Desde a morte de Moïse, o cargo da Presidência da República continua por preencher, e não há data prevista para a eleição do seu sucessor. O caso já contou com cinco juízes de instrução distintos e nenhum deles acusou formalmente qualquer uma das 40 pessoas detidas, incluindo os colombianos que supostamente compunham o comando.
Para piorar a situação, a Justiça está mais à deriva do que nunca. Desde há um mês que os escritórios da Procuradoria pública de Port-au-Prince estão ocupados por um dos muitos gangues criminosos que controlam partes inteiras do território haitiano.
Naquele dia, os assassinos parecem ter entrado facilmente na residência do presidente, sem que as unidades de elite encarregadas da sua proteção tivessem feito algo para neutralizá-los.
Poucas horas depois, a polícia haitiana mostrou velocidade excecional ao prender cerca de 20 pessoas, incluindo 18 ex-soldados colombianos. Mas os processos judiciais subsequentes, realizados tanto no Haiti quanto nos Estados Unidos, têm avançado muito lentamente.
De resto, o possível envolvimento do primeiro-ministro Ariel Henry no assassinato atrasou ainda mais a investigação judicial. Nomeado apenas dois dias antes do assassinato, Henry é suspeito de ter conversado por telefone com um dos principais réus algumas horas após o ataque.
Convidado pelo procurador para prestar esclarecimentos, o chefe do governo não compareceu e, depois, exonerou o magistrado, nomeando um novo ministro da Justiça.
Tal levou a viúva do presidente, Martine Moïse, gravemente ferida durante o atentado, a recusar-se categoricamente a comparecer às cerimónias de homenagem ao seu falecido marido, oficiadas por um chefe de governo sobre quem "pesam sérias suspeitas de que possa ter assassinado o presidente da República", disse.
A morte de Moïse agravou a crise política estrutural no Haiti. O Parlamento não funciona há dois ano, sendo que, desde que chegou ao poder em 2017, Moïse não convocou eleições. Hoje, o Haiti também não tem presidente, e o Tribunal de Justiça não funciona por falta de juízes.
Henry está no comando de um país onde os líderes políticos e as instituições não têm a legitimidade que a realização de eleições lhes daria e que também é prejudicado pela insegurança.
Enquanto isso ocorre, a justiça dos EUA acusou três pessoas pelo assassinato de Moïse, atualmente detidas em Miami.
No seu relatório de investigação, a polícia judiciária haitiana estabeleceu que o complot contra o presidente tinha sido urdido no estado da Flórida e que os mercenários colombianos foram recrutados por uma empresa de segurança com sede em Miami.
Em abril, um juiz norte-americano deu um duro golpe naqueles que esperavam que o processo judicial em andamento nos Estados Unidos pudesse levar à descoberta dos bastidores do assassinato de Moïse ao decidir classificar algumas das provas como secretas.
O magistrado tomou esta ação porque, entre os réus, há dois ex-informadores da agência antidrogas dos EUA, a DEA, e um ex-informador da Polícia Federal americana (FBI).
"Não vemos com bons olhos que os Estados Unidos tenham decidido proteger algumas informações. Toda uma parte desta história permanecerá em segredo", comentou uma fonte judicial haitiana que preferiu permanecer anónima.
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