“Há uma altura para jogos, uma altura para os negócios e uma altura para assuntos domésticos. Agora, é altura de apenas uma coisa: guerra. Se um futebolista tem força nos membros, então que os use para servir e marchar no campo de combate”, escreveu Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, no eclodir da I Guerra Mundial, 1914-1918.
Com uma faceta pouco conhecida de futebolista amador (guarda-redes, amador, do Portsmouth AC), Conan Doyle opunha-se, então, à decisão da Federação Inglesa de Futebol (FA) de manter os campeonatos de futebol em tempo de guerra.
Era o tempo em que o futebol dava os primeiros passos a nível profissional um pouco por toda a Europa e, na Grã-Bretanha, centenas de futebolistas profissionais britânicos combateram no primeiro conflito global integrado nos chamados Batalhões de Futebol retratado no livro "Quando o apito sopra: a história do Batalhão dos Futebolistas, de Andrew Riddoch. Uma “equipa” onde constavam jogadores do Arsenal, Liverpool, Chelsea, Manchester United ou Tottenham, clubes que, na altura, não tinham o peso de hoje.
O introito serve para apresentar, mais de 100 anos depois, mais um exemplo de um jogador que trocou de campo. Deixou os relvados e prepara-se para subir ao teatro de guerra.
Varazdat Haroyan, defesa central e capitão da seleção arménia, foi chamado pelas Forças Armadas para atuar no conflito na região separatista de Nagorno-Karabakh. Uma convocatória que o país estendeu a todos os homens entre os 18 e 40 anos.
Aos 28 anos, conta com 51 internacionalizações, tendo sido titular no último encontro que opôs Arménia e a Estónia, em jogo da Liga das Nações, no dia 8 de setembro. Não marcou, mas participou na vitória por 2-0. Agora, troca as botas pelas armas — deixando de lado a transferência para os gregos do Athlitiki Enosi Larissa para se alistar no exército. Anteriormente tinha rescindido contrato com o Ural Ecaterimburgo, clube da 1ª divisão russa, onde passou os últimos três anos.
Nagorno-Karabakh foi cenário de uma guerra no início dos anos 1990, na qual morreram cerca de 30.000 pessoas, e, desde então, as autoridades azeris têm tentado recuperar o seu controlo, se necessário pela força, enquanto as conversações de paz permanecem num impasse há vários anos.
Os combates ocorrem regularmente entre separatistas e azeris, bem como entre Erevan e Baku.
Em 2016, os graves confrontos armados quase degeneraram numa guerra em Karabakh e, em julho de 2020, registaram-se igualmente combates entre arménios e azerbaijaneses na sua fronteira.
Apesar de o conflito ter terminado em 1994 e de ter sido sucedido de um cessar-fogo, as tensões na região separatista de Nagorno-Karabakh permaneceram ao longo dos anos, tendo agora subido de tom, com as partes a trocarem acusações sobre quem iniciou as hostilidades.
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