“Sabemos o quanto a Rússia investe em espalhar propaganda e desinformação em África e nós viemos para contar a história verdadeira” sobre a guerra na Ucrânia, referiu aos jornalistas após encontros com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
Depois de na quinta-feira, na Etiópia, ter apelado a vários países africanos para abandonem a neutralidade face ao conflito, Kuleba juntou hoje a sua experiência pessoal aos argumentos expostos em ambos os encontros em Moçambique – um dos países que se tem mantido neutro.
Na última noite, “Kiev e outros sítios foram novamente atacados por mísseis e ‘drones’ russos e os meus filhos, que estão em Kiev, ligaram-me hoje de manhã assustados”, contou.
O testemunho sobre o que passa no terreno - para que “os africanos percebam melhor o que se passa na Ucrânia” – é um dos pontos essenciais nas conversas com os líderes africanos, disse, a par do apelo para que apoiem o “Plano de Paz de Dez Pontos” proposto em dezembro pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Um plano que acolhe “princípios e interesses não só dos países ocidentais, mas também de países representantes da Ásia, África e América do Sul”, sublinhou.
As palavras de Kuleba têm destinatários definidos.
A Rússia mantém uma presença substancial em diversas zonas de África, efetuou recentemente manobras militares conjuntas com a África do Sul e Moscovo planeia realizar uma cimeira África-Rússia em julho.
Vários países africanos abstiveram-se em votações na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que condenavam a invasão russa da vizinha Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado – Moçambique foi um deles, assumindo neutralidade e apelando ao diálogo para pôr termo à guerra a partir do seu lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um mandato de dois anos iniciado em janeiro.
Tal como já havia dito na quinta-feira, na Etiópia, Kuleba voltou hoje a referir que a neutralidade não é solução, mostrando-se, no entanto, sensibilizado com a solidariedade moçambicana.
“A neutralidade pode ter diferentes formas, e hoje [nos encontros em Maputo] senti uma forte simpatia e apoio - que não é neutral, é favorável à Ucrânia -, mas também recebi explicações sobre o porquê de Moçambique se abster no voto, expressando neutralidade”, disse Kuleba em resposta à Lusa.
“Só que a neutralidade não dá uma melhor posição para mediar” o conflito, diz Kuleba, considerando que os papéis são muito distintos: “Há um agressor que ataca e uma vítima que se defende”, concluiu.
Dmytro Kuleba chegou hoje de manhã a Maputo, após uma escala em Joanesburgo, oriundo da Etiópia.
Em poucas horas na capital moçambicana, o chefe da diplomacia ucraniana foi recebido à porta fechada pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi, e depois pela ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
Nos encontros, os dois países acordaram estreitar relações, com a celebração de acordos bilaterais, a abertura de uma baixada da Ucrânia em Moçambique e a realização de um fórum de negócios.
Kuleba vai manter outros encontros em Moçambique durante o resto do dia e deixa o país no sábado para continuar o périplo africano, que inclui visitas a Marrocos e ao Ruanda.
A ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia já matou 8.895 civis e causou 15.117 feridos, também segundo dados da ONU, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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