A CCTV substituiu na sua programação o jogo entre o Arsenal e o Manchester City pela transmissão da partida entre Tottenham e Wolverhampton.

A causa para esta mudança está nas declarações de MesutÖzil. O jogador, alemão de origem turca, condenou na passada sexta-feira a suposta repressão da China contra a minoria muçulmana na região oeste do país, criticando também os países muçulmanos por não denunciarem os abusos.

"Alcorões estão a ser queimados... Há mesquitas destruídas... Escolas islâmicas proibidas... Intelectuais religiosos assassinados um após o outro... Irmãos enviados à força para campos", denunciou o jogador no Twitter e Instagram. "Os muçulmanos continuam calados. A voz deles não é ouvida", acrescenta o texto, acompanhado da bandeira do que os separatistas uigures chamam de Turquestão Oriental.

Segundo a BBC, o jornal chinês (de língua inglesa) Global Times acusou Özil de fazer comentários "falsos" e de "desapontar" as autoridades futebolísticas e a Associação Chinesa de Futebol considerou as declarações "inaceitáveis" e que "magoaram os sentimentos" dos fãs chineses.

No rescaldo destas publicações, o clube onde joga Özil, o Arsenal, distanciou-se do ato do seu jogador, recordando tratar-se de uma organização "apolítica".

O basquetebol norte-americano também sofreu recentemente represálias da televisão chinesa, após o apoio do presidente dos Houston Rockets, Daryl Morey, aos manifestantes pró-democracia de Hong Kong, o que levou a tensões diplomáticas entre os dois países.

Documentos internos do Partido Comunista Chinês difundidos no mês passado por um consórcio de jornalistas de investigação revelaram os esforços para assimilar membros das minorias étnicas uigur e cazaque em campos de doutrinação.

As informações foram obtidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, uma rede global com sede em Washington, e verificadas por especialistas independentes, e incluem detalhes sobre o uso de inteligência artificial pelo Governo chinês nas práticas de policiamento, com algoritmos utilizados para estipular quem deve ser detido.

Organizações não-governamentais estimam que cerca de um milhão de pessoas estão detidas nestes campos, num sistema de detenções extrajudiciais.

Antigos detidos dizem ter sido obrigados a renunciar ao Islão, jurar lealdade ao Partido Comunista Chinês, e sujeitos a tortura e outros abusos. Outros dizem terem sido forçados a assinar contratos de trabalho com fábricas, onde são forçados a trabalhar longas jornadas por salários baixos, e proibidos de deixar as instalações durante os dias da semana.

O Governo chinês, que inicialmente negou a existência destes campos, afirmou, entretanto, tratar-se de centros de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade e erradicar o "extremismo" da região.

De resto, esta não é a primeira vez que Özil se vê envolvido num caso de controvérsia política. Em 2018, o jogador foi duramente criticado por tirar uma fotografia com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, numa altura em que este se encontrava em campanha eleitoral. "Eu sou um jogador de futebol, não sou um político", foi a reação do jogador.