Cerca das 17:00 estavam concentrados em frente à estátua do libertador da América Latina, na Avenida da Liberdade, mais de 60 venezuelanos, vestidos a rigor com camisolas e bonés tricolores com as cores da bandeira venezuelana (amarelo, azul e vermelho). Muitos traziam bandeiras do seu país e cartazes com dizeres como "#stopmaduro", "liberdade" e "Não é isto repressão?".

O protesto foi convocado pela Associação Civil de Venezuelanos em Lisboa (Venexos).

Uma das organizadoras da Venexos, Liliana Rodrigues, contou à agência Lusa que o protesto visou, principalmente, mostrar às pessoas, aos portugueses, uma realidade Venezuela para a qual não estão atentas.

“Há quem ainda não tenha noção”, disse Liliana Abreu, da forma como o Presidente venezuelano, Nicolas Maduro, tem gerido o país, especialmente com a última decisão de convocar uma eleição, que decorre hoje, para escolher os deputados que vão formar uma nova Assembleia Constituinte, que depois vai reescrever a Constituição do país.

Liliana Abreu disse que a votação de hoje “não é democrática”, já que o povo venezuelano está contra a sua realização. E sublinhou que “há pessoas que estão a ser compradas com comida ou com bens essenciais” para ir votar hoje.

Há 15 anos em Portugal, o venezuelano de ascendência portuguesa Francisco Gonçalves espera que a votação de hoje tenha pouca afluência de eleitores.

“Que as pessoas não votem e que consigam fazer ver ao Mundo que a Assembleia Constituinte não é algo de que o país precisa. A Venezuela já tem um Constituição, que é a do Hugo Chávez [1999]. Foi feita com critério e é uma boa constituição. Por isso não precisamos de mudar”, disse o técnico informático de 41 anos.

Para Francisco Gonçalves, “o povo venezuelano está partido ao meio” e a votação de hoje “vai radicalizar ainda mais a situação”.

“Estamos à beira de uma guerra civil. Há Estados na Venezuela em que as pessoas estão mais contra, em que as pessoas queimaram cadernos eleitorais, boletins de voto, máquinas de votação”, salientou.

Gregorio Salas, de 30 anos, dava aulas e trabalhava nos serviços médicos venezuelanos. Há um ano e meio chegou a um ponto de rotura e decidiu vir com a mulher – de ascendência portuguesa - para Portugal.

Vestido com uma camisola grená, as cores da seleção venezuelana de futebol, Gregório diz que a votação de hoje “é um desastre”.

“Sem meias palavras é um desastre total. [Maduro] quer impor-se, como lhe dá na gana, como sempre fez. Lamentavelmente não há quem o pare”, reconheceu.

“Por muito que tenhamos uma maioria da oposição na Assembleia Nacional – uma maioria do povo – os outros quatro poderes estão a favor do poder executivo. Mas tudo acaba por cair com o seu próprio peso e algum dia o tempo dará razão”, realçou também.

A convocatória para a Assembleia Constituinte foi feita a 01 de maio pelo Presidente, Nicolás Maduro, com o principal objetivo de alterar a Constituição em vigor, nomeadamente os aspetos relacionados com as garantias de defesa e segurança da nação, entre outros pontos.

Ao convocar as eleições, Maduro alterou a forma de votação e as circunscrições por forma a que as zonas rurais (nas quais o regime tem mais apoio) tenham mais poder de voto que, por exemplo, a capital Caracas (onde o anti-chavismo é mais forte). Também proibiu candidaturas apoiadas por partidos (ainda que muitos dos candidatos provenham dos partidos que apoiam o governo) e a organizou a constituição do futuro órgão para que este venha a ser composto por organizações que o regime apoiou diretamente ao longo dos anos.

A oposição venezuelana, que decidiu não participar nas eleições, acusa Nicolás Maduro de pretender usar a reforma para instaurar no país um regime cubano, adiar as eleições e perseguir, deter e calar as vozes dissidentes.