Depois de na primeira fase de escavações, em 2019, ter sido descoberta uma estrutura murada com uma extensão de 170 metros, datada de 2500-2250 a.C., os arqueólogos puseram agora a descoberto “uma torre que lhe está adossada, na área que seria o acesso ao sítio [arqueológico da OTA], em períodos pré-históricos”, disse à agência Lusa Ana Catarina Basílio, investigadora do Centro Interdisciplinar em Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve.

A escavação realizada até sexta-feira na Ota, no concelho de Alenquer, permitiu aos arqueólogos perceber que naquele que é ainda “um dos sítios mais intrigantes da península de Lisboa” existiu desde as primeiras ocupações, no período Calcolítico, “uma combinação muito óbvia entre o que já existia, entre a base geológica, e uma construção antrópica [feita pelo homem] por cima do geológico de base”, acrescentou a arqueóloga corresponsável pela segunda campanha arqueológica, decorrida durante todo o mês de agosto.

A par dos “resultados muito sugestivos da magnitude desta construção”, a campanha permitiu “identificar materiais bastante atípicos para um conceito que inicialmente se pensaria de habitat, como, por exemplo, um recipiente calcário”.

Ao nível dos materiais foram também descobertos vários elementos típicos do período Calcolítico, como cerâmicas decoradas, pontas de seta e lâminas em sílex, elementos de osso polido ou uma enxó (instrumento usado para desbastar).

As informações arquitetónicas e os materiais recuperados resultaram num maior conhecimento sobre as dinâmicas de ocupação da zona ao longo da História, demonstrando que por ali passaram povos desde o Calcolítico ao período Romano (o mais representado) e à época medieval, quer cristã, quer islâmica.

Os trabalhos permitiram “construir uma biografia e falar sobre as pessoas que aqui viviam, de uma forma um bocadinho mais aprofundada e mais complexa”, explicou Ana Catarina Basílio.

Aprofundar essa vertente da História será um dos objetivos da campanha arqueológica do próximo ano, altura em que os arqueólogos pretendem estudar “uma estrutura de cariz funerário”, já identificada, e que poderá resultar na descoberta de ossos que possibilitem “alguma datação radiométrica”.

Para já, da campanha deste ano fica ainda a constatação de que o chão pisado na serra da Ota, ao longo da campanha, ”seria possivelmente o mesmo que [pisaram] as populações que aqui habitariam anteriormente”, uma vez que “a potência estratigráfica”, ou seja, relativa às camadas de terras que cobrem os achados estudados, “é muito reduzida”.

O sítio arqueológico da Ota foi descoberto em 1932 e as campanhas atuais inserem-se num projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, com coordenação de Ana Catarina Basílio e de André Texugo Lopes, investigador do Centro de Estudos Geográficos e do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.

Os trabalhos de campo contaram este ano com a participação de voluntários de seis universidades nacionais e internacionais, incluindo, além das academias de Lisboa e do Algarve, a Universidade de Coimbra, a Universidade do Porto, a Universidade Autónoma de Madrid e Universidade de Jaén, estas duas últimas de Espanha.

o Projeto Arqueológico Ota é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e conta com o apoio do município de Alenquer (distrito de Lisboa), da Junta de Freguesia de Ota e da Associação de Baldios de Ota.