Lurdes e Álvaro Frutuoso vivem junto à Brecha de Santa Helena, na Borralha, perto do local para onde está prevista a mina, onde a empresa Minerália quer explorar volfrâmio.

E foi para demonstrar o seu descontentamento contra o projeto mineiro que se juntaram à manifestação que hoje juntou perto de uma centena de veículos, entre tratores, carros e motos e partiu do Carvalhal do Esporão em marcha lenta, passou pela Borralha e acabou em Salto, a sede de freguesia onde hoje foi dia de feira e se juntaram centenas de pessoas.

Nas mãos e colados nas viaturas traziam cartazes onde se podia ler “Não às minas, sim à vida”, “Borralha sim, minas não”, “Verde é o segredo” e “Minas aqui nunca mais”. O trajeto de cerca de oito quilómetros foi animado pelo som das buzinas.

“Temos que mostrar o nosso descontentamento e temos que lutar contra a mina porque estou mesmo a ver a minha vida a andar para trás”, afirmou Lurdes Frutuoso aos jornalistas.

Em frente à sua casa, contou, “querem despejar os inertes”, ali perto serão também feitos “rebentamento a céu aberto” e por isso, a cada dia que passa sente-se “mais preocupada”.

“Isto tira-me o sono. Eu e o meu marido trabalhamos tanto para construirmos aquela casa para agora termos um fim de vida condigno, tranquilo e vão-me por à porta máquinas a fazer barulho, pó, lamas, vão-nos tirar a água que nos dá acesso ao regadio das casas. Vão destruir a nossa vida. Acho que isto é desumano”, salientou.

A Minerália, empresa com sede em Braga, requereu a celebração do contrato de concessão de exploração de volfrâmio, estanho e molibdénio em área do antigo couto mineiro da Borralha.

As minas da Borralha abriram em 1902, encerraram em 1986 e chegaram a ser um dos principais centros mineiros de exploração de volfrâmio em Portugal.

Lurdes e Álvaro sempre conviveram com a mina. Ele trabalhou, inclusive, na antiga concessão como serralheiro, mas aponta uma grande diferença: “antigamente a exploração era feita em subterrâneos e, agora, será a céu aberto”.

“Não devia haver lei que permitisse por minas ao pé das casas das pessoas”, salientou Álvaro Frutuoso.

José Pedro Correia é consultor e mora na Borralha. “Este é um antigo couto mineiro, mas esta transposição para uma mineração a céu aberto é que faz toda a diferença”.

Num território onde a agricultura e a produção de gado são as principais atividades, o manifestante teme que a nova mina poderá “mexer com o modo de vida das populações, com os subsídios europeus”. Parece tudo "uma negociata pouco transparente”, afirmou.

Miguel Moura vive em Braga mas regressou hoje à terra natal, Linharelhos, para se juntar à manifestação. “Venho com o trator, que foi a forma que encontramos de protesto, uma vez que a agricultura é o ponto fulcral da atividade das nossas gentes e o seu sustento”.

A mina pode, acrescentou, levar “à perda de subsídios agrícolas”, à “perda da classificação do Património Agrícola Mundial”, atribuído ao Barroso, vai ter um grande “impacto visual” e vai “contaminar águas”.

O objetivo do protesto de hoje foi mostrar a oposição das populações à intenção da Minerália em explorar volfrâmio na Borralha, mas também demonstrar oposição a todos os outros projetos mineiros na região, independentemente da fase em que se encontrem, ou seja, pedidos de prospeção, pedidos de exploração ou já em laboração.

“O nosso objetivo é travar o pedido de concessão feito pela Minerália, juntamente com todos os pedidos de prospeção que existem aqui na freguesia e em toda a região”, afirmou Cristiana Barroso, do Movimento Não às Minas – Montalegre, um dos organizadores da iniciativa.

Na sua opinião, "se as minas abrirem nesta região vão destruir não só a atividade económica das populações, mas tudo o que é inerente ao património agrícola mundial e reserva da biosfera”.

Para este mês de agosto estão previstas várias iniciativa de protesto contra as minas. Hoje mesmo decorreu também uma caminhada em Morgade (Montalegre) e, no próximo fim de semana, realizar-se-á um acampamento em Covas do Barroso (Boticas).

Para a freguesia de Morgade foi assinado o contrato de exploração da mina do Romano com a empresa Lusorecursos, que deverá entregar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) até 13 de agosto.

A Mina do Barroso situa-se em área das freguesias de Dornelas e Covas do Barroso, e o projeto está a ser promovido pela empresa Savannah Lithium, Lda., que prevê uma exploração de lítio e outros minerais a céu aberto. A área de concessão prevista é de 593 hectares.