível na Netflix, juntamente com a realizadora Katy Chevigny). Também aqui, Kauffman apela a uma maior consciencialização, a que se olhe mais para aqueles que necessitam de ajuda. O seu primeiro documentário aborda o mundo da prostituição infantil em Calcutá, na Índia. O seu sucessor segue um pequeno grupo de pessoas que investigam e lutam pelos Direitos Humanos em partes críticas do globo, onde a liberdade de expressão dá direito a condenação. Finalmente, no seu terceiro filme, Kauffman (a solo na realização) vira a lente para uma espécie em vias de extinção e para os humanos que a estão a tentar salvar.

Mais do que um documentário, um alerta

"Tigerland" conta a história de dois homens separados por milhares de quilómetros e meio século de vida. O filme segue Pavel Fomenko (atual diretor de espécies raras da World Wildlife Fund na Rússia) e escrutina o trabalho de vida de Kailash Sankhala (pela voz do neto Amit Sankhala), figura conhecida nestas andanças dos Homem-Tigre. Alternando entre uma e outra perspetiva, não se coíbe de mostrar aquilo que os une: o seu amor pelos felinos e a sua determinação em salvar a espécie, numa autêntica ode de conservação da natureza.

Isto porque o documentário ilustra não só a relação que os humanos mantêm com os tigres e que tem sido objeto de numerosos mitos, contos e de obras de arte, mas acima de tudo porque mostra os esforços realizados por Kailash Sankhala na Índia e Pavel Fomenko na Rússia para tentar que a população de tigres não continue num preocupante declínio. 

Regressando a William Blake,  o poeta era um romântico — sendo que o tigre é a besta romântica perfeita. O Jones diz que para Blake os tigres são totalmente selvagens e temíveis — algo que define precisamente aquilo que na natureza os humanos não podem domar, mas que também não podem tratar com indulgência. "O poeta faz-nos ver o quanto de nós perderíamos se ficássemos sem o tigre — a sua existência preenche a necessidade da imaginação humana; um tigre na mente", escreve o jornalista do The Guardian. 

Um predador fascinante

São animais selvagens no seu core. São caçadores por natureza, perigosos e letais. No entanto, não conseguimos evitar sentir um certo fascínio por eles. São dos animais mais reconhecidos e existe uma aura de misticismo que lhes associamos quase de pronto. Além disso, ainda são primos afastados dos bichinhos adoráveis que muitos de nós temos no lar e que "viralizam" na Internet. 

"Acho que os felinos são aqueles [animais] que mais me fascinam. Em primeiro lugar porque temos há muitos anos um felino em nossa casa que é o gato. Os tigres — e os outros felinos — tem um comportamento muito semelhante. No caso dos tigres, estamos a falar do maior de todos felinos. É um animal que tem uma capacidade fantástica de sobrevivência. Se pensarmos bem, uma grande parte dos animais vive em grupo, mas o tigre é um grande felino que vive solitário", começa por explicar ao SAPO24 Tiago Carrilho, biólogo de formação e que trabalha no Jardim Zoológico de Lisboa.

Carrilho, cuja função é fazer a coordenação dos programas educativos escolares, visitas guiadas ou acompanhar trabalhos académicos, diz que tem em mãos uma missão semelhante àquela de Kailash Sankhala e Pavel Fomenko: sensibilizar as pessoas para conservação da natureza e dar voz àqueles que não podem falar, ou seja, os animais. Em suma, a sua função no Zoo é mostrar não só às pessoas a importância que os animais têm, como informar sobre as suas características e capacidades.

"Estamos a falar de um animal que consegue caçar em terra, na água, que consegue nadar, consegue saltar três vezes a sua altura — o que é absolutamente extraordinário se pensarmos que é um animal que pode chegar aos 300 kg de peso e consegue saltar até 7 metros. Há medida que vamos sabendo todas estas características o fascínio vai crescendo em nós. Estamos a falar de um felino que vive numa grande variedade de habitats; um tigre pode ir desde a montanha, à floresta, à estepe. Portanto, isto tudo nos remete para um grande predador e isso é fascinante para todas as pessoas. Quando chegam aqui ao Jardim Zoológico, é logo das primeiras perguntas que fazem: onde é que está o tigre?, conta-nos.

