“Existe uma ameaça e ela é concreta”, afirmou à Lusa, três dias depois de ter vencido o mais prestigiado prémio literário de língua portuguesa.
Silviano Santiago juntou-se ainda às vozes de vários analistas, instituições e organizações que receiam pelo facto de Jair Bolsonaro de estar a inflamar a sua base de apoio e a criar o cenário semelhante à ‘invasão do Capitólio’, nos Estados Unidos.
“Situação que existe e é concreta e nós sabemos que o atual Governo no poder no Brasil tem ligações fortes com a extrema-direita”, sublinhou.
Após vencer o Prémio Camões, Silviano Santiago explicou ter tido emoções mistas, muito por culpa da situação do país, que no domingo vai a votos numa eleição altamente polarizada entre o chefe de Estado brasileiro e o ex-Presidente Lula da Silva.
“Emoção que eu sinto, obviamente egocentrista, egoísta, uma emoção autocentrada, ela esbarra num momento muito triste do mundo, em particular do Brasil”, disse.
“A emoção quando se torna autorreflexiva, ela fica bem tolhida, é uma pena. Porque esta emoção podia ser a de um aniversário”, acrescentou.
O escritor, que se assume que sempre votou no Partido do Trabalhadores e se identifica como um lulista não afiliado ao partido, disse ainda que não está preocupado.
“Preocupado, não. Eu torço para que eu não fique preocupado”, frisou, esperando que Lula “traga de volta um Brasil que estava sendo razoavelmente governado” e que se façam “mudanças importantes”.
Na opinião de Silviano Santiago, o Brasil tornou-se num “país tímido, que praticamente voltou ao momento colonial”.
“A nossa maior riqueza é o agronegócio e isso é muito triste para mim. Não sou contra o agronegócio, obviamente, mas acho triste que ele seja a maior força de renda de um país tão plural como o Brasil”, concluiu.
Luiz Inácio Lula da Silva venceu a primeira volta das eleições com 48,4% dos votos e Jair Bolsonaro recebeu 43,2%, pelo que os dois candidatos terão de se enfrentar numa segunda volta marcada para domingo.
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