Um Elefante e um Burro ... Podia muito bem começar assim a história que se segue. Não é uma anedota, nem tão pouco uma fábula de La Fontaine. Nem a réplica de um podcast.
O elefante e o burro simbolizam os dois grandes partidos americanos - o elefante é encarnado, cor dos republicanos, o burro, é azul, cor dos democratas. A origem da história pode ser lida aqui, mas fica um sumário.
No caso do "burro", tudo começou em 1828 na campanha eleitoral do democrata Andrew Jackson. O candidato foi apelidado de burro pelos oponentes e, em vez de rejeitar o insulto, acolheu-o e fez do animal símbolo da sua campanha e acabou mesmo por vencer a eleição nesse ano. Já no que respeita ao elefante, a imagem era já identificada como republicana na Guerra Civil Americana (1861-1865), significando a arte de lutar com experiência e bravamente.
Voltando a 5 de novembro de 2024 e à political party ou watch party, como se queira chamar, organizada pela FLAD que juntou cerca de 100 norte-americanos, luso-americanos e portugueses de tendências políticas diferentes numa noite eleitoral que também podia ser o preâmbulo de uma SuperBowl, a tal noitada, ano após ano, em que a América não dorme. Só que ontem decidia-se bem mais que um jogo, o que se percebia bem pela afluência de pessoas à FLAD. O auditórioda foi pequeno para sentar todos os que foram passando durante a noite do USA Special Elections 2024.
“Sem surpresas, Kentucky para Trump, Vermont, para Harris”
O republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris, um deles ia sair vencedor numa longa noite cujo desfecho final se iria prolongar pelos dias seguintes.
Pedro Magalhães, politólogo especialista em comportamento eleitoral, foi dos animadores de serviço durante as quatro horas do evento. Os seus comentários acompanharam o fecho das urnas em várias estados sempre com os olhos postos nos estados-chave.Às 0h30, primeiro resultado conhecido, sem novidade, anunciou. “Sem surpresas, Kentucky para Trump, Vermont, para Harris".
O embaixador António Monteiro e Nuno Morais Sarmento foram algumas das personalidades políticas que também marcaram presença e também Bruno Cardoso Reis, historiador e professor convidado FLAD na Universidade de Georgetown, em Washington, deu o seu contributo por videochamada.
Prognósticos reservados, burger gourmet, crepe suzette, Bolo-Rei e um quizz
Os olhares de quem o escutava só se levantaram das mesas-redondas e se desviaram dos ecrãs para direcionar o olhar, as mãos e o palato para o banquete digno de uma receção numa qualquer embaixada norte-americana. Ou mesmo na Casa Branca.
Entre três períodos delimitados por entradas, pratos principais e aguardadas sobremesas, o catering ajudou a manter acordado os convivas. Que também foram abandonando a sala à medida dos seus apetites. Não sem antes serem desafiados para um quiz e possibilidade de levar um cabaz que serve para o Natal ou Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças).
Ao menu internacional não faltou o americano mini-hambúrger gourmet, aconchegado com queijo, cebola frita e bacon e o britânico rosbife. Queijos vários, o afrancesado crepe suzette, as típicas e minúsculas strawberry pie na terra das oportunidades e o portuguesíssimo, famoso e antecipado bolo-rei.
Votar pela primeira vez. A partir de Portugal e por email
Entre os convidados estavam também dois jovens nascidos e criados nos Estados Unidos da América e, nestas presidenciais de 2024, dois estreantes no ato eleitoral. Uma primeira vez que aconteceu fora dos Estados Unidos num voto por email, na privacidade do local que escolheram para o enviar.
Isaiah, 21 anos, está a estudar em Lisboa. “Um semestre. Regresso aos Estados Unidos no final de dezembro”, conta.
“Nos Estados Unidos, estudo Religião, aqui estou a seguir artes”, acrescenta. “Foi a minha primeira vez. Registei-me, enviaram-me um formulário por email, preenchi e enviei de volta. Muito simples”, descreve o votante da Carolina do Norte. “Tecnicamente votei em Portugal”, sorri referindo-se ao modo, email onde colocou os seus vários X, uma fórmula prevista pela lei americana.
"Tenho medo de ir para a cama”
Prognósticos de vencedor? “Não sei”, encolhe os ombros, refastelando-se no cadeirão de cor púrpura. Mas recorda um episódio. “Em 2015, estava no oitavo ano, adormeci, pensei que seria a Hillary (Clinton) a vencer, estava à frente nas projeções, e quando acordei o Trump era presidente. Logo, não sei. Tenho medo de ir para a cama”, diz com uma gargalhada.
Riley segui-lhe o exemplo. A partir de território luso, também ela contribui para o funcionamento da maior democracia do mundo da forma mais fácil, rápida e inclusiva que se possa imaginar. “Votei por email”, diz, tão à vontade quanto feliz pelo ato realizado. Não esconde, todavia, um certo amargo de boca.“Toda a emoção de votar pela primeira vez e não votei nos EUA”. “Toda a minha família votou junta, enviaram-me fotografias e eu enviei-lhes um print screen do email. Votei, hurra!”, exclama a eleitora do estado de Nova Iorque.
“Estou a estudar marketing e no final janeiro vou-me embora”, confessa. Escolheu atravessar o Atlântico “porque uns amigos estiveram cá a estudar e queria abrir horizontes e alargar experiências”, confessou. “Portugal superou as minhas expetativas”, elogia. “Dependendo de quem ganhar, prolongo a estadia”, deixa ainda escapar de sorriso rasgado.
Não antecipa vencedores. “É tão renhido, pode ir para qualquer lado. Os media fizeram “campanha” pela Kamala. Se calhar, pode ganhar. Mas conheço muita gente que votou em Trump e outros em Kamala. Está muito, muito dividido”, afirma.
Sem qualquer combinação prévia, para além do pedido “no pictures2 (não quero fotografias), Riley pega no exemplo de Isaiah e na primeira eleição de Trump. “Toda a gente pensava que seria a Hillary a vencer. Mas não foi”, relembrou. “Pode ir para cada lado. Mas a vida continua. E ficamos bem com qualquer um”, antecipa. É o “that’s America” que será sempre great.
Uma frase para despedida que toca com uma dita de início, na abertura da noite, por Douglas Koneff, Ministro Conselheiro para a Missão dos Estados Unidos da América em Portugal “Independentemente do resultado das eleições os Estados Unidos da América não vão para lado nenhum. O presidente pode mudar, mas a geografia não. Continuaremos a trabalhar pela democracia e a partir de 21 janeiro e a trabalharmos um mundo melhor”,afirmou.
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