Intitulado de Tikvá, que significa esperança em hebraico, o Museu Judaico de Lisboa vai situar-se em Belém, com uma área de construção bruta de 3.869 metros quadrados, e será desenvolvido pelo arquiteto Daniel Libeskind, que desenhou os museus judaicos de Berlim, São Francisco e Copenhaga, bem como os memoriais do Holocausto nos Países Baixos, no Canadá e nos Estados Unidos.
O Tikvá - Museu Judaico Lisboa vai permitir "retratar a história da presença judaica no território que é hoje Portugal, nomeadamente em Lisboa, partilhando o contributo dos judeus e mostrando que a história e a herança judaica são parte indissolúvel da História do país, pretendendo preservar e divulgar a memória e a vivência judaica e valorizando as diferenças culturais, promovendo, assim, a integração inter-religiosa", pode ler-se em comunicado de imprensa divulgado.
O museu vai contar a história dos judeus portugueses, que data da época romana, que continuou com os visigodos e com os muçulmanos, e “até à criação da nação portuguesa e que perdura até hoje”, indicou Esther Mucznik, presidente da Associação Hagadá, responsável pela criação, instalação e gestão do Museu. Olhando para a história, Esther considera que a longevidade e pluralidade de culturas dão “um caráter muito específico e muito peculiar ao judaísmo português”.
Com largos períodos de escuridão, desde o édito de expulsão ao batismo forçado, inclusive quase três séculos de Inquisição, o museu não vai deixar de contar esses momentos, mas o foco vai ser "a parte luminosa" na história da comunidade judaica, nomeadamente entre os séculos XII e XV, num “período em que os judeus mais contribuíram para a nação portuguesa”, apontou a presidente da Associação Hagadá, destacando as conquistas na medicina, na ciência, na astronomia, na matemática, nos descobrimentos portugueses, na cultura, na filosofia e na impressão — o primeiro livro impresso em Portugal foi o Pentateuco.
“Esse aspeto é o mais desconhecido da população portuguesa e da população em geral, da população estrangeira também, e é desconhecido porque foi apagado, foi erradicado da memória coletiva e queremos trazê-lo ao presente também, porque marcou o país que hoje somos”, reforçou Esther Mucznik, deixando a mensagem de que são os períodos de liberdade e de convivência que permitem a inovação, a criatividade e o contributo de todas as pessoas.
Além da história, o museu vai ter presente a cultura e a tradição judaica, porque “a pluralidade de culturas é uma riqueza para um povo e para uma nação”, frisou.
“Claro que vai ser uma mais-valia para a comunidade judaica nacional e internacional, mas o museu dirige-se sobretudo aos não judeus, às pessoas que não conhecem suficientemente a nossa cultura, a nossa história, isto é um museu português, um museu que conta a história dos homens e das mulheres que ajudaram a fazer Portugal”, expôs Esther Mucznik.
A cerimónia do protocolo, num dia marcado pela história
Na assinatura do protocolo, que se realizou hoje por ser uma data simbólica – 31 de março –, em que se celebra o segundo centenário da abolição do Tribunal da Inquisição, passo fundamental para a abertura do caminho da liberdade, a presidente da Associação Hagadá, Esther Mucznik, disse que o acordo estabelecido “é o início, abre o caminho, um caminho que nem sempre foi fácil, para a criação do Museu Judaico de Lisboa”.
Na cerimónia de assinatura do protocolo, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, lembrou ainda as vicissitudes para a concretização do Museu Judaico de Lisboa, nomeadamente que, quando foi aprovada a celebração da atribuição do terreno e do acordo financeiro relativamente à construção do museu, o executivo aprovou também uma terceira decisão para transformar o local que esteve previsto para o anterior museu em Alfama num memorial ao povo judaico, “não permitindo ali a edificação de mais nenhum edifício”.
“Para que não sobrem dúvidas de que os percalços são mesmo percalços e que se afirma nesta decisão também aquilo que queremos no fundo afirmar de uma cidade aberta livre e tolerante”, declarou.
Além disso, para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a criação do Museu Judaico de Lisboa “é uma afirmação política” de uma cidade “aberta, livre e tolerante”.
“Uma afirmação política muito clara neste tempo que vivemos, que Lisboa é, continuará a ser e vai se bater pelas forças da liberdade, da inclusão, da diversidade cultural, da convivência das culturas e do respeito mútuo, como elemento chave de uma sociedade digna”, afirmou Fernando Medina, referindo que se está a assistir em muitos locais do mundo ao ressurgimento de forças que há muito deviam estar colocadas para trás da história.
Considerando que “não há decisões na política cultural que não tenham um significado político”, o autarca manifestou alegria no protocolo para a criação do Museu Judaico de Lisboa, um projeto que vai permitir dar a conhecer a história milenar da comunidade judaica, realçando que o passado mostra que a cidade “era próspera porque era aberta” a múltiplas culturas.
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