"Em maio, encontrei-me com o Presidente Erdogan em Londres, durante um evento de solidariedade. O nosso primeiro encontro foi em 2010 (...) e desde então os nossos caminhos cruzaram-se várias vezes. Estou consciente de que a fotografia possa ter causado uma enorme reação dos media alemães (...) mas a fotografia que tirámos não tinha intenções políticas", diz o jogador em comunicado.
"Como expliquei, a minha mãe nunca me deixou perder de vista as minhas raízes, a minha herança e as minhas tradições familiares. Para mim, tirar uma fotografia com o Presidente Erdogan não tinha nada a ver com política ou eleições, tinha a ver com respeitar o mais alto cargo do país da minha família. Eu sou jogador de futebol e não um político, e o nosso encontro não foi um apoio a qualquer tipo de políticas. De facto, falámos sobre aquilo que falamos sempre que nos encontramos — futebol —, até porque ele também jogou na sua juventude", continua na nota, publicada nas suas redes sociais por partes.
Assim, justifica o jogador, "não me encontrar com o Presidente Erdogan seria um desrespeito para com as raízes dos meus antepassados. (...) Compreendo que isto seja difícil de entender, porque na maioria das culturas o líder político não pode ser encarado separadamente da pessoa. Mas neste caso, é diferente. Independentemente do resultado destas eleições ou das eleições anteriores a esta, eu ainda assim teria tirado a fotografia", escreve.
Reconhecendo que não é perfeito, o jogador diz, no entanto, que não pode aceitar que os meios de comunicação social o culpem repetidamente por uma má campanha da seleção alemã no Mundial da Rússia tendo por base a sua herança cultural e uma simples fotografia.
"Alguns jornais alemães estão a usar o meu contexto pessoal e a fotografia com o Presidente Erdogan como propaganda de extrema-direita para potenciar a sua causa política", alerta o jogador, criticando os media por terem dois pesos e duas medidas, e dando como exemplo Lothar Matthäus, ex-jogador alemão e capitão honorário da seleção, que se encontrou em junho com Vladimir Putin. "A minha herança turca torna-me um alvo mais digno?", questiona Özil.
Neste comunicado, o médio criativo dá ainda conta das consequências da cobertura mediática em torno da sua fotografia, lamentando o cancelamento de uma ação de solidariedade prevista numa escola e do afastamento de patrocinadores, deixando todavia um agradecimento a marcas que se mantiveram com ele apesar de toda a polémica "absurda" criada pelos media, nomeadamente a Adidas, Beats e a BigShoe.
O jogador lamenta ainda que os jornais prefiram noticiar uma fotografia ou as vezes em que foi assobiado, em vez de darem espaço a causas solidárias em que está envolvido e, dessa forma, alertando para os problemas dos mais desfavorecidos.
Özil, que joga no Arsenal desde 2013, foi muito criticado na Alemanha pela sua performance abaixo do esperado, tendo inclusivamente sido apontado como um dos motivos do fiasco da campanha alemã no Mundial da Rússia.
Antes, o jogador viu-se envolvido, desde meados de maio, numa polémica fora das quatro linhas por causa das fotografias tiradas, ao lado de outro jogador da seleção alemã, Ilkay Gündogan, com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que estava, à data, em campanha eleitoral — tendo visto o seu mandato reforçado a 24 de junho, depois de obter mais que os 50% de votos necessários para ser eleito à primeira volta.
Özil e Gündogan encontraram-se com Erdogan em Londres e as imagens provocaram acusações de que os dois não respeitavam os valores alemães. Özil optou por permanecer em silêncio até agora, apesar das críticas que recebeu, inclusive num primeiro momento por parte da Federação Alemã de Futebol (DFB).
O tema ganhou um caráter político e gerou uma grande controvérsia sobre a imigração e a integração dos filhos de estrangeiros na Alemanha, alimentada em grande parte pela extrema-direita.
Parte dos adeptos alemães passaram mesmo a vaiar os jogadores antes e durante o Mundial de Futebol na Rússia. O treinador de guarda-redes da seleção, Andreas Köpke, disse que Özil foi insultado por um adepto quando deixava o relvado após a partida com os sul-coreanos, por exemplo.
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