“Temos algumas questões em relação ao plano de ação no sentido em que, por exemplo, tem um horizonte temporal muito curto, não apresenta metas que possam ser mobilizadoras da ação”, disse à agência Lusa Susana Fonseca, da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero.

Depois de analisarem o Plano de Ação para a Economia Circular, que esteve em consulta pública até sábado, os ambientalistas vêm realçar a necessidade de estratégias mobilizadoras a envolver diferentes parceiros, pois esta é uma mudança que “vai implicar transformações estruturais muito importantes”.

Chamam a atenção para a concretização da aposta na prevenção e reutilização, assim como na educação e formação de pessoas que possam responder à esperada necessidade de profissionais que, por exemplo, reparem equipamentos elétricos, mas também móveis ou têxteis.

Outra proposta que realçam é a mudança a operar nas compras públicas, com o Estado a dar o exemplo e a integrar critérios de circularidade na aquisição de produtos ou serviços.

“Tem de haver colaboração das empresas, ONG [Organizações Não Governamentais], partidos políticos” para obter “coerência e continuidade das políticas públicas e certezas para os agentes económicos”, acrescentou Susana Fonseca.

Para conseguir o impacto esperado e tornar possível viver em equilíbrio com os recursos do planeta, “vamos ter de transformar de forma muito significativa o modo como estamos habituados a produzir e a consumir”, alertou.

Os ambientalistas defendem que isso só é possível com um plano de ação com uma visão de longo prazo, até 2030 e não 2020, e “metas onde chegar” e o documento apresentado pelo Governo “peca um pouco pela ausência destas visões de longo-prazo” para as diferentes áreas.

Esta é “talvez das maiores lacunas que o plano apresenta, porque até tem aspetos importantes” e, por exemplo, apresenta eventuais fontes de financiamento para as ações, “embora não diga – e esse é o problema – quanto vai ser necessário mobilizar em cada área”, explicou Susana Fonseca.

Apontou também como preocupante a “credibilidade dos dados”, nomeadamente nos resíduos, área em que “há imensos problemas”, uma questão que não está, segundo a Zero, no plano.

Sobre a posição de Portugal na discussão europeia do pacote economia circular, a ambientalista disse que, “em áreas como metas de prevenção e de reutilização, Portugal não tem tido uma posição progressista e isso preocupa” a Zero.

Uma das apostas da economia circular é a reutilização de modo a reduzir os recursos explorados e a fazer menos lixo e para Susana Fonseca é fundamental começar a preparar, desde já, os currículos escolares para poderem responder a esse desafio.

A reciclagem é outra alternativa que deve ter “metas ambiciosas” nos diferentes fluxos de resíduos (urbanos, industriais, hospitalares, agrícolas), acrescentou.

“Dada a transformação que será necessária, será fundamental ter campanhas alargadas utilizando os diferentes meios de comunicação, estamos a falar de uma mudança cultural”, insistiu ainda.