“Estava com dois amigos que receberam mensagens a contar que algo estava a acontecer. De repente, no bar, toda a gente queria pagar para se vir embora. Depois ouvimos aviões e helicópteros, e soubemos que na televisão estavam a dizer às pessoas que fossem para casa e que se abastecessem com água e pão”.

João foi para casa, como tantos outros, e foi ali que ouviu a comunicação do exército lida por uma jornalista a TRT, a televisão pública (entretanto fechada). “Foi assustador, a jornalista repetiu vezes e vezes durante cerca de uma hora a comunicação que dizia para as pessoas ficarem em casa”.

Pouco depois, e mesmo sem acesso à televisão pública, o presidente Erdogan ripostou através da aplicação de iphone Facetime. A sua comunicação, a exortar as pessoas a virem para a rua e a lutar contra aqueles que chamou de “golpistas” foi depois transmitida pela CNN da Turquia. “Foram muitas pessoas para a rua – os seguidores do presidente são fanáticos. Ouvimos muitos tiros e continuamos a ouvir muita agitação na rua”, relata, à hora que falámos (meia noite e meia em Portugal, 2h30 da madrugada em Istambul).

Posteriormente, das mesquitas, cuja última reza tinha sido às 10h30 de Istambul, fizeram uma chamada especial, apelando a que as pessoas fossem para as ruas em defesa do regime presidencial.

À hora que fala, e limitado pelas comunicações com amigos e família da namorada, ela turca, João vaticina que o alegado golpe de Estado irá fracassar. “Este golpe deve falhar, porque metade do exécito não aderiu. Isto apesar de os militares estarem cansados de tantas frentes de guerra em que a Turquia está envolvida e das baixas que isso lhes causa”. E é por isso que acredita que “no domingo está tudo resolvido” e que segunda-feira a vida segue normal.

A normalidade com que Istambul e a Turquia em geral passaram a enfrentar o terrorismo e a instabilidade política do país é um dos motivos porque planeia mudar de vida em breve. Dentro de um mês já deverá estar no Dubai, acompanhado da namorada e futura mulher.

“Desde começou a escalada do Estado Islâmico que estamos a pensar sair. Mas o que é mais assustador é que as coisas vão acontecendo, como o atentado de há duas semanas, e no dia a seguir é como se nada fosse. Andamos de metro, de avião, vamos ao Starbucks … É assustador ser tudo normal”. Para já, espera uma aberta para poder mudar-se para uma casa de família, bem mais longe do centro de Istambul.

Nota de edição: O título do artigo foi alterado às 10h55 de dia 16 de julho. O título original, publicado na madrugada de dia 16 de julho, era: "Em directo de Istambul: vamos estar acordados a noite toda".