Os principais atletas portugueses de boccia estão no Centro de Reabilitação da APPC a preparar a participação na prova que vai decorrer nos Emirados Árabes Unidos, usufruindo das instalações de uma instituição que, desde a década de 1980, tem somado campeões europeus, mundiais e paralímpicos.

A preparação dos atletas da APPC está a cargo do professor Ricardo Neves, que, à agência Lusa, elogiou o facto de o Centro de Reabilitação "possuir as condições ideais para a preparação", reunindo aos três campos com as medidas oficiais, as acessibilidades que permitem um rápido acesso às casas de banho e à cantina para fazerem as refeições.

A idade dos 11 atletas varia entre os 24 e os 54 anos, tendo o treinador enfatizado que no boccia "não há veteranos" e assumido que estes partirão para o Dubai confiantes em "trazer os melhores resultados possíveis", numa competição em que "não são apenas as medalhas que interessam".

Neste cenário, a subida no 'ranking' mundial assume "especial relevância", tendo em conta futuras participações em Europeus e Mundiais, explicou o treinador.

Bruno Osório, Abílio Valente, Nélson Fernandes, Avelino Andrade e Manuel Cruz são os atletas da casa e, por estes dias, o seu foco está mais do que nunca na preparação, como referiu à agência Lusa o campeão do mundo na classe BC2 (tetraplégicos com pouca força funcional em todas as extremidades e tronco, mas com capacidade para propulsionar a cadeira de rodas), Abílio Valente.

Há oito anos a integrar a seleção nacional, o atleta treina atualmente "quase seis horas por dia" na APPC, num desempenho, explicou, que, "apesar de ser feito numa cadeira de rodas, é bom em termos físicos, pois antes faz-se musculação".

Atleta de Alto Rendimento e incluído no projeto de preparação para os Jogos Paralímpicos Tóquio2020, Abílio Valente disse "dever tudo ao boccia", que abraçou quando ainda residia em Oliveira de Azeméis.

A modalidade permitiu-lhe não só conhecer Portugal e muitos países do mundo, "como obter a estabilidade" para se manter como atleta de Alta Competição.

A recente decisão do Governo de equiparar os apoios entre atletas olímpicos e paralímpicos "pecou por tardia" para Abílio Valente, que enfatizou o facto de treinarem mais do que um atleta dito normal e, por causa disso, ficarem às vezes "quase um mês sem ir a casa".

De uma modalidade em que o "mais difícil em competição é gerir as emoções", Abílio Valente reconheceu que em Portugal "é complicado fazer a renovação do boccia", afirmando "faltar vontade às pessoas para se tornarem atletas".

Para o presidente da AAPC, Abílio Cunha, o problema da falta de renovação "é real e preocupa", apesar de o boccia sénior ser "um fenómeno nacional e a experiência mostrar que quando é praticado nas escolas, em turmas regulares, todos participam".

Lamentando o facto de não haver "tantos valores a surgir" quanto gostariam, "apesar do esforço nesse sentido", o responsável da APPC apelou ao Governo para que "faça um esforço para que a modalidade entre nas escolas", enfatizando que esta "pode ser praticada até numa sala de aula".

"Este espaço existe desde a década de 1980 e tem a vantagem de ser frequentado por muita gente. Temos tido muitas medalhas, quer em campeonatos do mundo quer nos Jogos Paralímpicos", sublinhou o responsável.

No Dubai, Portugal competirá em BC1 com André Ramos (Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal) e Bruno Osório (APPC), em BC2 com Abílio Valente e Nélson Fernandes (APPC) e Cristina Gonçalves (Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa - APCL), em BC3 com Avelino Andrade (APPC), José Macedo e José Abílio Gonçalves (SC Braga) e em BC4 com Domingos Vieira (SC Braga), Nuno Guerreiro (APCL) e Manuel Cruz (APPC).