"Não, não. Eu não sou racista. Sou a pessoa menos racista que vocês alguma vez entrevistaram", disse o Presidente dos Estados Unidos este domingo aos jornalistas, defendendo-se das acusações de que foi alvo após ter alegadamente usado calão para denominar vários países africanos, El Salvador e o Haiti. Donald Trump fez estas declarações ontem na chegada ao seu clube de golfe.

O debate sobre as políticas de imigração estão envoltos em polémica após uma reunião com deputados em que Trump terá usado a expressão "shithole countries".

Trump terá, de acordo com fontes conhecedoras do teor da polémica reunião com deputados na Casa Branca, citadas pela imprensa dos EUA, qualificado El Salvador, Haiti e várias nações africanas, que não identificou, de “países de merda” [shithole countries], sinalizando que preferia abrir as portas a imigrantes procedentes de países como a Noruega.

O Presidente negou ter usado a expressão "shithole", mas assumiu que usou uma linguagem dura. Todavia, o senador democrata Dick Durbin confirmou depois o uso da expressão, corroborando o que já tinha sido publicado pelos jornais Washington Post e New York Times, acrescentando que o Presidente a usou "reiteradamente".

O Presidente dos Estados Unidos terá recorrido ao calão depois de dois senadores lhe terem apresentado um projeto de lei migratório ao abrigo do qual seriam concedidos vistos a alguns cidadãos de países que foram recentemente retirados do Estatuto de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), como El Salvador, Haiti, Nicarágua e Sudão.

O TPS é um benefício concedido pelos Estados Unidos a imigrantes indocumentados, que não podem regressar aos países devido a conflitos civis, desastres naturais ou outras circunstâncias extraordinárias, permitindo-lhes trabalhar no país com uma autorização temporária. Donald Trump sugeriu, na réplica, que os Estados Unidos deviam atrair mais imigrantes de países como a Noruega, com cuja primeira-ministra se reuniu na véspera.

Os deputados presentes na reunião ficaram chocados com os comentários, de acordo com o jornal, que não esclareceu se o Presidente norte-americano se referia também à Nicarágua e não identificou os países africanos em causa.

"Sonhadores" em suspenso

O Presidente também disse ontem à noite que estava "pronto, disposto e capaz" de chegar a um acordo para proteger os imigrantes ilegais nos EUA, denominados 'dreamers', mas que não acreditava que os democratas desejassem um acordo, refere a Reuters.

No passado dia 11 de janeiro, um grupo de deputados republicanos anunciou os detalhes de uma lei que conta com o apoio do Presidente dos Estados Unidos à luz da qual os indocumentados terão possibilidade de residir no país. O diploma aborda o futuro dos 690.000 “dreamers” (“sonhadores”), os indocumentados chegados aos Estados Unidos enquanto crianças, protegidos da deportação devido ao programa conhecido como DACA (Ação Diferida para Imigração Infantil), promulgado em 2012 pelo então Presidente norte-americano Barack Obama e cujo fim foi anunciado em setembro pelo seu sucessor na Casa Branca. Aquando da suspensão, Donald Trump deu uma margem de seis meses, até 05 de março de 2018, para tornar efetiva a sua ordem com vista a forçar uma alternativa no Congresso.

No entanto, em janeiro deste ano, um juiz ordenou ao Presidente que reative o programa e continue a aceitar pedidos de jovens indocumentados que querem travar a deportação até serem resolvidos todos diferendos pendentes nos tribunais. Graças ao DACA, esses milhares de jovens conseguiam travar a sua expulsão do país, obter vistos temporários de trabalho e, em alguns casos, até carta de condução.

A nova iniciativa dos republicanos propõe que os beneficiários do DACA possam aceder a uma autorização migratória que lhes permita residir legalmente nos Estados Unidos sem serem deportados durante três anos, com possibilidade de renovação por tempo indefinido, uma proposta semelhante à que já oferecia o DACA. Desse modo, a proposta não abre a porta à obtenção de cidadania norte-americana, um dos pontos-chave para a oposição democrata.

Em segundo lugar, a proposta propõe que sejam destinados 30.000 milhões de dólares para a construção do polémico muro na fronteira com o México. Além disso, também inclui a eliminação da chamada “lotaria dos vistos”, programa eletrónico que seleciona aleatoriamente imigrantes de países com baixas taxas de migração para os Estados Unidos.

Anualmente, cerca de 50 mil pessoas entram no país através desse programa que abre caminho à cidadania norte-americana.

A iniciativa também procura acabar com o que os defensores de medidas que restrinjam a imigração ilegal batizaram de “imigração em cadeia”, em referência ao sistema que facilita a entrada no país de familiares de cidadãos norte-americanos e de portadores de “green cards”, autorizados a residir e trabalhar nos Estados Unidos.

Com a proposta, os níveis de imigração dos Estados Unidos ver-se-ão reduzidos em cerca de 25%, segundo um resumo do documento facultado à imprensa, citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, transmitiu o agradecimento de Trump aos deputados, assegurando que a proposta “procura cumprir as prioridades do Presidente para o povo norte-americano”.

“O Presidente espera avançar em direção a uma legislação que garante a fronteira, termine com a ‘imigração em cadeia’, cancele a lotaria dos vistos e aborde o estatuto da população beneficiária do [programa] DACA de forma responsável, afirmou Sanders.