"Estas pessoas [imigrantes] por vezes são aliciadas, com promessas vantajosas, através de anúncios na internet. A região Sul do país é muito carenciada em mão-de-obra. Com um trabalho duro e exigente, os imigrantes mais desfavorecidos acabam por ser aproveitados. Estas denúncias chegam através de pessoas que vêm alguma coisa estranha. Nunca são os próprios a vir queixar-se, pois há um aspeto de intimidação muito grande. Há uma pressão psicológica e física muito grande", explicou Manuela Santos Diretora da Unidade Nacional Contraterrorismo da Polícia Judiciária.

A inspetora disse ainda que os trabalhadores ganhavam entre 100 e 250 euros por mês, quando lhes prometiam “800, 900, mil ou mais”. Segundo a responsável, o que lhes explicavam é que a diferença “ficava retida” para pagamento do alojamento, alimentação e transporte.

"Foram encaminhadas 16 vítimas para a Segurança Social", acrescentou Manuela Santos, informando que pelo menos uma centena de imigrantes estava a ser vítima de exploração em propriedades agrícolas.

"A região da nossa intervenção de hoje foi a zona de Cuba, Ferreira do Alentejo, onde existem várias explorações agrícolas. Normalmente como estas explorações são muito grandes e assim albergam vários trabalhadores. Notámos pessoas em condições com falta de higiene, uma casa de banho para 20 pessoas. São condições deploráveis", elucida Manuela Santos.

Questionada sobre a forma de erradicar estes fenómenos criminais, Manuela Santos admitiu que tal “será muito difícil nos próximos anos, uma vez que é uma atividade que gera muitos lucros”.

“Estas operações são uma pedrada no charco, mas não temos a pretensão de acabar com este fenómeno. Este fenómeno dificilmente será erradicado, principalmente nos próximos anos”, ressalvou.

Os cidadãos imigrantes, na sua maioria, eram “aliciados nos seus países de origem, como Roménia, Moldávia, Ucrânia, Índia, Senegal, Paquistão, entre outros, para virem trabalhar em explorações agrícolas naquela região do nosso país”, indicou a PJ.

De acordo com a PJ, os suspeitos, de nacionalidade portuguesa e estrangeira, estão indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, extorsão, branqueamento de capitais, fraude fiscal, ofensas à integridade física, posse de arma de fogo e falsificação de documentos. Os detidos vão ser presentes a primeiro interrogatório judicial, na quarta-feira, para aplicação de eventuais medidas de coação.

Segundo perspetivou Manuela Santos, os suspeitos deverão ficar sujeitos à medida de coação de prisão preventiva, a mais gravosa, à semelhança daquilo que aconteceu numa operação semelhante ocorrida no ano passado.

De recordar que hoje, a PJ desmantelou uma estrutura criminosa organizada que se dedicava à exploração de trabalhadores imigrantes no Baixo Alentejo, numa operação em que foram detidas 28 pessoas.

Em comunicado publicado na sua página de Internet, a PJ indicou que a operação foi desencadeada pela Unidade Nacional de Contra Terrorismo desta polícia, no âmbito de dois inquéritos titulados pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora. Esta operação policial, salientou, decorreu em várias cidades e freguesias do Baixo Alentejo e envolveu cerca de 480 operacionais da PJ, que deram cumprimento a 78 mandados de busca domiciliária e não domiciliária.

*Com Lusa.