“É preciso discutir os valores comuns europeus (…) Mas é preciso também criar os mecanismos para os reforçar em todos os Estados membros da União Europeia. Os defensores dos nossos valores, dos valores da democracia, têm sido muito tímidos na defesa desses valores. Os populistas falam alto e não têm receio disso”, disse, falando num painel na Web Summit sobre o futuro da Europa.

Num debate que acabou dominado pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia, o responsável romeno alertou para a necessidade de os direitos dos cidadãos europeus serem protegidos “com garantias e não apenas retórica” após o ´brexit´, apelando também para uma maior contenção e responsabilidade na utilização de dados no debate político.

“Todos os Estados-membros da UE têm de estar de acordo sobre o desfecho das negociações”, alertou Victor Negrescu.

Considerando que os responsáveis europeus ficaram “demasiado instalados enquanto as mentalidades mudavam” nas periferias, também Mona Siddiqui, da Universidade de Edimburgo, defendeu ser necessário mostrar que há valores pelos quais “vale a pena lutar”.

“Há um sentimento para algumas pessoas de que a história já não interessa, que a história é linear, que é apenas sobre tecnologia e progresso e que a UE vai lá chegar. Mas há outra história nas periferias da Europa que quer outra história. Por isso, não é simplesmente sobre a democracia, mas um certo tipo de democracia pela qual vale a pena lutar. Penso que ficámos demasiado instalados enquanto as mentalidades mudavam”, disse.

A irlandesa Brigid Laffan, diretora do Robert Schuman Centre lançou o ataque mais contundente da tarde ao ´brexit´, considerando o processo uma “experiência” cujo desfecho é “altamente incerto”.

“Um dos grandes paradoxos do ´brexit´ é o facto de constituir uma experiência de campo gigantesca e bem real de ´desglobalização´ e ´deseuropeização´. E o que descobrimos no processo negocial é que isso é extremamente difícil num mundo altamente interdependente. E o Reino Unido está a começar a perceber as vantagens que essa integração tem. A perceção de que se pode reconquistar a soberania como existia no passado num mundo de grande interdependência vai provar ser completamente errada. E o que vemos é que hoje a soberania é a capacidade de influenciar e ter uma voz. E a verdade é que não sabemos quais vão ser os custos desta experiência”, disse.

Em favor do ´brexit´, Alex Deane, diretor da ´FTI Consulting Strategic Communications´ defendeu que as negociações entre Bruxelas e Londres “têm sido muito mais normais do que surge nos media” e que “têm sido feitos progressos”.

“É notável que estejamos a ter esta conversa como se fosse ´business as usual´ quando sabemos que há realidades económicas na Europa com consequências mais desastrosas. O crescimento da maior parte dos países europeus não consegue acompanhar a dívida que geraram. Era melhor que a União Europeia e os governos nacionais dedicassem mais tempos às respetivas realidades nacionais”, afirmou.