Em declarações à saída de uma conferência internacional de solidariedade sobre a crise de migrantes e de refugiados na Venezuela, celebrada em Bruxelas, Augusto Santos Silva considerou o evento “importante por duas razões complementares”, a primeira das quais “manter a questão da Venezuela, quer na sua dimensão política, quer na sua dimensão humanitária, na agenda internacional”.
“Nós não podemos olhar para o problema da Venezuela como infelizmente olhamos para tantos outros problemas no mundo, que nos parecem bloqueados, congelados, e de que tendemos a esquecer-nos. Não, é preciso manter na agenda internacional e na agenda europeia a questão da Venezuela”, sustentou.
O ministro apontou que a Europa em particular tem “razões muito evidentes” para manter o assunto na agenda, pois “basta pensar que há cerca de 1 milhão de residentes na Venezuela que tem também uma nacionalidade europeia, sejam portugueses, sejam espanhóis, italianos, holandeses ou de outras nacionalidades”.
“E a segunda razão é porque temos de trabalhar ao mesmo tempo na procura de uma solução política pacífica e democrática para o conflito venezuelano, mas também no apoio aos países vizinhos que estão a sofrer os efeitos de um fluxo migratório e de refugiados como a América Latina nunca conheceu”, prosseguiu.
O ministro apontou que, neste momento, “são 4,5 milhões de pessoas que já saíram da Venezuela para a Colômbia, Brasil, Peru, Chile, Argentina, Equador e tantos outros países vizinhos, e infelizmente a estimativa das Nações Unidas é que esse número possa chegar aos 5 ou aos 6 milhões no decurso do próximo ano”.
No caso concreto dos luso-venezuelanos, Augusto Santos Silva, lembrando que “Portugal tem investido os seus meios em primeiro lugar no apoio à sua comunidade”, ao qual já afetou mais de 16 milhões de euros, apontou que “neste momento, mais de 10.000 pessoas oriundas da Venezuela demandaram a Portugal na condição de regressados, quer dizer, cidadãos de nacionalidade portuguesa ou de origem portuguesa que emigraram, ou cujos respetivos pais ou avós tinham emigrado para a Venezuela, e regressaram, a maioria deles para a Região Autónoma da Madeira e também para o continente, designadamente para a zona norte do distrito de Aveiro”.
“Temos também cidadãos venezuelanos que imigraram para Portugal. Os números do SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] relativos ao ano passado documentam mais de 3.000 cidadãos de nacionalidade venezuelana, portanto imigrantes, que se estabeleceram em Portugal, onde aliás têm dado uma contribuição muito interessante ao nosso mercado de trabalho e, portanto, uma contribuição muito interessante ao nosso crescimento económico”, prosseguiu.
Por outro lado, acrescentou, “também há na ordem dos milhares cidadãos de origem portuguesa que estavam estabelecidos na Venezuela e que reemigraram para países vizinhos”, sobretudo para o Brasil e para o Panamá, “mas também outros países vizinhos”.
“O que isto quer dizer é que, neste momento, é já na ordem das dezenas de milhares os cidadãos de origem portuguesa que estavam na Venezuela que regressaram a Portugal ou que se deslocaram para países vizinhos. O que é que isso significa? Significa que a larguíssima maioria da comunidade luso-venezuelana continua a residir na Venezuela. E por isso é que, do ponto de vista do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, a prioridade número um continua a ser favorecer uma solução política interna, pois só essa dá as condições de estabilidade de que a nossa comunidade precisa e que merece”, declarou.
A esse propósito, comentou que “é preciso ter sempre em atenção que o problema venezuelano é na raiz político”.
“A Venezuela não tem problemas de recursos. É, aliás, dos países mais ricos do ponto de vista dos recursos naturais de toda a América Latina”, sendo mesmo “a primeira reserva mundial de petróleo”, pelo que “o problema é político”, e só resolvendo esse problema é possível “resolver problemas sociais, económicos e humanitários”, completou.
O ministro referiu ainda que a conferência de solidariedade celebrada entre segunda-feira e hoje em Bruxelas teve “uma finalidade sobretudo política, preparando o caminho para que haja depois compromissos também financeiros no sentido de que, quer o Alto Comissariado para Refugiados (da ONU), quer a Organização Internacional das Migrações, disponham do financiamento indispensável às suas operações de apoio à Venezuela”.
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