Fascínio que nos remete para a pergunta: então e o Tigre Branco? Tigre Branco é sinónimo de Tigre da Sibéria? Não. O Tigre da Sibéria não é branco e o tigre branco não é uma subespécie, mas sim um espécime raro, fruto de uma mutação dos genes. É uma questão mais frequente do que se pensa. Carrilho esclarece:

"Passa-se com o tigre branco a mesma coisa que se passa na nossa espécie. Nós temos pessoas de olhos castanhos, pessoas de olhos azuis e pessoas de olhos verdes. Ou seja, o que aconteceu aqui foi que há muitos anos atrás houve uma mutação e nasceu um tigre branco. Mas qualquer uma das cinco subespécies (Tigre de Bengala, Tigre Indochina, Tigre da Sibéria, Tigre da Sumatra ou Tigre do Sul da China) pode ser branco. [É raro porque] o gene laranja é dominante em relação ao branco. Portanto, quando se cruza um [tigre] laranja com um branco há uma maior probabilidade de [a cria] sair laranja", revela.

"É como cá em Portugal, onde há muito mais pessoas de olhos castanhos do que de olhos claros porque o castanho é dominante. Não há propriamente nenhuma subespécie ou espécie que seja toda ela branca. Foi uma mutação que aconteceu e que naquela altura fez com que fosse branco", conta o nosso guia do Zoo. 

Porém, a viver na natureza, é uma desvantagem. "É que o branco é muito difícil de camuflar." 

"Os tigres quando nascem brancos normalmente até têm uma longevidade mais curta porque não se conseguem camuflar tão bem. Não há nenhum tigre que viva todo o ano na neve. De facto, o Tigre da Sibéria é o que tem mais contacto com a neve, mas só durante o inverno, porque quando chega a altura da primavera e do verão vive em florestas que ficam completamente verdes. E nessa altura é uma desvantagem em termos de camuflagem, daí a variação branca não ser favorecida pela natureza. Enquanto o laranja se consegue camuflar perfeitamente, o branco não", finaliza.

Uma tigre de bengala, nascida em cativeiro no Chile, com uma das suas crias. A fotografia é do dia 30 de outubro de 2018. créditos: Cris BOURONCLE / AFP

A luta de Kailash Sankhala e de Pavel Fomenko

Mas não é só a cor que prejudica ou ameaça o tigre no seu habitat habitual. Aliás, os números não são fáceis de absorver, mas ajudam a perceber porque que existem poucos tigres a viver em estado selvagem. Mas há quem tente contornar essa realidade e não desista da figura mítica que inspirou William Blake. No documentário "Tigerland" ficamos a conhecer a história do indiano Kailash Sankhala, figura bem conhecida na Índia e que lidou de perto com a espécie e lutou pela sua conservação desde a segunda metade do século passado.

Sankhala foi uma das principais figuras a tentar aumentar a consciência social sobre o declínio dos tigres no seu país, numa altura em que caçar este animal na Índia era encarado como desporto, uma tradição que remonta ao tempo das colónias britânicas do século XIX. Contudo, a caça desportiva não é o único fator que prejudica a conservação dos tigres — há que considerar a venda no mercado negro ou o uso de algumas partes do corpo na medicina tradicional oriental.

A luta de Kailash Sankhala é-nos relatada pelo neto Amit, que continuou a missão iniciada pelo avô, após a sua morte, em 1994. Porém, não é o único familiar envolvido. Também através de Jai Bhati, sobrinho de Amit e bisneto de Sankhala, um rapaz que desde bem pequeno opta por passar o seu tempo nas florestas que os seus antepassados lutaram para proteger. E parece não existir dúvida: tanto Amit como Bhati herdaram a perseverança de Sankhala e querem continuar a trabalhar no seu legado.

A influência e determinação de Kailash Sankhala são irrefutáveis, ele que conseguiu convencer a primeira-ministra Indira Gandhi (no cargo por duas vezes, em 1966-77 e 1980-84, ano em que foi assassinada) abraçar a causa da preservação dos tigres e na criação de reservas protegidas. Contudo, há quem, à data de hoje, desempenhe um papel semelhante bem longe da Índia. 

Na Rússia, Pavel Fomenko tem trabalhado nas últimas décadas para salvar o Tigre Siberiano (também conhecido por Tigre Amur), no Extremo Oriente do país. "Tigerland" mostra o trabalho de Fomenko enquanto responsável para a Conservação de Espécies Raras do WWF.

