“Penso que todos compreendem que, tendo em conta o contexto, a prioridade deve ser dada à consolidação do regresso à ordem pública e, em seguida, ao apaziguamento”, declarou a ministra Amélie Oudéa-Castéra à imprensa, numa etapa da Taça do Mundo de Esgrima de Saint-Maur-des-Fossés, perto de Paris.
“Prioridade à segurança dos habitantes, prioridade ao regresso à calma e prioridade à melhoria política da situação”, disse a ministra francesa, enquanto a violência relacionada com motins na Nova Caledónia, um arquipélago francês no Pacífico Sul, prosseguia hoje com uma sexta morte em seis dias, segundo as autoridades, e uma situação “distante do regresso à calma”, de acordo com o presidente da câmara de Nouméa.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou o cancelamento da passagem da tocha olímpica pelo arquipélago numa reunião com deputados em Matignon, segundo várias fontes concordantes citadas pela agência de notícias francesa AFP.
A chama olímpica chegou com grande pompa e circunstância a 08 de maio a Marselha, a bordo do navio Belem, e deveria atravessar todo o território francês, com passagem pelos territórios ultramarinos franceses, até terminar a sua viagem nas margens do Sena, a 26 de julho, onde acenderá a pira na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 de Paris, as terceiras olimpíadas na capital de França, após as de 1900 e 1924.
“Todos compreendem, gostaríamos de poder partilhar este momento”, embora “até 11 de junho, possa haver alguma evolução favorável” na Nova Caledónia, disse Amélie Oudéa-Castéra, responsável pela preparação para os Jogos Olímpicos de Paris referindo-se às dificuldades relacionadas com logística e segurança.
“Para estarmos prontos a 11 de junho [para a passagem da chama olímpica na Nova Caledónia], há toda uma contagem decrescente e operações de prospeção, verificação e triagem que têm de ser efetuadas. E as forças de segurança, os militares, estão agora ocupados em restaurar a calma, restabelecer a ordem” no território, afirmou a ministra dos Desportos francesa.
Estes tumultos, os mais graves registados na Nova Caledónia desde os anos 1980, foram desencadeados por uma reforma eleitoral promovida por Paris, que altera o recenseamento, retirando peso aos povos autóctones, o que indignou os independentistas.
Há décadas que existem tensões no arquipélago entre os indígenas Kanaks, que pretendem a independência, e os descendentes dos colonizadores, que querem continuar a fazer parte de França.
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional aprovou um projeto de lei que, entre outras alterações, permite que os residentes na Nova Caledónia há dez anos possam votar nas eleições provinciais.
Os opositores dizem que a medida beneficiará os políticos pró-França na Nova Caledónia e marginalizará ainda mais o povo indígena Kanak, que no passado foi alvo de uma política de segregação rigorosa e discriminação generalizada.
Situado a leste da Austrália e dez fusos horários adiantado em relação a Paris, o vasto arquipélago que tem atualmente cerca de 270.000 habitantes tornou-se francês em 1853, sob o comando do imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão.
Tornou-se um território ultramarino de França após a Segunda Guerra Mundial, tendo sido concedida a nacionalidade francesa a todos os Kanaks em 1957.
Em 1988, foi celebrado um acordo de paz entre as fações rivais. Uma década depois, França prometeu atribuir à Nova Caledónia poder político e ampla autonomia e organizar até três referendos sucessivos.
Os três referendos realizaram-se entre 2018 e 2021, e a maioria dos eleitores optou por continuar a fazer parte de França, em vez de apoiar a independência.
O povo Kanak, pró-independência, rejeitou os resultados do último referendo de 2021, que boicotou por ter sido realizado no pico da pandemia de covid-19.
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