Arranca hoje a 45.ª edição do Dakar, pelo quatro ano consecutivo na Arábia Saudita, o terceiro ponteiro geográfico a acolher a mais dura prova de todo-o-terreno do mundo, depois das incursões em África e na América do Sul.

O Dakar 2023, pontuável para o Campeonato Mundial FIA de Rally Cross-Country pelo segundo ano consecutivo, abre as festividades com o prólogo no último dia do ano, no Sea Camp, no Mar Vermelho e prolonga-se até 15 de janeiro, em Dammam, no outro lado da Península Arábica, no Golfo Pérsico, numa jornada de 14 etapas, intercalado com um merecido dia de pausa, a 9 de janeiro, em Riad.

Nos 455 veículos inscritos nas sete categorias - motos, quads, carros, protótipos leves, SSVs, camiões e clássicos –, o maior número desde 2014, entre pilotos e navegadores, cerca de 650 a que se somam perto de 100 na prova clássica, há velhas raposas do deserto, lendas do Dakar, supercampeões em busca de mais um troféu, campeões em título, regressados, novatos, quatro duplas exclusivamente femininas, 17 pilotos de origem portuguesa, um diretor de prova português, Pedro de Almeida, e uma ausência de peso.

Comecemos por quem não vai estar. Anunciado de Leste com a devida antecedência, nos camiões, a armada russa da Kamaz, fabricante oficial do exército às ordens de Putin, vencedor das últimas seis edições, 19 vitórias desde 1996, 18 delas no século XXI, não pisará as dunas sauditas.

O motivo prende-se com o facto de a equipa russa não ter assinado o Código de Conduta da FIA (Federação Internacional do Automóvel), que reconhece o "firme compromisso assumido pela FIA de solidarizar-se com o povo da Ucrânia, a Federação de Automobilismo da Ucrânia e todos os que sofrem com o conflito", na sequência da invasão perpetrada pela Rússia na Ucrânia.

“O conteúdo do documento é de carácter político e viola os princípios de igualdade de condições para os desportistas”, assinalou, em novembro, o fabricante estatal russo, num comunicado. “Consideramos ser impossível assinar este tipo de documentos e participar em pé de igualdade na prova. A nossa escolha é clara, estaremos sempre com a nossa pátria, especialmente quando se encontra numa situação difícil”, reforçou a empresa por detrás do elefante do Deserto, de fora da mítica prova, assim como Dmitry Sotnikov, campeão em título e demais pilotos russos.

Um quarteirão de areia antes de chegar à praia

A edição 2023 atravessa a Arábia Saudita, de mar a mar. O percurso será de 8.549 quilómetros, dos quais 4.706 km cronometrados. Para se ter uma ideia, os pilotos enfrentarão um desafio físico, mental e psicológico numa distância equivalente a um Paris-Pequim (8,212 km).

O trajeto passa por locais já visitados, como os de Al'ula, Ha'il e Riad, terrenos arenosos e rochosos, mas também inclui percursos inexplorados, como é o caso do inóspito “Empty Quarter”, um deserto gigantesco do tamanho de França cujo nome se pode traduzir para "quarteirão vazio".

A maratona neste inexplorado deserto, o território com mais dunas da Arábia Saudita, acontecerá nas fases 11 e 12 do Dakar e durará quatro dias. “É uma zona gigantesca onde a areia impera, especialmente na sua forma mais majestosa: as dunas”, frisou David Castera, diretor do Dakar.

Se a areia e as dunas do “quarteirão vazio” podem assumir-se como prato principal da prova, a praia de Damma, na costa do Golfo Pérsico, onde estará localizada a meta, tem a dignidade de sobremesa para memória futura.

Hélder Rodrigues - Rali Dakar 2023

17 portugueses em prova. Um deles, de regresso

O regresso do piloto Hélder Rodrigues (Can-Am) à competição, seis anos após a última aparição no rali Dakar, é um dos destaques entre os 17 pilotos de origem portuguesa inscritos nas categorias de motas, carros e camiões.

Após 11 participações em duas rodas, entre 2006 e 2017, tendo terminado 10 vezes no top-10, duas delas como 3.º classificado, em 2011 e 2012, Hélder Rodrigues estreia-se nas quatro rodas (SSV), na categoria T3, para protótipos, ao lado do também português Gonçalo Reis, navegador da dupla em representação da equipa South Racing.

“Estou feliz por estar de novo em competição no Dakar. A primeira vez nas quatro rodas será um grande desafio para mim, depois de tantos anos nas duas rodas", frisou o piloto de Sintra, prestes a completar 44 anos. Os SSV são “uma categoria muito forte e competitiva, com muitos pilotos e marcas”, caracterizou. Promete “fazer a melhor classificação possível” e acredita ser possível com o apoio da equipa “fazer um bom resultado devido a todo o trabalho, toda a experiência que temos”, sublinhou à partida da 45.ª edição da mítica prova de todo-o-terreno.

Nas motas, António Maio, 21.º em 2022, parte com a ambição de escalar na hierarquia. “Estar à partida já é uma excelente vitória. Foi um ano atípico, muito bom a nível familiar, mas que me tirou algum tempo para me preparar. Mas estou bastante motivado, bem fisicamente, com o objetivo de melhorar os resultados das últimas edições. Este ano temos melhores condições", frisou o militar da GNR. Campeão nacional de todo-o-terreno pela sétima vez em 2022 e a correr a título privado partilhou uma curiosidade antes de iniciar a quarta participação. “Há a possibilidade de dormir no camião da equipa, o que nunca tinha acontecido, e que permite descansar melhor”, confessou.

