“A construção do futuro do nosso país é uma causa nacional que nos deve mobilizar a todos, sem exceção”, afirmou José Ramos-Horta, no Palácio Presidencial, nas comemorações dos 20 anos da restauração da independência de Timor-Leste.
“Tal como no meu anterior mandato, exercerei as mais altas funções de Estado em espírito de permanente abertura ao diálogo e inclusão — símbolos maiores da Democracia”, frisou.
Depois da cerimónia do içar da bandeira nacional, o momento mais solene das comemorações, comprometeu-se com a salvaguarda dos valores constitucionais, insistindo na necessidade da mobilização coletiva.
“Para que, nos próximos cinco anos, juntemos esforços concertados na construção de uma melhor democracia: mais ética, mais transparente, mais justa, mais próxima e mais inclusiva”, disse.
Na persecução desse objetivo, comprometeu-se ao diálogo com os outros órgãos de soberania, partidos com e sem representação familiar, autoridades religiosas, sociedade civil, comunidades locais e cidadãos.
Esta, insistiu, é “a melhor forma de cultivar e reforçar, junto das instituições e do povo timorense, os valores que caracterizam um regime democrático aberto”, conseguindo responder ao importante desafio de “mobilização da vontade” coletiva dos cidadãos nacionais em prol do desenvolvimento.
“A resposta a este desafio encontra-se numa palavra: mobilização. Só com a mobilização intensa de todos os cidadãos para a participação em objetivos estratégicos nacionais é que poderemos responder ao conjunto de desafios que o nosso país enfrenta. Aqui a qualidade humana da liderança nacional fará toda a diferença”, enfatizou.
Horas depois de tomar posse, Ramos-Horta recebeu hoje no Palácio Presidencial — a que voltou 10 anos depois – representantes de dezenas de países, incluindo o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa.
Um momento, disse, que quis dedicar primeiro aos timorenses e aos seus amigos, deixando uma “sentida homenagem de eterna gratidão aos heróis nacionais e sobretudo ao povo simples, anónimo, que tudo sofreu e tudo deu, com enorme sentido de sacrifício e coragem, resistiram pela libertação nacional”.
Recordando a luta contra a ocupação indonésia, Ramos-Horta celebrou a solidariedade internacional em torno à causa timorense, agradecendo o “apoio generoso” dado pelos países que apoiaram a luta pela autodeterminação.
Sublinhando e enaltecendo o apoio continuado dos parceiros do país nos 20 anos desde o momento em que, na noite de 19 para 20 de maio de 2002, Timor-Leste foi reconhecido oficialmente como país.
Ecoando mensagens que vincou durante a sua campanha, e especialmente desde que foi eleito, o Nobel da Paz voltou a destacar a importância da “unidade e comunhão” do povo e dos líderes do país durante a luta, considerando essa a receita para o futuro.
“Só em plena unidade conseguiremos construir o futuro do país com que sempre sonhámos”, disse, destacando vários dos nomes maiores da luta, incluindo Nicolau Lobato, Xanana Gusmão e Francisco Guterres Lú-Olo.
Tal como no seu discurso de tomada de posse, na noite de quinta-feira, Ramos-Horta voltou a não se referir à Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) nem ao seu líder, Mari Alkatiri, um dos ausentes das cerimónias de investidura.
Xanana Gusmão também não esteve na tribuna de honra, com imagens a circular nas redes sociais que indicam que esteve, pelo menos durante parte da cerimónia de quinta-feira junto à população, mantida atrás de uma vedação colocada longe das tribunas de honra.
Mensagens ainda de agradecimento às confissões religiosas, cujo papel “inspira e incentiva a contribuir cada vez mais para a paz e a fraternidade humana, condições incontornáveis para o desenvolvimento e bem-estar geral”, e ao papel “crucial” das Nações Unidas na construção do Estado.
Considerando a conquista da independência “uma vitória de paz”, comprometeu-se a aprofundar as relações com a Indonésia, “nação irmã, amiga, solidária, que soube com elevado sentido de história receber Timor-Leste na nova condição de país soberano, seu vizinho e amigo”.
Destacou igualmente as “relações de boa vizinhança e amizade com a Austrália e a Nova Zelândia” e Portugal, de quem recordou os “laços seculares”, saudando a presença no país de Marcelo Rebelo de Sousa.
*Por António Sampaio (Texto) e António Cotrim (Fotos), da agência Lusa
Comentários