A 81ª edição da Taça de Portugal colocou no relvado do Estádio Cidade de Coimbra um inédito Sport Lisboa e Benfica frente ao Sporting Clube de Braga. Coimbra repetiu a honra de receber o “festa do povo”, sem, no entanto, a presença do dito.
Pelo segundo ano consecutivo, acolheu a final à porta fechada, como mandam os protocolos sanitários. “Espectadores”, só mesmo o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, os presidentes, Luís Felipe Vieira (Benfica) e António Salvador (Braga) e elementos e equipas técnicas das duas equipas.
A cidade do Choupal testemunhou ainda o regresso, 19 anos depois, de Carlos Carvalhal a uma final e à procura de vencer pela primeira vez este jogo especial. O treinador bracarense de 55 anos esteve no Jamor, ao serviço do Leixões, da extinta II Divisão B, perdendo para o Sporting Clube de Portugal, na época 2001-2002. Tudo agora foi diferente frente ao outro “Grande” do futebol nacional.
No outro banco sentou-se Jorge Jesus, o tal treinador que regressou ao Benfica para ganhar tudo, mas que termina a época de mãos vazias. No curriculum, constam três finais da Taça de Portugal, por três clubes diferentes. Belenenses, Benfica e Sporting, mas só o clube da Luz lhe permitiu, por uma vez, subir a escadaria até à Tribuna de Honra do Jamor e tocar no caneco, em 2014.
Uma subida e experiência que Rafa, hoje no Benfica, já conheceu por duas vezes, defendendo dois emblemas, em dois anos consecutivos. Primeiro, com os Arsenalistas, em 2016, seguido da conquista de águia ao peito, 12 meses depois.
As repetições da festa da Taça não se ficam pelo campo da bola. Assumem estatuto institucional. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e confesso adepto bracarense, voltou, na qualidade presidencial, a ver o clube do coração erguer o segundo maior troféu do futebol nacional.
Esteve, tal como há cinco anos, no início de mandato, em 2015-2016, no lugar mais alto do Estádio (do Jamor) para cumprir o dever de Estado. Uma segunda vitória vista de cima quando a primeira, 50 anos antes, foi acompanhada de baixo, ao nível do relvado, no Estádio Nacional, corria o ano de 1966, um ano quente na vida política portuguesa.
Uma final na qual o jovem Marcelo deu asas à sua juventude, tentou distribuir afetos pelos jogadores do Braga e viria a levar “uma marretadazinha patriótica, suave e doce", conforme recordou, então como Marcelo, comentador, em entrevista ao site da Federação Portuguesa de Futebol.
Uma final inédita também em cartões vermelhos
Quando entraram em campo para disputarem a final da Taça de Portugal Placard, Braga e Benfica carregavam um histórico diferente na competição. Os encarnados somavam 26 triunfos e 38 finais, enquanto os Guerreiros do Minho iam para a sétima final, tendo ganho duas e perdido quatro. Finalistas vencidos da Taça da Liga, cumpriam a segunda final da época.
Quase se pode dizer que o jogo começou aos 18 minutos, quando o avançado internacional sub-21 espanhol, Abel Ruiz desmarcou-se de toda a defesa encarnada, tentou ultrapassar Helton Leite e sofreu uma carga fora da área do último homem da linha atrasada benfiquista.
Nuno Almeida puxou do cartão vermelho. Do banco, Jorge Jesus pedia “fora de jogo”, mas quem foi mesmo parar fora do jogo foi o guarda-redes brasileiro. Em inferioridade numérica, o treinador do Benfica prescindiu do capitão Pizzi e colocou Odysseas Vlachodimos.
Com mais espaço, foi o Braga que cresceu em campo. Galeno puxou o pé direito atrás, sem sucesso. Ruiz, na cara do guarda-redes grego não quis ser egoísta e colocou, com doçura, o esférico em Ricardo Horta. O pé de Otamendi tirou o pão da boca ao médio quando o banco do Braga já festejava golo, mas seria o outro banco, do Benfica, a festejar como se tivessem concretizado um.
O que quase aconteceu ao minuto 45. Seferovic, num remate cruzado levou Pizzi a ajoelhar-se. A bola seguiu para canto e na sequência da bola parada, Weigl aproveitou um ressalto à entrada da área e disparou. Matheus mostrou-se à altura.
A baliza bracarense ficou imaculada, mas o mesmo não se passou nas redes contrárias.
Odysseas, na área, afastou a bola com os pés, permaneceu fora da sua zona de ação e Lucas Piazón, de chapéu, fez o primeiro golo da partida.
Em vantagem em duplo sentido, numérica e no marcador, os comandados de Carlos Carvalhal caíram em cima da formação orientada por Jorge Jesus.
Vertonghen conseguiu voltar a roubar um golo a a Ruiz. Galeno, encostado à linha lateral, galgou metros, levanta a bola, tira um adversário do caminho, entrou na área e quis picar tanto à saída do nº99 das águias que a “redonda” foi saltitar para a pista de tartan. Ricardo Horta bem se esticou para ver as redes a abanar e um ligeiro toque do central belga impediu que Ruiz armasse o remate certeiro na cara do internacional grego.
O Braga vivia momentos de “ora falhas tu, ora falho eu”, quando Jesus mexeu, de forma tripla, no onze. Da primeira vez, e quase única, que Darwin contactou com a bola atirou, de cabeça, por cima. Instantes depois foi a vez de Rafa desperdiçar.
O clube lisboeta começava a aparecer, embora de forma fugaz. Carvalhal mexeu. Entrou João Novais e Al Musrati, lesionado, que debaixo de muitos aplausos deu o lugar a André Horta.
Os arsenalistas recuperam a organização. O jovem avançado espanhol, em evidência, voltou a mostrar-se. Recebeu, rodopiou o rematou. E, depois de uma recuperação de Ricardo Esgaio, “deu” o golo a Ricardo Horta.
Faltavam cinco minutos para o apito final. Os gritos não vieram da bancada, mas sim do banco de suplentes e staff bracarense que invadiram em bloco o relvado.
Ruiz cedeu o lugar a Sporar, duas expulsões - Piazón e Taarabt – uma para cada lado após uma enorme confusão entre jogadores e fim de jogo. Foi a primeira vez no século XXI que uma equipa na final da prova rainha teve dois jogadores expulsos.
O Braga conquistou a terceira taça do seu historial e Carvalhal, a primeira da carreira. E Andraz Sporar, emprestado pelo Sporting, alcançou o triplete em 2020-2021, troféus divididos por dois clubes. Taça da Liga e campeonato nacional pelos leões e Taça de Portugal, com os Guerreiros do Minho.
E já agora, Rolando, que venceu ao serviço do Porto, André Horta (Benfica), Gaitán (Benfica), Castro (FC Porto), Ricardo Esgaio (Sporting) e Borja (Sporting), regressam à Pedreira com o segundo troféu ao serviço do segundo clube.
Jorge Jesus e Benfica ficam a zero numa época que apostaram muitos milhões.
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