O Movimento Nacional de Enfermeiros, que organizou a iniciativa, estimou no final da manifestação que tivessem participado cerca de 10 mil pessoas, suportando-se em indicações de elementos da PSP, segundo disse aos jornalistas a porta-voz do movimento, Sónia Viegas.
De todo o país vieram mais de 70 autocarros com enfermeiros, tendo transportado mais de quatro mil pessoas.
Os números são do Movimento de Enfermeiros e também da Ordem dos Enfermeiros, que deu apoio à marcha branca.
À chegada à iniciativa, a bastonária Ana Rita Cavaco foi recebida com aplausos e gritos de euforia, tendo depois cumprido todo o percurso do desfile, que partiu pelas 15:00 do Parque da Bela Vista, em direção ao hospital de Santa Maria, onde chegou cerca de três horas depois.
Para Ana Rita Cavaco, a marcha veio mostrar que a sua missão enquanto bastonária está cumprida, que os “enfermeiros têm hoje uma identidade e um sentido de pertença”.
Vários dirigentes da maioria dos sindicatos de enfermagem participaram também na iniciativa, que pretendeu precisamente exibir a união da classe para a dignificação da profissão.
O presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros (Sindepor), Carlos Ramalho, entendeu que a adesão à marcha mostrou que “os enfermeiros estão mais unidos do que nunca” e que estão dispostos a lutar “até onde for preciso”.
Da parte da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros, que convocou para hoje uma greve para permitir a participação de mais profissionais no desfile, Lúcia Leite destacou que os enfermeiros “querem e pedem muita união entre todos, inclusivamente entre os sindicatos”.
A marcha branca foi também apoiada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), representado pelo menos pela dirigente Guadalupe Simões.
À chegada ao local da concentração final, o hospital de Santa Maria, os vários milhares de enfermeiros foram saudados pelo líder da Aliança, Pedro Santana Lopes, que se manifestou solidário com a causa dos enfermeiros e pediu mais compreensão para com a luta destes profissionais.
“Fica reforçada [com esta marcha] a identidade da classe. Não estou a dizer que os enfermeiros têm razão em tudo, mas têm razão em boa parte e é tempo de se chegar a um acordo”, afirmou Santana Lopes aos jornalistas.
A grande maioria dos participantes na marcha respondeu ao apelo do Movimento dos Enfermeiros e envergou t-shirts e roupa branca, acompanhada de cravos e outras flores da mesma cor.
“Ninguém solta a mão de ninguém” foi a frase escolhida para marcar este desfile, sendo gravada em bandeiras e camisolas.
A frase tornou-se viral após a eleição do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tendo sido acoplada a uma ilustração da autoria de uma tatuadora brasileira, desenho esse que foi também adotado pelos enfermeiros portugueses que hoje desfilaram em Lisboa.
Do estrangeiro vieram também alguns enfermeiros portugueses que estão emigrados, como destacou a bastonária Ana Rita Cavaco.
Hélder Marques é um dos 18 mil enfermeiros que está fora de Portugal e veio propositadamente da Suíça para participar no desfile e apelar ao país que perceba a importância dos seus trabalhadores.
Há seis anos a trabalhar fora, Hélder saiu de Portugal em 2011, quando o anterior Governo de Passos Coelho anunciou o corte no subsídio de Natal. Afirma que na Suíça os enfermeiros são valorizados, têm as suas especialidades reconhecidas e recompensadas, além de anualmente verem o seu salário ajustado.
Numa profissão constituída em larga maioria por mulheres, o desfile coincidiu com o Dia da Mulher e foi também uma forma de assinalar “uma das figuras centrais da enfermagem”, Florence Nightingale, enfermeira que no século XIX mudou o paradigma da profissão, tendo sido considerada pioneira no tratamento a feridos de guerra, durante a Guerra da Crimeia.
Esta marcha ocorre depois de um período de especial contestação por parte dos enfermeiros, que se traduziu em duas greves em blocos operatórios e a um braço de ferro com o Governo, sobretudo depois de ter sido decretada uma requisição civil com o objetivo de travar a segunda paralisação.
"Conseguimos demonstrar união na classe. Essa é uma das mensagens que conseguimos passar e fazer", afirmou Sónia Viegas, porta-voz da organização da marcha branca no final da iniciativa.
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