Portugal vai novamente receber uma prova de cariz FIA (Federação Internacional do Automóvel), desta vez com o destaque no Campeonato do Mundo de Resistência. Uma competição que, em 2023, tem muitas novidades, como um conjunto de regras que a fazem entrar numa nova era.

A caravana do mundial de resistência chega ao Algarve após a ronda inaugural nos Estados Unidos da América, na mítica pista de Sebring. A Toyota, com toda a sua sabedoria acumulada nos anos recentes, voltou a vencer, mas, viu-se uma réplica de atitude por parte da Ferrari, que colocou um dos seus carros na pole position para a corrida americana.

Os desafios da apelidada montanha-russa são muitos e ao SAPO24, Henrique Chaves, piloto vencedor das 24h Le Mans em 2022 na classe LMGTE, explicou que as muitas curvas cegas tornam difícil o traçado. Para além disso, as alterações de elevação e o desafio acrescido das dobragens é algo a que os pilotos têm de ter em atenção.

"É uma pista que é uma montanha-russa. Um dos grandes desafios é as curvas cegas, ainda por cima com uma corrida com várias classes em pista. Isso significa carros a chegaram às curvas mais rápido do que outros. É um desafio para os pilotos, não só para quem 'dobra', mas também para quem é 'dobrado'", começou por explicar Henrique Chaves.

"Para os carros mais rápidos, os Hypercars, pode haver dificuldades acrescidas. São os carros mais rápidos, mas mais sensíveis em termos aerodinâmicos, e caso se verifique o fator 'vento', em algumas travagens esse pode dificultar. Na curva cinco, ou seja, o gancho interior, é uma travagem complicada com vento de cauda. A chegada à curva sete e oito, com o vento lateral pode ser um local muito complicado. Por fim, a chegada ao ponto mais alto, descer e depois subir à curva 10 e 11, essa travagem, com vento por trás, pode causar alguns incidentes", detalhou o piloto natural de Torres Vedras.

No final, Henrique Chaves espera uma grande corrida em Portimão, esperando "um grande espetáculo" e que isso dê aso a que o WEC continue a visitar o Autódromo Internacional do Algarve.

Olhando para os pilotos em pista, a defender as cores portuguesas estarão António Félix da Costa, no Oreca LMP2 do Team Jota, Miguel Ramos e Guilherme Oliveira no Porsche 911 da equipa Project 1-AO. A dupla portuguesa aproveitou o facto dos pilotos habituais deste carro estarem a competir no IMSA este fim de semana para rodaram no circuito português.

Para Guilherme Oliveira, esta é a estreia no Campeonato do Mundo de Resistência FIA WEC, depois do grande arranque de temporada com a presença nas 24h de Daytona, prova a contar para o IMSA, que se corre em Daytona International Speedway. Ao SAPO24, Oliveira mostrou-se muito contente e entusiasmado, como explica, por este convite "de última hora".

"Foi um convite de última hora. Tive a felicidade da equipa me chamar e agarrei a oportunidade. É sempre excelente correr no WEC e tendo eu 18 anos, completados há pouco tempo, para além de ser um objetivo realizado, é um sonho. A pista é Portimão, é basicamente a minha casa, é onde eu completei mais voltas. Sendo das minhas favoritas, estou confiante, mas tudo é novo para mim. Já dei algumas voltas de GTs, mas competir é a primeira vez, por isso vai ser um processo de aprendizagem até à corrida, mas estou confiante que tudo vai correr bem. Quanto à corrida, quero aprender ao máximo".

António Félix da Costa reconhece que esta é uma despedida. O piloto português, que também corre na Fórmula E, estará na categoria LMP2, mas em princípio a equipa Jota já deve receber o seu Hypercar na próxima ronda.

