As 21 recomendações, hoje divulgadas num relatório, foram geradas no âmbito do “Projeto + Longevidade”, um ‘think thank’ dedicado ao impacto da vacinação no adulto.
Este projeto foi coordenado pelo laboratório de investigação Nova Center for Global Health, da Universidade Nova, que conta, entre outros, com o antigo diretor-geral da Saúde Francisco George e os antigos ministros da Saúde Adalberto Campos Fernandes e Luís Filipe Pereira.
Os especialistas de diferentes áreas da saúde propõem “uma maior aposta e atenção política à prevenção por vacinação, em vésperas da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, através de uma amplificação do atual PNV, com o propósito de incluir um calendário vacinal dirigido à faixa etária do adulto, bem como de reforçar e destacar a narrativa preventiva ao longo da vida e as indicações vacinais dirigidas à população mais velha e vulnerável”.
Recomendam também o reforço da intervenção das Unidades de Cuidados na Comunidade e das Unidades de Saúde Pública ao nível dos cuidados primários, e a definição de novos modelos de avaliação e financiamento público, potencialmente alinhados com indicadores de cobertura, ganhos em saúde e qualidade de vida.
Segundo o relatório, “Portugal é um dos poucos países da União Europeia onde ainda não existe uma estratégia abrangente de vacinação especificamente dirigida ao adulto, seja por via de um calendário vacinal isolado ou integrado no programa de vacinação nacional, ou por via da narrativa de comunicação e sensibilização dirigida à população”.
“Um cenário que se reflete não só no facto de este ser o quarto país onde a população idosa tem menos anos de vida saudáveis após os 65 anos, como também se traduz numa despesa que, se forem projetados para Portugal dados de países similares, se poderá exprimir em 245 milhões de euros em custos diretos e indiretos para tratar patologias preveníveis por vacinação como a Doença Pneumocócica, Gripe, HPV, Herpes Zoster (Zona) e Vírus Sincicial Respiratório (VSR)”, destaca o documento já entregue no parlamento.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública e deste projeto, Francisco George, salientou a importância desta iniciativa em que os especialistas analisaram o que “deve ser feito, para não só prolongar a vida de todos”, como para que os anos ganhos sejam vividos com qualidade.
Os peritos concluíram que, além dos comportamentos e dos estilos de vida, “há medidas concretas, nomeadamente a aplicação de vacinas, que visam evitar determinadas doenças” e as suas complicações, assim como reduzir a probabilidade de vir a morrer dessas patologias, disse, observando que 25% da população portuguesa tem 65 ou mais anos, o que não pode ser ignorado.
As vacinas também diminuem a necessidade de hospitalização, a admissão em cuidados intensivos e gastos em medicamentos, assim como menos baixas médicas, realçou Francisco George, apontando, em particular, a vacina de dose elevada contra a gripe que o Estado distribui gratuitamente aos maiores de 85 anos, mas que também está indicada para outras idades.
“Numa perspetiva democrática, para evitar iniquidades, fazia todo o sentido que estas vacinas fossem disponibilizadas também a portugueses com idades mais baixas”, defendeu.
Além desta vacina, há outras que devem ser administradas aos maiores de 65 anos, como as da pneumonia, VSR, bem como para outras doenças que têm “uma probabilidade menor de provocar a morte, mas que surgem e provocam doença com incapacidade temporária”, como é o caso da Zona.
Para o especialista em Saúde Pública, o investimento na compra destas vacinas seria “em poucos meses compensado”.
Citada em comunicado, a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, afirma que a vacinação nos adultos já é parte do PNV, mas adiantou que a DGS está a “fazer pareceres e novas propostas”, para a poder “expandir e alargar com base na melhor evidência científica”.
Os especialistas apelam à ação por parte dos decisores políticos, profissionais de saúde e da sociedade em geral para a adoção de uma abordagem proativa na vacinação do adulto.
“São propostas com fundamentação científica e agora, os políticos, os deputados, os governantes, devem ter em conta aquilo que é dito e confirmado em termos médicos e científicos”, defende Francisco George.
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