O ex-presidente garantiu no último sábado que seria "detido" nesta terça-feira por ter pago à atriz pornográfica pelo seu silêncio, mas a sua defesa informou que essas afirmações foram baseadas em informações da imprensa, e não da acusação.

Como tal, ontem foram erigidas barricadas perto da Trump Tower, com a polícia em alerta máximo e vários manifestantes e jornalistas do lado de fora da procuradoria de Manhattan. Mas nada aconteceu.

Segundo a imprensa norte-americana, o grande júri que irá decidir se houve crime poder pronunciar o seu indiciamento nesta quarta-feira, mas o promotor do distrito de Manhattan, Alvin Bragg, pode esperar pela semana que vem para anunciar as acusações.

Bragg, um democrata eleito, não confirmou publicamente nenhum plano, e o grande júri atua em sigilo, para evitar perjúrio ou influência sobre as testemunhas, tornando praticamente impossível saber o que está a acontecer.

A procuradoria de Manhattan apresentou testemunhas ao júri nas últimas semanas e convidou Trump a depor, o que poderia indicar um indiciamento próximo. O republicano, de 76 anos, pode tornar-se no primeiro ex-presidente a sentar-se no banco dos réus, um facto que ameaça abalar a sua tentativa de regressar à presidência dos Estados Unidos.

O jornal The Guardian, contudo, adianta que, caso seja detido, Trump quer ser publicamente carregado em algemas e projetar uma ideia de desafio perante o que considera ser uma perseguição política injusta.

De acordo com algumas fontes próximas do ex-presidente, este defendeu que, já que terá de ter uma fotografia de retrato e as suas impressões digitais retiradas devido à detenção, quer também ser presenciado com algemas para aumentar o "espetáculo".

Por trás desta estratégia está não só a ideia que a equipa de Trump quer passar de que o ex-chefe de Estado está a ser perseguido, alimentando assim a sua base de apoiantes, como também está o medo de passar por fraco ou derrotado.

Segundo uma mensagem enviada pela sua equipa de campanha — na qual, além de pedir contribuições que variam de 24 a 250 dólares, embora os seus apoiantes também possam contribuir com outras quantias —, "o presidente Trump sabe que a verdadeira reivindicação virá em 5 de novembro de 2024, quando Nós, o Povo, recuperarmos a Casa Branca e tornarmos a América grande novamente."

A NBC News informou que todos os agentes da polícia de Nova Iorque receberam ordens de usar uniforme e preparar-se para o destacamento a partir desta terça-feira.

"Embora se veja um aumento da presença policial em todos os cinco distritos, não há atualmente ameaças concretas para a cidade de Nova Iorque", disse um porta-voz da polícia.

No fim de semana, Trump convocou protestos maciços caso seja indiciado, embora apenas alguns apoiantes do multimilionário tenham comparecido até agora em Nova Iorque.

Figuras importantes, incluindo os filhos de Trump, não convocaram protestos de rua como fizeram após a eleição de 2020, quando o presidente Joe Biden venceu nas urnas.

Protestos convocados pelo Clube de Jovens Republicanos de Nova Iorque reuniram duas dúzias de apoiantes na noite de segunda-feira e um punhado esta terça em frente à procuradoria de Manhattan.

Cerca de 40 apoiantes concentraram-se na residência do ex-presidente em Mar-a-Lago, no estado da Flórida. "Acho que o resultado disto será um aumento do apoio", disse Colton McCormick, de 18 anos, vestido com as cores da bandeira americana.

O que está em causa?

A investigação de Bragg concentra-se no pagamento de 130 mil dólares, na reta final das eleições de 2016, à atriz pornográfica Stormy Daniels, para silenciar uma suposta relação extraconjugal que ela teria tido com o magnata dez anos antes, que ele sempre negou.

O ex-advogado e agora inimigo de Trump, Michael Cohen, que testemunhou perante o grande júri, disse que fez o pagamento e foi reembolsado.

O pagamento a Stormy Daniels pode ser considerado uma fraude contabilística, que viola a lei de financiamento eleitoral, crime punível com quatro anos de prisão.

Especialistas jurídicos dizem que não será fácil provar o crime. Caso seja indiciado, um possível julgamento pode levar meses para acontecer.

O magnata é alvo de várias investigações criminais aos níveis estadual e federal por suspeita de irregularidades que poderiam ameaçara  sua nova candidatura à Casa Branca, incluindo as tentativas de reverter a derrota nas eleições de 2020 no estado da Geórgia.