Portugal está bem representado na 33.ª edição da CAN, prova que arranca hoje nos Camarões, como jogo inaugural entre os anfitriões e o Burkina Faso (16h00) e prolonga-se até ao dia 6 de fevereiro.

Há 21 jogadores que atuam nos campeonatos nacionais, da Liga (Porto, Guimarães, Moreirense Portimonense, Vizela, Estoril e Boavista) que dispensou 11 atletas ao Campeonato de Portugal, onde o Marinhense viu um dos seus jogadores ser convocado, dois treinadores, António Oliveira, à frente dos Camarões, país organizador, e Carlos Queiroz, no comando Egito e duas seleções oriundas de Países Africanos de língua Oficial Portuguesa (PALOP), Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Zaidu, lateral esquerdo nigeriano do FC Porto e o guienense Nanu levam as cores portistas até África sendo os azuis e brancos o único dos Três Grandes presentes na principal competição africana. Feddal (Sporting) e Taarabat (Benfica) não estão entre os eleitos de Marrocos. O Vitória de Guimarães, por sua vez, é o clube nacional mais representado: Mumin (Gana), Sacko (Mali) e Alfa Semedo (Guiné-Bissau).

Carlos Queiroz lidera os “faraós”, seleção mais galardoada no Campeonato Africano das Nações. Recordista com 25 presenças e sete títulos, o último conquistado em 2010, a equipa de Mohamed Salah é uma das favoritas a receber os 4,5 milhões de euros do prémio do vencedor. António Oliveira, à frente dos “leões indomáveis” carrega igualmente esse ónus partilhado com os campeões em título, a Argélia da estrela do Manchester City, Riyad Mahrez, Yacine Brahimi (ex-FC Porto) e do avançado Islam Slimani (ex-Sporting) e, eventualmente, com o Senegal, melhor seleção africana no ranking FIFA (20.ª).

Cabo-Verde (2013 e 2015) e Guiné-Bissau (2017 e 2019), países lusófonos ambos na terceira aparição na montra africana, juntam-se, este ano, na mesma edição. Os “tubarões azuis” chegaram aos quartos-de-final na estreia, em 2013 e os djurtus (cães selvagens), como são conhecidos os futebolistas da seleção nacional da Guiné-Bissau, com onze futebolistas a atuar em Portugal, nunca passaram a fase de grupos.

A língua portuguesa estará na boca dos selecionadores Pedro Brito (Cabo Verde) Baciro Candé (Guiné- Bissau) e Didier Gomes da Rosa (Mauritânia) e no apito de Hélder Martins de Carvalho (Angola) e nas bandeiras dos assistentes Jerson Emiliano dos Santos (Angola) e Arsénio Maringula (Moçambique), três vozes portuguesas entre 64 árbitros, uma “equipa” onde cabe um quarteto feminino multilinguístico - Salima Mukasanga (Ruanda), Bouchra Karboudi e Fatiha Jermoumi (Marrocos) e Carine Atemzabong, dos Camarões.

Os cinco Grandes da Europa aterram em solo africano

Dois países fazem a estreia no campeonato de África da Nações. Comoros (132.º do ranking FIFA), pequena ilha no Índico a meio caminho entre Madagáscar e a Costa Oriental de África, no Grupo C (Gabão, Gana e Marrocos) e Gâmbia, incluída no Grupo F, com a Mali, Tunísia e Mauritânia.

Disputada numa altura em que os campeonatos na Europa fazem a passagem das suas competições para a segunda volta, o CAN “rouba” algumas das grandes estrelas que atuam nos palcos europeu, especialmente em França, Inglaterra, Itália, Espanha, Portugal e Holanda.