Em comunicado, Félix da Costa afirmou que o Autódromo Internacional do Algarve é o melhor palco para se despedir da categoria LMP2, confirmando os "grandes momentos neste carro no WEC, um deles a vitória aqui em Portimão em 2021, mas na altura infelizmente sem público nas bancadas. Este fim-de-semana a festa será grande e estou ansioso por correr em Portimão e estar com os meus fãs, família, amigos e apoiantes. Tenho dois pilotos jovens ao meu lado, mas que têm potencial e já o mostraram este ano, portanto acredito que poderemos ter uma palavra a dizer na luta pela vitória".

Oliveira fará tripla com o português Miguel Ramos e o italiano Matteo Cairoli. Ramos, piloto já muito experiente nestas andanças, campeão do Fanatec GT World Challenge Europe Pro-AM Global e Sprint em 2021 e 2022, campeão International GT Open em 2015 e 2020 e campeão por equipas no Campeonato FIA GT em 2007, 2008, 2009 e 2010.

Para Oliveira, a presença de Miguel Ramos como seu companheiro de equipa é algo "muito bom". O jovem piloto explicou ao SAPO24 que "ter o Miguel no carro dá sempre para aprender e tirar muita informação. Somos todos bronze e ele pode fazer a diferença, estamos todos muito confiantes".

Para além dos pilotos portugueses presentes em pista, fazer referência a Jacques Villeneuve, campeão do Mundo de F1 em 1997 e vencedor das 500 milhas Indianápolis em 1995. Também pilotos mais recentes que passaram pelo pelotão da F1 como António Giovinazzi, Pietro Fittipaldi, Robert Kubica, Kamui Kobayashi e Daniil Kvyat. A estes juntam-se Esteban Guerrieri, Andre Lotterer, Sebastien Buemi, Brendon Hartley, Paul di Resta, Jean-Eric Vérgne e Giedo Van der Garde. Mas também antigos campeões do WEC como Earl Bamber, Mike Conway, Buemi, Loic Duval, Romain Dumas, Lotterer, Kobayashi, Hartley, José Maria Lopez e Ryo Hirakawa, Kevin Estre, Michael Christensen, Alessandro Pier Guidi, James Calado e Nicki Thiim. Entre muitos outros.

A prova portuguesa arranca já amanhã com as sessões de treinos livres, qualificação no sábado e corrida no domingo a partir do meio dia, com transmissão no Eurosport 2 e transmissão integral no site do Eurosport. 

As corridas de resistência são marcadas por várias classes em pista. A principal, com os carros mais rápidos e mais espetaculares é a dos LMDh e LMH (Hypercars). São dois tipos de protótipos, que em convergência de regras entre o Campeonato de Resistência Americano (IMSA), e o Campeonato do Mundo (FIA World Endurance Championship (WEC)), concordaram em quebrar barreiras para que as equipas pudessem levar os carros aos dois campeonatos.

A classe rainha, os Hypercars, é a que atrai a maior atenção. Para esta nova era, para além da Toyota (que transita de anos anterior), chegam a Ferrari, a Porsche, Cadillac, Vanwall, Peugeot e Glickenhaus. A Alpine e a Lamborghini só estarão nesta classe em 2024. Nesta classe, para já existe apenas uma equipa privada, a Hertz Team Jota, que vai competir com os Porsche, que ainda não foram entregues. António Félix da Costa, atual Campeão do Mundo de LMP2 no FIA WEC estará ao volante de um.

Para além da classe rainha, ainda existem as classes de protótipos LMP2 e a classe de carros de GTs, a LMGTE. A LMP2 consiste em carros com o mesmo motor (4.2l V8 da Gibson), com chassis apenas da Oreca, Ligier e Dallara. Chegaram a produzir cerca de 600cv, mas hoje em dia estão limitados, perante a classe Hypercar. Os LMGTE vêem uma grande mudança para 2023, com a extinção da classe LMGTE Pro, a LMGTE Am passa a ser a única categoria de GTs no FIA WEC. Para já, mantêm-se o Ferrari 488 GTE, o Aston Martin Vantage AMR, os Porsche 911 RSR a que se junta o Chevrolet Corvette C8.R