"Confiei porque estava há muito tempo desempregado. Vi isto como um furo e facilitei para causar boa impressão e agarrar o trabalho", afirmou o mestre do barco ao coletivo de juízes que preside ao julgamento.
A apreensão da droga, transportada no interior de um pesqueiro português no mar Mediterrâneo, ocorreu em novembro de 2014, no âmbito da operação "Adiada" e resultou de uma investigação de combate ao tráfico internacional de haxixe tutelada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que decorria há vários meses.
O caso chega à barra dos tribunais por decisão do juiz de instrução Carlos Alexandre que, num documento com 287 páginas, confirma a acusação do Ministério Público (MP).
Hoje, compareceram em tribunal oito de 11 arguidos, sendo que dois não foram notificados e vão responder num processo separado e outro autorizou o julgamento na ausência por se encontrar na Guiné-Bissau e "não ter possibilidades económicas para se deslocar a Portugal".
Dos oito arguidos presentes no tribunal, cinco encontram-se em prisão domiciliária e dois em prisão preventiva, sendo um deles o principal suspeito neste caso.
O homem de 61 anos, natural do concelho de Caminha e desde 1989 também com nacionalidade espanhola, é acusado e pronunciado pela prática, em coautoria material e em concurso real, de um crime de tráfico de estupefacientes agravado, de um crime de associação criminosa, e ainda, em autoria material, de um crime de branqueamento, um crime de falsificação, e um crime de incêndio.
Hoje, o mestre da embarcação onde seguia a droga, que pediu para falar ao tribunal sem os restantes acusados presentes na sala de audiência, solicitação atendida pelo MP por considerar o seu testemunho "indispensável para a descoberta da verdade", referiu ter sido confrontado com a transação de droga, já no decurso da mesma, quando julgava estar a conduzir o barco, adquirido pelo principal arguido, até ao porto de Cartagena (Espanha), para ser reparado.
"Dois dias depois de o barco [registado em Viana do Castelo] ter saído do porto de Vigo (Galiza), a 56 milhas a oeste do porto de Lisboa foi-me dito que o destino não era Cartagena mas Marrocos para um carregamento de haxixe, em alto mar", sustentou.
Argumentou que a partir daquele momento se sentiu "vigiado, com medo e coagido a fazer o que lhe mandavam", apercebendo-se que se tratava de "gente perigosa" que possuía "armas nos camarotes".
Acrescentou que durante o carregamento dos "793 fardos de droga", que demorou cerca de duas horas e meia, manteve-se na ponte de comando da embarcação e que quando aquela foi intercetada pelas autoridades pelas autoridades espanholas a pedido da Polícia Judiciária (PJ), o principal arguido no processo "mandou deitar fogo ao barco".
O principal arguido, foi detido em fevereiro de 2015, em Marrocos, em cumprimento de um mandado de detenção internacional, tendo sido, depois, extraditado para Portugal onde está preso preventivamente desde o dezembro desse ano, no estabelecimento prisional da PJ de Lisboa.
Questionado pelos jornalistas, o advogado do principal arguido manifestou-se confiante na absolvição e adiantou que o seu constituinte irá depor "na altura que entendermos a mais indicada, até porque é o primeiro interessado em querer esclarecer todos os factos pelos quais se encontra pronunciado".
O julgamento continua até dia 19, tendo sido agendadas para a semana de 05 a 09 de junho as alegações finais.
Comentários