"É muito lento, já passaram mais de 40 anos, mas continuamos a lutar por essa justiça, eles continuam a lutar por essa justiça, e o Presidente da República continua a apoiá-los nessa luta", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas.

O chefe de Estado visitou a ADFA para apresentação do livro "Deficientes das Forças Armadas - a geração da rutura", e aproveitou a presença do antigo Presidente da República António Ramalho Eanes para o homenagear como "um dos impulsionadores" e "referência cimeira desta associação".

Na intervenção que fez durante esta cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se aos antigos combatentes da guerra colonial que enchiam a sala como "homens que, com sentimento patriótico e espírito de altruísmo, defenderam o seu país quando a isso foram chamados".

"Vós sois os nossos heróis, num tempo de ditadura e de fim de ciclo imperial e colonial. Nesse capítulo intenso, dramaticamente intenso da nossa história. E quando olhamos para vós, continuamos a ver, para além de tudo o que foi sofrido, vida, capacidade de luta, orgulho, lealdade e amor. O Presidente da República manifesta aqui perante todos vós a rendida admiração, penhorada, de todos os portugueses", disse-lhes.

O chefe de Estado e comandante Supremo das Forças Armadas terminou o seu discurso declarando: "Mesmo quando alguns dos mais responsáveis demoraram ou demoram a fazer-vos integral justiça, Portugal, que o mesmo é dizer milhões de portugueses, não vos esqueceram, não vos esquecem, não esquecem a vossa doação nacional. Não esquecem hoje, e nunca esquecerão no futuro. Muito obrigado".

Questionado depois pelos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a considerar que os antigos combatentes "não foram devidamente tratados, por várias circunstâncias, umas têm a ver com a revolução, com o pós-revolução, a estabilização da democracia portuguesa, o facto de as pessoas se ocuparem mais com o presente do que olharem para a prestação de justiça a quem a merecia no passado próximo".

Sobre o livro hoje apresentado, o Presidente da República descreveu-o como "um relato cru, e por isso credível, do que aconteceu", com "relatos impressivos, na primeira pessoa, que descrevem as pequenas e grandes coisas, factos e sentimentos, dos universos fechados, do íntimo de cada um, das dificuldades sentidas, do sofrimento individual ou partilhado".

Nesta cerimónia estiveram também presentes, entre outros responsáveis políticos, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, a primeira pessoa cega a integrar um governo, e Jorge Falcato, o primeiro deputado da Assembleia da República em cadeira de rodas, que foram especialmente saudados.

O presidente da direção nacional da ADFA, João Gaspar Arruda, agradeceu a Ana Sofia Antunes "o trabalho que está a desenvolver a favor de todos os cidadãos com deficiência em Portugal", e saudou o deputado do Bloco de Esquerda: "Meu caro camarada Jorge Falcato, bem-vindo de novo a esta casa, neste caso concreto, como deputado. O parlamento também está mais rico, porque já tem cidadãos com deficiência".

João Gaspar Arruda dirigiu-se ainda ao secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello, também presente, para lhe dizer que "alguns camaradas estão de fora dos direitos", e considerou que a ADFA tem no Presidente da República "um grande amigo".