As restrições impostas pelo Reino Unido devido à pandemia da covid-19, com a obrigação de quarentena à chegada dos britânicos que viajam desde Portugal, acentuou as fragilidades do destino algarvio, que procura adaptar-se a novos tempos.
Outrora apontada como um dos ‘ex-líbris’ de animação turística de Portimão, a Praia da Rocha, no distrito de Faro, é agora descrita pelos empresários e comerciantes locais como um destino “de apenas de sol e praia”, que sobrevive maioritariamente sustentado pelo mercado nacional.
A reportagem da Lusa encontrou, em pleno mês de junho, a maioria dos estabelecimentos comerciais em funcionamento, mas com escasso movimento de turistas, quer portugueses, quer de outras nacionalidades.
Em período de almoço, a quase totalidade dos restaurantes e esplanadas estavam vazios e os empregados à porta tentavam atrair com o melhor preço para um repasto quem por ali passava.
Com a ausência dos turistas das ilhas britânicas, os comerciantes da Praia da Rocha anseiam pelo mês de agosto e pelos veraneantes portugueses como forma de minimizar o impacto nas receitas de ‘caixa’.
“As limitações impostas pelo Reino Unido devido à pandemia da covid-19 vieram por a nu as fragilidades da dependência do turismo britânico e acentuar a necessidade de se diversificarem os mercados emissores de turismo”, disse à agência Lusa o empresário Paulo Cabrita.
Proprietário de quatro estabelecimentos de alojamento e de restauração, dois dos quais na principal avenida da Praia da Rocha, o empresário critica “a inércia e falta de visão estratégica de entidades e empresários, desde há cinco, seis anos, quando se começaram a verificar quebras locais dos turistas britânicos”.
“Ao longo de cerca de 30 anos, milhares de ingleses e irlandeses ‘invadiam’ a zona durante dois a três meses, o que permitia sustentar os estabelecimentos, mas desde há seis anos que há uma quebra significativa deste mercado, devido ao encerramento do Clube Praia da Rocha, um conjunto de alojamentos ocupado essencialmente por britânicos”, apontou.
Segundo Paulo Cabrita, os ocupantes do complexo turístico, com milhares de camas, “eram maioritariamente os frequentadores dos espaços de restauração e de animação noturna, nomeadamente os bares, a grande maioria da oferta da Praia da Rocha”.
Face à descida dos turistas frequentadores de bares e de espaços de animação noturna, alguns empresários, embora sendo poucos, decidiram reconverter os espaços e mudaram de atividade.
“Quem mudou a atividade foram os proprietários que exploravam os espaços, porque quem tinha os espaços arrendados, simplesmente manteve-os com baixa frequência ou os fechou”, indicou.
Paulo Cabrita é um dos empresários que, nos últimos cinco anos, readaptou por duas vezes uma casa senhorial onde funcionava um bar: “Era um bar irlandês, depois passou a ser um espaço destinado ao mercado português e, no último ano, foi transformado num hotel de charme com 10 camas”.
“É uma adaptação aos novos tempos e que vai permitir manter postos de trabalho, com uma equipa de funcionários durante todo o ano”, sublinhou o empresário.
Paulo Cabrita considera que a sustentabilidade económica da Praia da Rocha passa por diversificar a oferta turística, com uma aposta forte na qualidade e não na quantidade.
“Vivemos tempos diferentes e a pandemia veio mostrar isso mesmo. Temos de acompanhar os mercados e adaptar-nos a uma nova realidade, porque o futuro não vai ser igual ao que estávamos habituados”, concluiu.
Outros quatro empresários, com estabelecimentos de restauração e animação noturna ouvidos pela Lusa, apontam “a falta de oferta turística de qualidade”, como um dos fatores para a baixa frequência de estrangeiros na Praia da Rocha.
“Temos uma zona com muita oferta idêntica, mas algo escasseia em termos de qualidade. Os novos tempos indicam-nos que o futuro passa por diversificar a atividade económica, mas com qualidade”, disse à Lusa um dos empresários, dono de um bar.
Fernando Romão diz que a Praia da Rocha “se transformou desde há cinco ou seis anos num dormitório, com milhares de camas de segunda habitação, frequentada apenas por portugueses nos meses de agosto”.
De acordo com o empresário, “o decréscimo de turistas estrangeiros acentuou-se devido à pandemia, mas o problema já se arrasta há vários anos, o que tem desmotivado o investimento dos empresários”.
“Há que diversificar a oferta, aumentar a segurança e criar incentivos para atrair o turismo estrangeiro de qualidade durante todo o ano”, concluiu.
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