Críticas à participação de ministros do Governo em campanha para as eleições autárquicas, os preços da energia e novamente o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) marcaram hoje o discurso dos líderes partidários em caravana pelo país, num dia que marcado pela notícia do tiroteio contra a candidata à freguesia de Palmela do CDS.
O secretário-geral do PS, António Costa, indicou hoje, em Celorico de Basto, no distrito de Braga, que os municípios “vão passar a ter, a partir de abril, mais mil milhões de euros que acompanham a transferência de competências”.
“O Estado não passa responsabilidades na educação, na saúde ou na ação social, sem transferir também para os municípios os recursos financeiros necessários para que possam exercer essas competências”, afirmou o líder socialista num comício da candidatura do PS naquele município liderado pelo empresário e engenheiro civil Manuel Machado, que se candidata pela terceira vez.
O líder do PSD, Rui Rio, admitiu que o aumento do preço da energia pode “desacelerar” a retoma económica, mas alertou sobretudo para queixas que tem ouvido de empresários sobre “abusos” nos apoios sociais que dificultam a contratação de trabalhadores.
Em declarações aos jornalistas em Caminha (Viana do Castelo), Rui Rio foi questionado sobre o anúncio feito na quarta-feira pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) de que o preço da eletricidade vai voltar a aumentar, a partir de 01 de outubro, em 1,05 euros por mês para a maioria dos clientes doméstico do mercado regulado.
Em Ponte de Lima, Rio aproveitou para se dirigir ao primeiro-ministro apontando o campeão do mundo de canoagem Fernando Pimenta como exemplo “para o Governo e para o PS” de que nada se consegue com facilitismo, mas apenas “com rigor e com trabalho”.
O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, acusou António Costa de “deslealdade perante os eleitores” ao confundir os cargos de primeiro-ministro e secretário-geral do PS, e salientou que a direita sabe o que o PRR “não é”.
Em declarações aos jornalistas em Nelas (distrito de Viseu), à margem de uma iniciativa da campanha autárquica, Francisco Rodrigues dos Santos afirmou que “há uma questão ética e moral que deve haver na política, que é em altura de eleições alguém que ocupa a função de primeiro-ministro não deve exacerbar as suas funções e confundi-las com as de secretário-geral do PS”.
O dia do CDS-PP ficou também marcado pelo tiroteio que surpreendeu a candidata à freguesia de Palmela e que Rodrigues dos Santos chamou de “atentado contra a democracia” da autoria de “forças altamente extremistas”, garantindo que o partido não se deixa intimidar. A GNR remeteu para a Polícia Judiciária a investigação do caso.
No maior comício da CDU desde o arranque da campanha, em Almada, o líder comunista, Jerónimo de Sousa, criticou o trabalho dos socialistas na autarquia que os comunistas querem recuperar.
Coube à candidata comunista a Almada, Maria das Dores Meira - que atingiu o limite de mandatos à frente da autarquia de Setúbal - fazer as críticas à atuação do primeiro-ministro em campanha, afirmando que Costa "vai esmolando a bazuca europeia" pelos candidatos socialistas, no que considerou um vale tudo.
Em campanha na capital, a coordenadora do BE defendeu que os últimos quatros anos “mostraram que é onde acaba a maioria absoluta do PS que começa a mudança” em Lisboa, pretendendo no próximo mandato avançar na habitação, onde “o PS travou”.
Num comício distrital no largo de São Carlos, Catarina Martins trouxe à campanha uma mensagem clara sobre a corrida eleitoral na capital, onde o BE assinou há quatro anos, para o mandato que agora termina, um acordo pós-eleitoral para a governação da cidade com o autarca socialista, Fernando Medina.
“E agora? Agora, se nos perguntarem o que queremos fazer nos próximos quatro anos, respondemos que queremos fazer o que ainda não foi feito, porque os últimos quatro anos mostraram que é onde acaba a maioria absoluta do PS que começa a mudança na cidade da Lisboa”, afirmou.
A porta-voz do PAN considerou hoje que não é pelo aumento da fatura da eletricidade que se combatem as alterações climáticas, defendendo a automatização energética e o alargamento da tarifa social de energia.
“Para já, aquilo que defendemos e que efetivamente se deve pugnar é pelo não aumento da eletricidade, ou seja, não é por essa via que se vai combater as alterações climáticas”, considerou Inês de Sousa Real, depois de uma manhã dedicada a visitar um mercado biológico, um parque de matilhas e uma associação de recolha de animais em Matosinhos, no distrito do Porto.
Inês de Sousa Real insistiu na importância da automatização energética, destacando a necessidade de se criarem comunidades energéticas assentes nos painéis fotovoltaicos.
No Porto, o líder da Iniciativa Liberal (IL) afirmou ser “questionável” e “criticável” quando ministros “usam a sua posição” em campanhas eleitorais socialistas, reforçando que isso “também aconteceu com o primeiro-ministro” relativamente à utilização de “fundos da bazuca”.
“Acho que a presença de ministros, principalmente quando são militantes dos partidos, é absolutamente legítima e não há algo mais normal. Onde começa a ser muito questionável e criticável é quando usam a sua posição para dar a entender que o voto no partido que está no Governo pode trazer benefícios aos munícipes dos concelhos que visitam”, afirmou João Cotrim de Figueiredo, no Porto.
Em causa está a presença na sexta-feira da ministra da Saúde, Marta Temido, e do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, na campanha eleitoral do candidato do PS à Câmara do Porto.
No concelho da Moita, o secretário-geral do PCP visitou hoje o Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira, para demonstrar que o investimento na cultura salvou a freguesia de estar condenada a ser um “anátema” de instabilidade.
O tema do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o seu uso pelo Governo e PS na campanha esteve também no dia de campanha do líder do Volt Portugal, Tiago de Matos Gomes, que considerou "de muito mau tom" os socialistas usarem o plano para fazer propaganda eleitoral.
O líder do Volt Portugal, que participou numa arruada no Porto, considerou que a ideia de que os candidatos socialistas possam ser beneficiados na utilização dos fundos do PRR “é inconcebível” e deve fazer Governo e candidatos refletir e deixar de "utilizar esse método que não é correto".
*com agência Lusa
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