Segundo Helena Araújo, filha da violoncelista, Madalena Sá e Costa foi diagnosticada há poucos dias com uma infeção pulmonar e “morreu serenamente”, em casa, durante a madrugada de hoje.
O funeral acontece na terça-feira, às 15:00, na Igreja de Cedofeita, no Porto, e o corpo será sepultado no Cemitério de Agramonte, ao lado da irmã, a pianista Helena Sá e Costa (1913-2006).
Neta do violinista fundador do Orpheon Portuense e primeiro diretor do Conservatório de Música do Porto, Bernardo Moreira de Sá, filha do compositor Luiz Ferreira da Costa e da pianista Leonilda Moreira de Sá e Costa, Madalena Sá e Costa formou com a irmã, a pianista Helena Sá e Costa (1913-2006), uma dupla de intérpretes e educadoras que marcou a cena musical do Porto e do país.
"Quando nasci, creio que se ouvia música por toda a casa", escreveu, em 2008, num livro de “Memórias e Recordações”.
No Orpheon, viu passar vários dos principais nomes da música internacional da primeira metade do século XX, como Wilhelm Backhaus, Edwin Fischer, Wilhelm Kempff e até Maurice Ravel, como contou à revista Glosas, em 2015.
Sobre a sua infância e juventude recordou, numa outra entrevista à Antena 2: "A minha irmã, Helena Sá e Costa, e eu tínhamos o quarto no primeiro andar. Pelas 09:00, já ouvíamos o nosso pai tocar piano no andar de baixo. Acordar assim todos os dias era estupendo. Foi dessa forma que conheci quase todas as obras: muito Beethoven, muito Schubert, muito de tudo”.
“Nós estudámos sempre em casa. Já havia liceus na altura, mas os meus pais preferiram que fosse assim. Eles eram pianistas e tocavam muito com a Guilhermina Suggia, que era um fenómeno que tinha aparecido há pouco tempo. Tinham muitos ensaios, quer cá em casa quer na casa dela. Faziam a junção do piano com o violoncelo. O primeiro instrumento que toquei foi o violino. O meu avô tinha um ‘Guadagnini' e, quando ia almoçar a casa dele, fugia para a sala onde estava guardado esse violino e tocava umas notas. Às vezes, punha-o entre os joelhos e tocava-o na posição de violoncelo”, disse, na mesma entrevista.
Ainda à Antena 2, Madalena Sá e Costa declarou que, quando os pais lhe perguntaram se queria estudar um instrumento e, se sim, qual, respondeu violoncelo por influência de Guilhermina Suggia.
“Os meus pais ficaram um bocado admirados e preocupados. Ela só tinha uma discípula, a Maria Alice Ferreira, e as lições eram caríssimas. Era complicado para os meus pais. Quando eles lhe falaram, ela começou por dizer que não ensinava as primeiras notas. De maneira que as primeiras aulas que tive até foram com o pai dela, o Augusto Suggia. Mas, às tantas, ela lembrou-se do meu avô, que começou a ensinar-lhe música quando ela tinha uns 4 anos. E assim me aceitou como discípula”, explicou.
Assim se apaixonou pelo violoncelo, tendo uma disputa recorrente com a irmã sobre qual dos instrumentos era o mais importante – se o violoncelo ou o piano.
“Nisso nunca nos entendemos. Mas a minha mãe não deixava que bulhássemos. Aos poucos, fomo-nos entendendo maravilhosamente bem. Adorava a minha irmã mais velha. Muito inteligente. Gostávamos imenso de a ouvir", disse.
Nascida no Porto em 20 de novembro de 1915, Madalena Sá e Costa estreou-se aos 19 anos no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, tendo completado o conservatório em 1940 e concluído a sua formação musical com, entre outros, Paul Grümmer, Sandor Végh e Pablo Casals.
Antes, em 1935, por iniciativa do pianista alemão Edwin Fischer, Madalena Sá e Costa e a irmã frequentaram os cursos de música em Potsdam e atuaram, em trio com Fischer, pela Alemanha, França e Bélgica.
Foi professora no Conservatório de Música do Porto e no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, onde formou dezenas de gerações de músicos.
Ao longo de uma carreira em que trabalhou com maestros como Pedro de Freitas Branco ou Frederico de Freitas, Madalena Sá e Costa recebeu, entre outros, os prémios Orpheon Portuense (1939), Emissora Nacional (1943), Morrisson, da Fundação Harriet Cohen (1958), Guilhermina Suggia/Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1966.
A violoncelista tocou ainda em orquestras, sob a direção dos maestros Ivo Cruz, Fritz Riegger, Jacques Pernood, Gunther Arglebe, Ferreira Lobo, Pedro Blanch e Silva Pereira, e fez parte da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1966-84), da Orquestra Sinfónica do Porto (1970) e da Camerata Musical do Porto (1979-89).
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