Desde que o Palmeiras demitiu Vanderlei Luxemburgo, uma série de nomes tem sido especulados como novo treinador alviverde. O mais recente, e mais próximo de um final feliz, é Abel Ferreira, treinador português, recém-demitido dos gregos do PAOK. Luxemburgo tinha sido contratado no começo do ano com a missão de mudar o estilo de jogo palmeirense, rumo a uma proposta de futebol mais ofensivo.

Na verdade, nos últimos anos, o Palmeiras postulou-se como o maior rival do Flamengo em termos financeiros e teve, até, bastante sucesso em campo com títulos, mas sem um futebol que empolgasse. Após o sucesso de JJ no ano passado, o Palmeiras resolveu mudar o seu estilo de jogo e privilegiar o desempenho sobre o resultado, mas Luxemburgo falhou nessa missão (como, aliás, era de se prever).

Financeiramente, esse movimento de mudança procurou, também, dar mais espaço a talentos da formação para mudar o seu perfil de aquisições, sendo um clube que gastou muito com jogadores caros nos últimos anos, com o apoio de um patrocinador. A Crefisa, mecenas desse investimento, é mais do que um simples apoiante. Leila Pereira, dona da empresa, tem ambições políticas no clube e dever-se-á candidatar à presidência alviverde nas próximas eleições.

O Palmeiras conseguiu a recuperação financeira após passagens pela Série B com o apoio de um presidente milionário e alcançou o status atual com o investimento da empresária apaixonada. Entretanto, sendo os clubes brasileiros associações, há sempre tensão política internamente. O investimento feito pressiona o clube a ter resultados melhores do que os que vem tendo e essa pressão foi muito forte, no ano passado, com a ascensão do Flamengo.

Abel Ferreira encontrará um plantel com nomes que brilharam nos últimos anos no Brasil, mas que hoje estão acomodados no banco de reservas do clube como Rony, Lucas Lima e Gustavo Scarpa. Além deles, há muito talento jovem na equipa com os promissores Gabriel Menino, que já foi convocado para a Seleção Principal, e Patrick de Paula, dois médios de bastante habilidade técnica e intensidade. Eles compõem, hoje, a espinha dorsal da equipa junto com os experientes Weverton (Seleção Brasileira), Felipe Melo (ex-Seleção Brasileira), Gustavo Gomez (Seleção Paraguaia) e Luiz Adriano (ex-Seleção Brasileira).

O desafio será recuperar alguns dos jogadores em baixo no clube, pois não haverá, pelo menos enquanto durar a crise da Covid-19, muito dinheiro para investir. O clube reduziu a folha de pagamentos livrando-se de alguns desses jogadores caros e subaproveitados, mas é ainda uma das maiores do Brasil. No entanto, mesmo com um grande prejuízo em 2020, o Palmeiras ainda é o segundo clube que mais fatura no Brasil e está em posição bem mais confortável que os seus rivais.

Comparando com os líderes atuais do campeonato, o Palmeiras deveria, só considerando o seu investimento, estar a lutar com Inter e Atlético-MG para ser o principal rival do Flamengo pelo troféu. Não está. Apesar de ter vencido o campeonato estadual, nunca empolgou em campo sob o comando de Luxa e acumulou empates antes da sequência de derrotas que derrubou o treinador.

Analisando friamente, o plantel do clube deveria ser o suficiente para uma disputa entre os quatro primeiros. Há carências, principalmente após a venda de Dudu para o mundo árabe, mas, mesmo assim, é mais forte e equilibrado que a maioria dos clubes brasileiros. Contudo, falta qualidade no planeamento.

Se o objetivo era melhorar o jogo em campo após as lições de Jorge Jesus, que mostraram o abismo entre o jogo comum no Brasil e o desempenho do Flamengo, não seria com Luxemburgo — cujo auge já passou há mais de 15 anos — que o Palmeiras se modernizaria.

Tamanha falta de planeamento fez com o que o clube ficasse mais de duas semanas sem treinador, após demitir Luxemburgo, e que uma série de nomes, com perfis completamente variados, fossem especulados. O Palmeiras sabe onde quer chegar, mas não sabe como lá chegar. Quer alcançar o Flamengo, em estabilidade financeira, em faturação, mas, principalmente, em desempenho e repercussão. Quer aparecer, mas ainda não tem muito claro como fará isso.

Abel Ferreira precisará de chegar e entender rapidamente o ambiente dentro do clube, mostrar em campo um jogo sedutor para receber elogios da imprensa e diretores, recuperar jogadores e melhorar os jovens do plantel. Mas mesmo se fizer tudo isso, sofrerá pressão se o Flamengo superar o Palmeiras.

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