Os ambientalistas entendem que “a aposta na transição para veículos elétricos não é suficiente, sendo necessário um grande investimento na ferrovia e uma aposta de fundo nos transportes públicos ajustada às diferentes realidades do país”.
A Zero, presidida por Francisco Ferreira, comentava assim o relatório “Direcionando as políticas de transportes europeias no caminho da neutralidade carbónica”, que analisa as políticas do setor dos transportes na Alemanha, Dinamarca, França, Polónia e Portugal, e em que a Zero participou.
Para Francisco Ferreira, “o setor dos transportes requer uma intervenção de fundo e uma mudança de paradigma para se conseguir alcançar a neutralidade carbónica em Portugal”.
“A aposta em melhores transportes públicos e em particular na ferrovia é fundamental para uma descarbonização efetiva da economia portuguesa”, defende o ambientalista.
Num comunicado hoje divulgado, a Zero lembrou que o setor dos transportes “representou 28% do total de emissões de gases com efeito de estufa, causadoras das alterações climáticas – a maior percentagem de sempre desde 1990”.
Em Portugal, as emissões do setor dos transportes “continuam a aumentar anualmente, indo no sentindo inverso da trajetória necessária para cumprir as metas nacionais e europeias”.
“A maior parte destas emissões são devidas ao transporte rodoviário individual, que continua também a aumentar anualmente, verificando-se atualmente uma das maiores proporções na distribuição modal no transporte de passageiros, em toda a Europa”, refere a Zero.
O relatório também sublinha que “mesmo nos países europeus mais pequenos, a aviação se tornou um meio de transporte frequente para distâncias relativamente curtas dentro dos vários países”, assinala a Zero.
Os ambientalistas lembram ainda que, em Portugal, “a percentagem de voos internos em 2018 atingiu quase 10% do total do mercado de transporte aéreo, o mesmo se verificando na Dinamarca, um país onde as distâncias aéreas são inferiores a 300km”.
“Em países maiores como a França e a Alemanha, apesar da sua oferta relativamente boa em ferrovia de alta velocidade, as percentagens de voos domésticos são também muito elevadas, 33% e 18% respetivamente”, realça a Zero no comunicado.
De acordo com o relatório, os números justificam-se também pelo facto de haver uma “disponibilidade de bilhetes de avião a preços muito baixos comparativamente com os preços dos bilhetes de comboio”.
“O relatório recomenda a criação de planos de ação estratégicos para a transição destes voos de curtas distâncias para ligações ferroviárias, principalmente de alta velocidade, através da adequada internalização dos custos externos do transporte aéreo”, refere a Zero.
O documento também realça que “transferência modal não está a ser tão promovida como a mudança para combustíveis alternativos”, com apenas a Alemanha a ter metas para “duplicar o número de passageiros na ferrovia entre 2020 e 2030”, tendo também “políticas e medidas tais como a redução dos impostos nos bilhetes de comboio de longa distância e a aplicação de impostos adicionais no transporte aéreo”.
De acordo com o relatório, “os Estados-membros não têm uma abordagem unificada na internalização dos custos externos ligados a este setor, o que cria inconsistências e sinais de mercado contraditórios a nível da UE [União Europeia]”.
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