“No fundo, o problema central que a globalização coloca não é muito diferente daquela que se colocou ao nível de cada Estado no início do século XX. A grande diferença é que na altura tínhamos uma instituição política clara que eram os Estados onde podia haver a decisão política necessária (…) O que falta é haver essa sociedade política global que tenha essa capacidade de organização”, disse, na Web Summit, a decorrer em Lisboa.
Num painel sobre a globalização, o chefe do governo considerou ter ficado claro que, a par da “redução significativa da desigualdade e da pobreza a nível global”, ficou patente nos últimos anos que a globalização produziu um aumento das desigualdades no interior dos países” e que “a classe média dos países mais desenvolvidos tem sofrido com o processo”.
“Tem havido uma grande assimetria. As fronteiras abriram-se para a circulação de bens e capitais, mas não têm a mesma facilidade em abrirem-se para a circulação de pessoas. E muito menos para a efetiva circulação de valores e ideias”, afirmou.
Ladeado pelo ex-primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, e pelo líder da organização sindical internacional UNI, Phillip Jennings, António Costa advogou que, ao invés de fomentar o protecionismo ou fechar as fronteiras às migrações, a resposta deverá ser “globalizar também as chaves do sucesso de integração e desenvolvimento”, promovendo aspetos como a educação, formação, inovação tecnológica, direitos sociais, um mercado de trabalho justo e uma melhor distribuição da riqueza.
“Eu claramente acho que o caminho não é fechar fronteiras, nem por via do protecionismo comercial, nem por via da construção de muros (…) O que é absolutamente necessário fazer é dar respostas globais aos desafios globais. A solução para a questão da competitividade não pode ser uma corrida para fundo, mas a promoção dos direitos sociais, laborais à escala global. Se o resultado da globalização for que os países da Europa, os países mais desenvolvidos vão ficar com ´standards´ ambientais menos exigentes, menor qualidade alimentar, menores direitos laborais, necessariamente o que estaremos a fazer é a dar força aos populismos, travando o desenvolvimento económico”, sustentou.
Para António Costa, a União Europeia (EU) tem sido um bom exemplo de “como as diferentes regiões se podem organizar e ter uma estrutura política de decisão que ajude a regular a globalização de forma a que ela possa servir todos, com uma prosperidade mais partilhada”.
E sustentou que Portugal tem demonstrado que “é possível cumprir as regras comuns” europeias “com políticas diferentes das que foram seguidas anteriormente”.
“Uma das apostas fundamentais foi repor no centro da política económica a revalorização dos rendimentos, porque essa é uma questão chave (…) e é isso que tem sustentado um crescimento significativo do investimento (…) que não aposta numa estratégia falhada de apostar nos baixos salários e destruição de direitos”, observou.
Ao seu lado, também George Papandreou considerou que a globalização tem posto em causa o “contrato social” de responsabilidade partilhada que tem sido o fundamento dos Estados europeus.
“O capital pode movimentar-se livremente e o que fez foi abandonar as suas obrigações para com as sociedade, quer através de uma corrida para o fundo indo para os locais onde o custo do trabalho é mais baixo ou os ´standards´ambientais são mais baixos (…) E concentram uma quantidade enorme de dinheiro e de poder”, disse.
Para Papandreou, deveria ser criado “um contrato social global baseado nos valores da equidade, democracia e proteção dos direitos humanos”.
“A verdadeira crise é que temos assuntos globalizados. E como é que trabalhamos juntos ? Não será através dos mercados (…) Temos de trabalhar juntos, de ter uma forma de contrato a nível global. É por aqui que os partidos progressistas têm que caminhar. Porque senão teremos uma reação. Vamos ter novos ´brexit´ ou perseguição aos migrantes”, comentou.
Philip Jennings, secretário-geral da ´UNI Global Union´ aplaudiu, por seu turno, a forma como o atual governo português questionou as políticas de austeridade impostas pela ´troika´ - “Nunca mais podemos repetir essa experiência, foi um abuso de poder”, defendeu -, afirmando que “o atual modelo de globalização falhou” e que é necessário “um tratado de paz” para “encontrar um novo modelo”.
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