“Nas primeiras horas da manhã de 30 de março de 2020, o navio de cruzeiro RCGS RESOLUTE foi objeto de um ato de agressão da Marinha da Venezuela em águas internacionais, a aproximadamente 13,3 milhas náuticas da Ilha de La Tortuga, com 32 tripulantes e sem passageiros a bordo”, explica-se no comunicado divulgado na quarta-feira pela empresa que explora a embarcação.
Segundo a empresa, no momento do incidente o cruzeiro “já estava à deriva há um dia, na costa daquela ilha, para realizar uma manutenção de rotina de um motor”, em viagem para Willemstad, Curaçau.
“Enquanto era feita a manutenção, no motor principal de estibordo, o motor principal de bombordo, para o lado do porto, foi mantido em espera, para manter uma distância segura da ilha”, explica-se.
O Columbian Cruise Services (CCS) disse ainda que “logo após a meia-noite” de segunda-feira (05:00 de terça-feira em Lisboa), “o cruzeiro foi abordado por um navio da Marinha venezuelana que por rádio questionou as intenções” da sua presença “e deu a ordem para o acompanhar" até Porto Moreno, na ilha venezuelana de Margarita.
“Como o RCGS RESOLUTE navegava em águas internacionais, o capitão queria reconfirmar esse pedido específico, que resultava num sério desvio da rota programada do navio, com a empresa DPA”, afirma-se.
Enquanto “o capitão contactava os escritório central, foram feitos disparos de pistola” e o barco da Marinha venezuelana “aproximou-se do lado de estibordo a uma velocidade de 135° e colidiu deliberadamente” com o cruzeiro.
“A embarcação da Marinha continuou golpeando o arco de estibordo, numa aparente tentativa de fazer virar a cabeça do cruzeiro em direção às águas territoriais da Venezuela”, acrescenta-se na mesma nota.
Segundo a CCS, embora o cruzeiro “tenha sofrido danos menores, que não afetaram a sua navegabilidade, a embarcação da Marinha sofreu graves danos, ao fazer contacto com a proa bulbosa reforçada para o gelo” do RCGS RESOLUTE - cruzeiro que faz expedições para o gelo -, “e começou a entrar água”.
O cruzeiro esteve pronto a apoiar, permanecendo mais de uma hora nas proximidades do local “e contactou o Centro de Coordenação de Resgate Marítimo (MRCC) do Curaçau, organismo internacional que supervisiona todas as emergências marítimas", garantiu.
"Todas as tentativas de contatar as pessoas a bordo da embarcação da Marinha não tiveram resposta”, assegura-se no comunicado.
A empresa disse ainda que só retomou a navegação depois de receber instruções “do MRCC para continuar e de que não era necessária assistência adicional”.
O Ministério da Defesa da Venezuela anunciou na terça-feira que um navio da Marinha venezuelana naufragou na segunda-feira após uma colisão com o cruzeiro de bandeira portuguesa “Resolute”, a norte da ilha de La Tortuga, localizada a 181 quilómetros a nordeste de Caracas.
Segundo o Ministério da Defesa da Venezuela, pelas 00:45 de segunda-feira (05:45 em Lisboa), a lancha da Guarda Costeira “Naiguatá GC-23” realizava “tarefas de patrulhamento marítimo” no mar territorial venezuelano, quando “foi atingido pelo navio de passageiros ‘Resolute’ (122 metros de comprimento e 8.300 toneladas de deslocamento), de bandeira portuguesa”.
A colisão ocorreu quando a embarcação da Marinha “fazia um procedimento de controlo de tráfego marítimo, o que gerou danos de grande magnitude” no barco da Guarda Costeira venezuelana, explica-se no comunicado.
Entretanto, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela comunicou o sucedido à embaixada de Lisboa em Caracas, através de uma nota verbal.
"Nós responderemos tão breve quanto possível à nota verbal da Venezuela. Este incidente, qual quer que seja a sua natureza é um incidente que não deve perturbar as relações de Estado a Estado, entre a Venezuela e Portugal, quanto mais tratando-se de um navio privado e de um incidente isolado cujas responsabilidades podem e devem ser apuradas", disse Augusto Santos Silva.
Na terça-feira o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou o cruzeiro de bandeira portuguesa “Resolute” de ter realizado um ato de “terrorismo e pirataria” contra o navio da Marinha venezuelana.
Nicolás Maduro instou as autoridades do Curaçau, território holandês, onde o navio está ancorado neste momento, a investigar este “ato de pirataria internacional”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse ontem que existe disponibilidade para investigar o incidente entre um navio com pavilhão português e uma lancha da Marinha de Guerra venezuelana rejeitando tratar-se de um incidente entre Estados.
"O incidente que envolveu um navio privado sob pavilhão português e uma lancha da Marinha da Venezuela não é um incidente entre Estados e o que os Estados devem fazer é colaborarem entre si para que a verdade seja apurada. Do ponto de vista do Estado português há toda a disponibilidade para essa colaboração", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.
"Vamos ver o que se apura no inquérito porque o momento não é para acrescentar palavras a palavras. O momento é para apurar os factos. Insisto que pelo simples facto de o incidente ter ocorrido é a todos os títulos lamentável", conclui Augusto Santos Silva.
De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros Portugal vai pedir igualmente a colaboração das autoridades holandesas de Willemstad, Curaçau, onde se encontra aportado o paquete.
Comentários