Em 1991, com a dissolução da União Soviética (URSS), a crise, a falta de emprego e a precariedade acentuaram a caça aos tigres como maneira de sobrevivência e sustento familiar — que resultou numa redução drástica da espécie. Desde então que Fomenko e o seu departamento têm como missão salvar os tigres que andam fora das áreas protegidas. O britânico The Guardian publicou uma reportagem fotográfica que permite ver um pouco do seu trabalho diário, onde se inclui o trabalho moroso de investigação.

"Fazer investigação com animais é uma coisa que demora muitos anos. Gostei dessa parte — talvez porque venho da área da biologia — e sinto que é uma ideia que muitas vezes as pessoas não têm: estudar um animal não é só chegar lá, ver e pronto. Não, não é assim. E acho que o documentário passa muito dois pontos; um, é esse, em termos científico, há muito trabalho para ser feito. E depois passa uma grande mensagem de conservação", diz Tiago Carrilho do Jardim Zoológico de Lisboa. 

"É uma espécie que toda a gente reconhece. Há espécies sobre as quais falo aqui no Jardim Zoológico e ninguém conhece, mas o tigre não. Um miúdo com 3 ou 4 anos, falas-lhe do tigre e ele já tem uma ideia. E o documentário mostra que se [com tanto reconhecimento] não estamos a conseguir proteger esta espécie, tem de acontecer qualquer coisa", conta.

"Vamos tentar de alguma forma acordar e perceber que este animal precisa de ser protegido. E temos que os proteger não porque eles parecerem mais fofinhos [do que outros animais], mas porque percebemos a importância deles. Temos que os proteger pela natureza deles. Nós não podemos querer protegê-los por achar que têm uma natureza parecida com a nossa. Eles têm a natureza deles", salienta.

créditos: Pixabay

A vida de um tigre no Zoo

Quem lá trabalha sabe que a vida de um tigre num Jardim Zoológico não é certamente aquela que teria no seu habitat natural, mas os responsáveis tentam replicar em parte as condições em cativeiro. E, assegura Tiago Carrilho, os cuidados agora são bem diferentes daqueles que se tinham no passado. 

"Nós tentamos aqui no Jardim dar o maior conforto à espécie e fazemos aquilo que se chama o enriquecimento ambiental. [Isto é], permitir que os tigres que estão e que vivem aqui no Jardim possam ter os seus comportamentos naturais. Se olharmos aqui para a sua instalação, pomos vários tipos de terreno para ele escolher onde se vai deitar, pomos a carne pendurada no topo de troncos no meio da instalação para ele dar uso aos seus músculos — os mesmos que usaria se tivesse caçar no seu habitat", exemplifica Tiago Carrilho. 

Mas se quando visita este espaço está à espera de grande atividade durante a tarde ou final da manhã por parte dos tigres, é uma esperança que não deve ser alimentada. É só natural que pareçam que estão meio adormecidos — é que estão de facto. 

"O tigre é um animal que pode dormir até 16 horas. São muito mais ativos à noite, por exemplo. Quando chega àquela hora mais crepuscular é aí que começa a ficar mais ativo", explica. 

Mas não se iluda, porque este gato 'molengão' de grande porte tem a mesma agilidade que o seu de casa. 

tigre
créditos: DMITRY MEZENTSEV / PRIMORYE SAFARI-PARK / AFP

"Outro comportamento interessante do tigre é que tem uma agilidade muito semelhante àquela dos felinos mais pequenos. No caso do Tigre da Sibéria, apesar de ser o maior, como é um animal que vive numa zona montanhosa, tem uma capacidade bastante boa de trepar. Reparem, estamos a falar de um animal que tem 2,50 m de comprimento e pesa 300kg e consegue manter a mesma agilidade que um felino que é bastante mais pequeno", explica-nos Tiago. 

De resto, há várias subespécies. Mas quais podemos ver em Lisboa? Precisamente o maior e o mais pequeno tigre.

"Cá no Jardim temos duas subespécies distintas. O Tigre da Sibéria, que é o maior de todos os tigres, que vive no sul da Rússia. [Aliás], neste momento até já há quem lhe chame o Tigre de Amur porque ele já só vive praticamente no vale do rio Amur e antigamente estendia-se por toda a região. Depois, temos o Tigre da Sumatra que é o mais pequeno de todos os tigres. Ou seja, nós aqui no Jardim temos as duas subespécies: a mais pequena e a maior", diz Tiago, antes de explicar as diferenças entre elas. 

