“Vou sair desta pandemia mais forte em termos mentais. Desta fase sem saber se íamos competir ou não e quando o íamos fazer. Se os Jogos Olímpicos eram adiados ou não. Se sim, um, dois ou três meses? Um ano, dois anos? A nós atletas, afetou-nos um pouco. Certamente, vamos sair disto mais fortes e com outro tipo de pensamento”, justifica.
Em entrevista à Lusa, o tricampeão da Europa e campeão mundial nos olímpicos K1 1000 metros admite que “pouco” mudou nas rotinas de preparação – essencialmente, trocou Montemor-o-Velho pela ‘sua’ Ponte de Lima – e destaca a “dureza” que é “treinar sem saber para quê”, nomeadamente “sem objetivos a curto prazo”.
“Normalmente, tenho objetivos a curto, médio e longo prazo. A curto eram as Taças do Mundo, o campeonato da Europa e depois os Jogos Olímpicos, estávamos a quatro meses. Agora, temos de estar focados para 2021, que é o grande objetivo. Se tudo correr bem e a evolução do panorama mundial em relação ao vírus começar a melhorar…”, completa.
Se a quente pensou que o adiamento de Tóquio2020 não lhe era favorável, por chegar ao evento já com 31 anos, Pimenta acredita agora que isso não o vai “prejudicar”, recordando que há campeões e medalhados olímpicos “com 37 ou 38 anos”.
“Até pode ajudar, pois fico ainda um pouco mais maduro para os Jogos Olímpicos”, sustenta.
O canoísta limiano, que tem 97 medalhas internacionais no currículo, assume que “pouco mudou” nas suas rotinas enquanto atleta, à exceção do “isolamento social e [do cumprimento de] regras de segurança”, sendo que as maiores alterações foram os constrangimentos a nível pessoal.
Fernando Pimenta, que habitualmente estava mais de 200 dias por ano em estágio com a seleção, revela que “nunca” passou tanto tempo com a namorada, com quem vive há mais de dois anos, considerando, com humor, que este desafio “24 sobre 24 horas, foi um bom teste de sobrevivência”.
O atleta lamenta que a esse “lado positivo” não tenha correspondido igualmente a recuperar o convívio com a sua família, uma vez que estava forçado ao “distanciamento social”, igual ao que deve mantar com amigos e os fãs que regularmente o abordam.
“Deu também para descobrir partes novas da casa, como a sala e o sofá. Fazer um novo ‘amigo'”, ironizou o olímpico, que além de canoagem tem feito ciclismo e atletismo — “procuro treinar em locais e horas sem gente ou com pouca gente” – para manter a forma para uma época que pode terminar sem sequer competir.
O vice-campeão olímpico em K2 1000 em Londres2012, com Emanuel Silva, espera renovar o título nacional em K1 em 15 de agosto, em Montemor-o-Velho, e deseja que se concretize o “boato” de que poderá haver duas competições internacionais.
A confirmar-se, trata-se de “uma taça do mundo e de um Campeonato do Mundo de distâncias não olímpicas”, caso a Hungria, a nação mais forte da modalidade, o consiga organizar em setembro.
Enquanto atleta olímpico e de alto rendimento, Pimenta recorda a “benesse” do Estado pela lei que lhe permitiu continuar a treinar de forma “isolada e solitária”, um trabalho que passa igualmente pelo ginásio do Clube Náutico de Ponte de Lima, que, por questões de segurança, vai usufruindo em exclusivo.
O canoísta assume o “privilégio por poder praticar uma modalidade que não é ‘outdoor'” e, assegura, que é também “segura” para os K2 e K4, recordando o distanciamento dentro do barco e apelando somente a “algum cuidado” na plataforma de entrada para a água.
Mais do que os efeitos desportivos, Fernando Pimenta recorda que “há muitas famílias a passar muito mal nesta fase”, pelo que este é tempo de “respeito e solidariedade”, esperando o canoísta que a sociedade “se consciencialize de que temos de nos ajudar uns aos outros”.
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