"A sua participação na cerimónia de Nova Iorque estava prevista, mas recebemos a informação de que não vai participar", disse uma fonte à Lusa. A informação foi posteriormente confirmada por outras fontes em Nova Iorque e em Díli.
Nenhuma das fontes explicou os motivos da ausência de Xanana Gusmão da assinatura do documento, que vai decorrer às 17:00 de terça-feira (22:00 em Lisboa e 07:00 de 07 de março em Díli) na sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
Na semana passada, o Governo timorense já tinha anunciado que, ao contrário do que estava inicialmente previsto, o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não participaria na cerimónia em Nova Iorque.
Na altura, o executivo explicava que "não fazia sentido" a ida de Mari Alkatiri depois de ter sido confirmado oficialmente que o chefe do Governo australiano também não estaria presente.
Esta semana, o executivo emitiu uma nota a clarificar que "depois de contactada a Missão Permanente da República Democrática de Timor-Leste junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Governo da Austrália não terá tido a intenção de se fazer representar na cerimónia de assinatura do acordo de delimitação de fronteiras marítimas entre Timor-Leste e a Austrália através do seu Primeiro-Ministro, Malcom Turnbull, mas sim através da Ministra dos Negócios Estrangeiros, Julie Bishop".
A ausência dos dois líderes ocorre depois de meses de tensão política entre o Governo de coligação, liderado pela Fretilin, e a oposição, liderada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão.
A tensão levou à decisão do Presidente da República Francisco Guterres Lu-Olo de dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas.
Caso os dois líderes tivessem viajado até Nova Iorque, seria o primeiro encontro entre ambos desde que Xanana Gusmão saiu de Timor-Leste, em setembro do ano passado. O líder timorense ainda não voltou ao país.
O tratado vai ser assinado pelo atual ministro Adjunto do primeiro-ministro para a Delimitação de Fronteiras, Agio Pereira - representando Timor-Leste - e pela ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Julie Bishop, representando a Austrália.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o presidente da Comissão de Conciliação, Peter Taksøe-Jensen, que mediou as negociações entre os dois países, testemunham a assinatura.
A agenda prevê que as duas delegações se encontrem antes da cerimónia de assinatura, a que se seguirão declarações dos dois signatários e das duas testemunhas e, posteriormente, uma conferência de imprensa conjunta.
O dia deve terminar com uma receção oficial em que se esperam declarações de Julie Bishop e Agio Pereira.
O tratado, cujos contornos exatos ainda não são conhecidos, coloca a linha de fronteira na posição defendida por Timor-Leste, ou seja, equidistante dos dois países, como Díli sempre reivindicou, segundo confirmaram à Lusa fontes que participaram nas negociações.
Uma linha que a administração colonial portuguesa, os ocupantes indonésios e os dirigentes timorenses desde sempre defenderam que deveria ser colocada onde agora vai ficar e que formaliza a posse de recursos que, até aqui, Timor-Leste teve que dividir com Camberra.
O tratado resulta de um teste aos instrumentos da Lei do Mar e, em concreto, ao Procedimento de Conciliação Obrigatória (PCO).
Onze intensas rondas negociais, ao longo de 19 meses, para alcançar um acordo que os mais otimistas pensavam que demoraria anos e que os mais pessimistas achavam impossível.
As negociações, com o apoio de um painel de cinco especialistas internacionais e a assistência do Tribunal Permanente de Arbitragem, decorreram no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Lei do Mar (conhecida pela sigla UNCLOS).
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