A fuga afeta líderes dos campeonatos europeus, como sejam o argelino Mahrez (Manchester City), o costa-marfinense Ibrahim Sangaré (PSV), Hakimi (PSG), Bouna Sarr (Bayern Munique) e os já citados Zaidu e Nanu (Porto) e também os clubes que estão na luta pelos títulos nacionais, como é o caso de Salah, Mané e Keita, do Liverpool, provavelmente o clube entre os grandes que maior impacto sofrerá, Mendy (Chelsea), Haller (Ajax), Franck Kessie (Milan) e Kalidou Koulibay (Nápoles). O central napolitano e Eduard Mendy, guarda-redes do Chelsea, desfalcam o Senegal no jogo de estreia com o Zimbabué após testarem positivo à covid-19.

11 jogadores em campo. Com ou sem guarda-redes

A pandemia da covid-19 será um dos temas a marcar a CAN 2021, competição dispersa por cinco cidades (Yaoundé, capital, Douala, Garoua, Bafoussam e Limbe) e em seis estádios limitados entre 60% e 80% da lotação máxima.

De acordo com o divulgado pela organização, as seleções são obrigadas a ir a jogo desde que tenham um mínimo de 11 jogadores com teste negativo para o novo coronavírus.

A eventual indisponibilidade de guarda-redes (entrará para o seu lugar um outro qualquer jogador) não inibe a realização da partida, mas o comité organizador reserva o direito de “tomar uma decisão apropriada” em “casos excecionais” para lidar com eventual crescente número de casos positivos nesta luta desigual com o “bicho” que entrou nas nossas vidas.

Leões e águias em maioria no mundo animal

18 das 24 seleções presentes vestem alcunhas de animais dando cor e som à competição africana de países. Há peixes, os coelacanth, um peixe pré-histórico dos Comoros e os tubarões azuis, de Cabo Verde, elefantes (Costa do Marfim e Guiné), garanhões (Burkina-Faso), escorpiões (Gâmbia), cabras (Walyas) animal que une a dividida Etiópia, cães selvagens (Djurtus) da Guiné-Bissau, panteras (Gabão) e raposas do deserto (Argélia).

Leões e águias estão em maioria. O “rei da selva” encarna nas camisolas dos Camarões (leões indomáveis), Senegal (leões de Teranga), Marrocos (do Atlas) e Mauritânia (Chinguetti, cidade medieval do centro-oeste). De asas bem abertas surgem o Mali (as águias), Nigéria, adjetivadas de super e na Tunísia (águia de Cartago). Pode também ser considerada no Sudão, país apelidado de falcões e Crocodilos do Nilo.

De fora do 'Jardim Zoológico' está o Zimbabué (guerreiros), Malawi (as chamas), Egito (faraós), Serra Leoa (estrelas), Guiné Equatorial (trovões) e Gana (estrelas negras).

créditos: EPA/GAVIN BARKER

Etiópia um país dividido unido pela bola

Abraços com uma guerra civil sem quartel e disputa étnica e territorial entre o governo central e a Frente Popular de Libertação de Tigré (FPLT), conflito alastrado a outras regiões - Oromia e Amhara -, os jogadores da seleção nacional da Etiópia querem, pelo menos durante a sua participação na competição, demonstrar que vivem e sentem um só país.

Numa entrevista ao site DW, Wubetu Abate, antiga glória etíope, vencedor na única vez que a Etiópia venceu o troféu (1962, disputado em “casa”), agora selecionador, salientou que todos os jogadores “são e representam a Etiópia”, disse.

Wubetu destacou o bom ambiente vivido no quartel-general em Yaounde. "Eles cantam juntos. Quando os jogadores cantam e dançam juntos, isso é representativo da unidade etíope”, acrescentou. “Estar na fase final já é uma grande vitória. Estar no torneio é ainda mais importante para que possamos apagar a imagem da Etiópia”, cuja seleção incluída no grupo de Cabo Verde foi a primeira, entre os participante na CAN 2021, a aterrar nos Camarões.

Os dois primeiros classificados de cada um dos seis grupos têm acesso direto aos oitavos de final, em que terão a companhia dos quatro melhores terceiros posicionados.

A prova arranca oficialmente em Yaoundé, no Estádio Olembe, e termina a 6 de fevereiro, com a final no mesmo local.