“Procuramos ajudar as mulheres em situações vulneráveis, ensinando-lhes o ofício de costura, para as ajudar a progredir através de um trabalho digno, e ao mesmo tempo promover uma moda modesta”, explicou uma das irmãs missionárias à agência Lusa.
Segundo Andrea Acevedo Vargas, a primeira fase do projeto foi a formação, durante a qual houve um ‘workshop’ sobre costura, modelação, corte, empreendedorismo, vendas. Também sobre manequins feitos de material reciclado e um retiro espiritual, em três cantinas comunitárias que dirigem em dois bairros de Caracas.
Por outro lado, explicou que estão atualmente na fase de “produção da nova marca e linha de moda Jacinta”, para o que elegeram algumas das mulheres que receberam formação, acrescentando que a aposta é fazer que o projeto seja autossustentável.
Sobre o uso do nome da pastorinha de Fátima, justificou que a escolha se deveu ao facto de Jacinta Marto ser “a santa, não mártir, mais jovem da Igreja Católica” e que “foi uma das crianças que viu Nossa Senhora de Fátima, em 13 de Maio de 1917”.
“Antes de morrer, Jacinta teve várias ‘visitas privadas’ (aparições) de Nossa Senhora que lhe disse que viriam modas que ofenderiam muito a Deus. Então nós, respondendo à mensagem de Nossa Senhora de Fátima, através de Santa Jacinta, quisemos chamar assim ao projeto e promover uma moda elegante, bonita, mas que preserva a dignidade do corpo feminino, da mulher”, explicou.
A irmã Andrea Acevedo explicou ainda que o slogan do projeto é “qualidade, elegância e autenticidade” e que por isso procuram, com ajuda de voluntárias, “um equilíbrio entre elegância, intemporalidade e funcionalidade”.
“Ainda estamos a trabalhar nos modelos para que sejam elegantes, mas juvenis, frescos e que possam ser utilizados em qualquer ocasião”, frisou, precisando que a Jacinta “é uma marca que recicla”, por isso usam entre “80 e 90% de tecido novo” em cada peça de vestuário, “mas todas têm um detalhe estampado ou uma cor diferente, feito com material reciclado”.
Sobre as mulheres que confecionam as peças, explicou que muitas não concluíram os estudos básicos nem estavam a trabalhar, mas que “agora têm um emprego decente, recebem um ordenado e são capazes de manter as suas casas com o rendimento que recebem através da costura”.
Andrea Acevedo explicou ainda que “há muitas maneiras de ajudar o projeto” e quem sabe coser ou desenhar pode ajudar como voluntário, quem tiver roupa em bom estado, que já não usa, pode doá-la e quem quiser também pode financiar.
“Além de encontrar uma peça que gosta, quem compra faz uma doação ao mesmo tempo, porque uma percentagem das vendas da Jacinta vai para a educação. Temos duas escolas, onde atendemos mais de 2.000 alunos e 10% das vendas vão para a educação”, explicou.
No atelier de costura, situado no oeste de Caracas, há alguns meses que a modista portuguesa Assunção Maria Gonçalves de Ramos colabora com o projeto, formando dois dias por semana as novas costureiras.
Em declarações à Lusa, explicou que “é muito importante que as raparigas tenham uma profissão, que aprendam a defender-se, a confecionar peças de vestir, para sustentar o projeto”.
“Começámos por fazer blusas, calças, saias e vestidos. Agora fazemos um pouco de cada coisa e um trabalho social para que gente com poucos recursos tenha um ofício”, explicou.
Para Assunção Maria Gonçalves dos Ramos, é importante “ver a mulher bem vestida, elegante, mas conservadora, não tão destapada”.
Para Milay Torres, tem sido “uma experiência fabulosa ver que, a partir de um padrão simples, de uma peça de tecido, se pode fazer uma peça de roupa”. “E o facto de ser feita pelas minhas próprias mãos é fabuloso”.
Afirmou que é importante “resgatar essa parte da mulher que se tem perdido com o tempo e as modas” e agradece a Deus pela oportunidade, pois agora pode dar ao pai “os medicamentos de que precisa para o Alzheimer e a diabetes”.
A aluna Maria Elena Vera Villalba ganhou um concurso com um traje feito à mão e agora tem o desafio de aprender a coser à máquina.
Por: Felipe Gouveia da agência Lusa
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