“Em Oecusse, no arranque, tivemos mais do que o dobro do primeiro comício, na primeira volta. Vemos a determinação das pessoas na região, onde a Fretilin e a campanha de [Francisco Guterres] Lú-Olo está mais isolada”, afirmou Ramos-Horta à Lusa.

“Estive por lá dois dias, dei a volta pela cidade e quase não se viam bandeiras da Fretilin, um quase repudio total à Fretilin”, disse, referindo-se ao partido que apoia a candidatura do seu rival na segunda volta, Lú-Olo.

Ramos-Horta disse que a população de Oecusse teceu várias críticas à administração regional — que tem sido controlada por quadros da Fretilin -, inclusive “queixas de que indemnizações por expropriação de terras não foram pagas”.

“Fora da capital também não houve quase qualquer construção de infraestruturas”, disse ainda.

Ramos-Horta explicou ter ficado igualmente surpreendido no domingo, em Liquiçá, a oeste de Díli, onde estavam previstos apenas pequenos diálogos com a comunidade e acabou por haver uma concentração de “quase 2.000 pessoas”.

“São números grandes e que contrastam com a reduzida participação nos comícios de Lú-Olo em Gleno e Suai”, considerou.

Manifestando confiança numa vitória ampla na segunda volta, marcada para 19 de abril, José Ramos-Horta disse que a campanha do atual chefe de Estado ser]a penalizada pela participação do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.

“Taur Matan Ruak está desacreditado, sobretudo pelas sequelas de 2006. Ele vangloria-se de ser o único general do mundo que teve coragem de expulsar 600 militares, o que depois resultou no grande conflito sangrento de Díli”, afirmou.

“Em 2012, quando se candidatou com o apoio de Xanana Gusmão, e por causa de Xanana Gusmão, o assunto não foi tocado, mas desta vez, com Taur Matan Ruak a atacar-me a mim e a Xanana Gusmão, sente-se o efeito contrário”, disse Ramos-Horta.

O ex-Presidente explicou que vai fazer grande parte da sua campanha em diálogos comunitários, a nível local, com menos comícios, explicando que o objetivo é ter acesso mais próximo a populações “que se têm sentido muito abandonadas”.

“Durante este mandato do Governo e do Presidente, eu andei pelo país todo e percorri os bairros de Díli. Nem o Presidente nem o primeiro-ministro fizeram isso. Ficaram nos seus palácios”, disse.

Ramos-Horta venceu a primeira volta das presidenciais com 303.477 votos (46,56%), à frente de Lú-Olo com 144.282 votos (22,13%), numa corrida em que participaram ainda 14 outros candidatos.

Na primeira volta votaram 664.106 dos 859.613 eleitores inscritos, com a abstenção a cair face ao voto de 2017, para 22,74%.

A campanha decorre até 16 de abril e a votação está marcada para 19 de abril.