"A distinção faz-se muitas vezes pela cor do pelo. No tigre da Sumatra a cor é um bocadinho mais intensa e não tem o pelo tão comprido como o da Sibéria — que tem a ver um pouco onde este vive, nomeadamente em florestas de pinheiros, montanhas rochosas, estepes. No caso do Tigre da Sumatra, vive mesmo no meio da floresta tropical, daí ter o pelo mais curto, porque não faz tanto frio. O Tigre da Sumatra vive numa temperatura mais constante pelo que tem o pelo mais curtinho. Ele próprio é mais pequeno porque vive numa zona onde a vegetação é mais densa e para conseguir sobreviver e movimentar-se foi vantajoso ficar mais pequeno ao longo da evolução. Mas são duas subespécies completamente diferentes. Depois existem outras três subespécies que não existem cá: o Tigre de Bengala, o Tigre Indochinês e o Tigre do Sul da China — este o mais ameaçado", conta. 

Sundance 2019
Ross Kauffman créditos: Joe Scarnici/Getty Images for Discovery Channel/AFP

Tigerland, a continuação de um projeto

O documentário esteve em competição no Festival de Sundance. E lá o realizador explicou que quis contar a história de uma maneira diferente, única. Foi por isso que escolheu colocar o foco na beleza e misticismo dos tigres ao invés da caça furtiva. E a melhor maneira de o fazer seria encontrar pessoas que realmente se importassem com a espécie. Foi durante esse processo que acabou por encontrar as vidas de Kailash Sankhala e de Pavel Fomenko.

"Descobrimos-las e pensámos: 'estas são duas grandes histórias — uma no passado, outra no futuro. E que maneira melhor poderíamos encontrar para mostrar a progressão não só do resgate dos tigres, mas da sua conservação em geral?", questionou.

O filme de Kauffman pode dizer-se que está dividido em duas partes; a primeira, mais poética e visual (as animações são belíssimas e são do realizador português Daniel Sousa, conhecido por ser responsável por "Feral", curta-metragem de animação que esteve nomeada na respetiva categoria para os Óscares, em 2014), alerta para os números alarmantes que assolam a espécie com recurso à voz-off; a segunda, já mais mexida e mais centrada na luta dos dois protagonistas.

Com imagens tocantes, embora a história vivesse por ela própria, a par de arquivo e entrevistas que ajudam a construir a narrativa, quer dos tigres quer dos protagonistas que lhes dão voz. O objetivo último é alertar para a urgência de atuar rápido, afim de evitar que mais subespécies entrem em vias de extinção no seu estado selvagem. Mensagem que Tiago Carrilho considera ser válida.

De resto, "Tigerland" nasce através do Projeto C.A.T — Conserving Acres for Tigers (que o grupo Discovery lançou em 2016 juntamente com a WWF) e que agora expandiu através deste filme.

"Em 1900 haviam 100.000 mil tigres. Neste momento tens 4.000, isto é uma brutalidade. Passaram 100 anos. Dou um exemplo daquilo que acontece aqui no Jardim Zoológico: quando mostramos o número de tigres que existe atualmente ficamos com aquele choque, porque é um animal que desperta paixões. O olhar, o pelo laranja, o porte, a capacidade física... Acho que o tigre, dos muitos animais que possas ter, é das maiores bandeiras de conservação que temos", finaliza.

A compilação "Canções de Inocência e Experiência" de William Blake são dois conjuntos de poemas ilustrados que mostram "os Contrastes da Alma Humana": a versão infantil e pura contra o irritado e desiludido. A primeira estrofe está no início, mas termina da seguinte forma.

de que abismo ou céu distante
vem tal fogo coruscante?
que asas ousa nesse jogo?
e que mão se atreve ao fogo?

que ombro; arte te armarão
fibra a fibra o coração?
e ao bater ele no que és,
que mão terrível? que pés?

e que martelo? que torno?
e o teu cérebro em que forno?
que bigorna? que tenaz
pro terror mortal que traz?

quando os astros lançam dardos
e seu choro os céus põem pardos,
vendo a obra ele sorri?
fez o anho e fez-te a ti?

tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?

A canção da inocência é "O Cordeiro" e a sua contra-parte é "O Tigre". E nela Blake questiona como é que Deus criou ambas as criaturas: uma doce e gentil, outra feroz e arrojada. De resto, foi uma inquietação que chegou a inspirar músicas de Joni Mitchell e dos Tangerine Dream.

"Tigerland" tenta inspirar da mesma forma, mas com o foco numa mensagem: não há mais tempo a perder.