No debate exibido na noite de terça-feira na RTP3 entre a candidata Marisa Matias, apoiada pelo Bloco de Esquerda, e Vitorino Silva, apoiado pelo RIR (Reagir, Incluir, Reciclar), o tom geral foi ameno, não tendo existido qualquer confronto direto ou críticas entre as propostas dos candidatos.

As críticas dirigiram-se ao atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cujo primeiro mandato, considerou Marisa Matias, foi “mais negativo do que positivo” com vários "bloqueios" à esquerda.

“O Presidente da República foi, já no exercício das sua funções, um bloqueio a entendimentos de esquerda que eram importantes que tivessem vingado e isso creio que é uma das características do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa que obviamente se irá prolongar num segundo mandato, embora eu não pense que fazer futurologia é das coisas que mais ganha”, apontou a candidata bloquista.

Marisa Matias recordou as “posições antagónicas” com Marcelo em relação ao Banif e ao Novo Banco, vincando que o país precisa de um Presidente que “contrarie os bloqueios em relação às respostas que precisamos para a crise” e não “alguém que ajude a manter os bloqueios ou que ainda acrescente bloqueios aos que já existem”.

Já Vitorino Silva acusou Marcelo de colocar muitas vezes “a esperteza à frente da inteligência” e considerou que um segundo mandato do atual Presidente vai ser prejudicial ao primeiro-ministro, António Costa.

Para o candidato, os dois políticos “andaram a embalar-se um ao outro” mas, previu, “se o PS votar em massa no Marcelo e o Marcelo tiver 70%, a primeira pessoa a ser posta de lado vai ser o António Costa” porque o Presidente “nunca mais vai precisar” do primeiro-ministro, considerou.

Marisa Matias foi ainda questionada sobre as declarações no debate com Ana Gomes, realizado na segunda-feira, no qual a socialista admitiu que existiram conversas sobre a possibilidade de uma candidatura comum numa "primeiríssima fase".

A candidata bloquista esclareceu que as duas candidatas falaram enquanto amigas mas que fundir candidaturas "nunca foi um tema".

E sublinhou: “Eu acho que nós não temos um excesso de candidaturas à esquerda nestas eleições e por acaso até temos um problema é com a demissão do partido do governo em não ter avançado para estas eleições. Não temos excesso, temos é um défice”.

Quanto a Vitorino Silva, apresentou a sua candidatura como “uma candidatura de esquerda às direitas”.

Questionados sobre a famosa “bazuca” europeia, que pretende amenizar as consequências económicas causadas pela pandemia da covid-19, o candidato apoiado pelo RIR alertou para a necessidade de uma aplicação prática e visível “ao povo” dos fundos europeus e Marisa Matias elogiou o trabalho de cooperação da União Europeia em relação à vacina, deixando críticas, no entanto, aos montantes e à proporção entre subvenções e instrumentos de endividamento destes fundos.

Já no fim do debate, Marisa Matias tentou evidenciar alguma divergência com o candidato Vitorino Silva, apontando que este foi contra a ‘geringonça’, mas o tom manteve-se ameno, com ambos a concordar nos perigos de movimentos populistas.

Além de Marisa Matias e de Vitorino Silva, também são candidatos à Presidência da República o atual chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, André Ventura, Tiago Mayan Gonçalves e João Ferreira.

As eleições presidenciais estão agendadas para 24 de janeiro.