Mário Patrão - Rali Dakar 2023

Campeão do Mundo Cross Country Rallies entre os veteranos, atual campeão europeu de Bajas e de Rally Raid, Mário Patrão, volta a disputar a mais desafiante classe, a Original by Motul, na qual os pilotos correm sem qualquer tipo de assistência externa às suas máquinas. “O ano passado consegui concretizar o objetivo de disputar a prova sem assistência. É um desafio enorme ter de gerir todas as escolhas que faço, não só em prova, mas também fora dela. Todas as decisões pesam e contam nesta equação, nomeadamente o cansaço que também tem de ser gerido. Este ano quero tentar fazer mais e melhor com todas as dificuldades que sei que a malle moto carrega, mas estou bastante motivado”, revelou Patrão (KTM), apontando terminar no “top 5”, que, em 2022, subiu ao pódio da Classe Original by Motul em quatro etapas, três das quais consecutivas.

Ainda nas duas rodas, destaque ainda para o terceiro Dakar de Rui Gonçalves, piloto oficial da Sherco, 24.º em 2022, Joaquim Rodrigues Jr. (Hero) e o luso-germânico Sebastian Buhler (Hero).

Os navegadores Paulo Fiúza (co-piloto do lituano Vaidotas Zala, Hunter), e José Marques (navegador do lituano Gintas Petrus, Chevrolet) estão inscritos nos automóveis, nos SSV, para além da dupla Hélder Rodrigues/Gonçalo Reis (BRP Can-Am), participam ainda João Ferreira (Filipe Palmeiro, Yamaha, como navegador), campeão nacional de todo-o-terreno em automóveis, Ricardo Porém (ao lado do espanhol Augusto Sanz, Yamaha) e Paulo Oliveira (que corre com licença moçambicana) e terá como copiloto o espanhol Miguel Alberty (Can-Am Maverick). Pedro Bianchi Prata, 11 edições do Dakar no currículo (10 de moto e uma como navegador de SSV), será agora navegador do brasileiro Bruno Conti de Oliveira (BRP Can-Am), e Fausto Mota, com licença espanhola, surge como navegar do brasileiro Cristiano Batista (BRP Can-Am). Nos camiões, José Martins está inscrito como piloto num Iveco do Team Boucou, com o navegador francês Jeremie Gimbre e Armando Loureiro (MAN) será copiloto do francês Sebastien Fargeas.

Velhas raposas do deserto à espreita de títulos

Na mais nobre das categorias do Dakar, nas motas, Sam Sunderland veste o dorsal 1 para lutar pelo tricampeonato na maior e mais dura prova off-road do planeta de novo com as cores da GasGas. A equipa de fábrica da Honda apresenta o norte-americano Ricky Brabec, os chilenos Pablo Quintanilla e José Ignácio Cornejo Florimo e o francês Adrian van Beveren. A supercampeã KTM será capitaneada pelo bicampeão Toby Price, o argentino Kevin Benavides e o austríaco Matthias Walkner.

Nos carros, categoria que concentra o maior número de representantes com selo de lenda (onde se inclui o português Hélder Rodrigues), os nomes dispensam apresentações até para os leigos no desporto automóvel e surgem salteados pelas subcategorias determinadas pela configuração das máquinas, incluindo veículos de tração 4x4 e 4x2, motores híbridos, a diesel, diesel ecológico e gasolina,

Nasser Al-Attiyah (Toyota), faz dupla com Mathieu Baumel veste a pele de defensor do título e procura levantar, pela quinta vez, o caneco nos carros.

Stéphane Peterhansel procura o 15.º triunfo no Rali Dakar ao volante do protótipo híbrido da Audi. O recordista de vitórias na competição, 14, no total, divididas entre automóveis (oito) e motas (seis) vai para a sua 35.ª participação, em 45 edições do mais afamado rali.

Peterhansel, com o navegador francês Edouard Boulanger, integra a armada elétrica da marca alemã, com o E-Tron e tem como companheiros de equipa uma outra lenda dos ralis, o espanhol Carlos Sainz (juntos venceram 11 edições nos automóveis), este a fazer dupla com o também espanhol Lucas Cruz e o sueco Mattias Ekström (9.º no ano passado e o melhor classificado), cujo navegador é o seu conterrâneo, Emil Bergkvist.

45ª Edição do Rally Dakarç

8.549km de percurso total. Especiais somam 4.706km

(Data / locais / total do dia / especial)

  • Prólogo: 31/12 - Sea Camp - 10 km / 10 km
  • 01/01 - Sea Camp -> Sea Camp - 603 km / 368 km
  • 02/01 - Sea Camp -> Al-'Ula - 590 km / 431 km
  • 03/01 - Al-'Ula -> Ha'il - 669 km / 447 km
  • 04/01 - Ha'il -> Ha'il - 573 km / 425 km
  • 05/01 - Ha'il -> Ha'il - 646 km / 375 km
  • 06/01 - Ha'il -> Ad Dawadimi - 876.68 km / 466 km
  • 07/01 - Ad Dawadimi -> Ad Dawadimi - 641.47 km / 473 km
  • 08/01 - Ad Dawadimi -> Riyadh - 722.41 km / 407 km
  • 09/01 - Descanso - Riyadh
  • 10/01 - Riyadh -> Haradh - 710 km / 439 km
  • 11/01 - Haradh -> Shaybah - 623 km / 114 km
  • 12/01 - Shaybah -> Empty Quarter - 426 km / 275 km
  • 13/01 - Empty Quarter -> Shaybah - 375 km / 185 km
  • 14/01 - Shaybah -> Al Hofuf - 669 km / 154 km
  • 15/01 - Al Hofuf -> Dammam - 414 km / 136 km