“Marcelo Bielsa: o treinador preferido do nosso treinador preferido”

A frase acima foi escrita numa caixa de comentários de uma notícia alusiva à promoção do Leeds United à Premier League e mostra como Bielsa, técnico que reconduziu o clube ao principal escalão do futebol britânico, desperta paixões.

Hoje em dia, e cada vez mais, El Loco Bielsa é adorado por muitos adeptos de futebol. Mas isso acontece muito por culpa da admiração recebida por diversos treinadores de topo. Pep Guardiola, Maurício Pochettino e Diego Simeone são apenas alguns - entre muitos outros - que dão Marcelo Bielsa como uma das suas referências. O atual técnico do Manchester City chegou até a dizer que Bielsa era tão bom que conhecia o seu Barcelona (na altura em que Pep estava no banco dos catalães) melhor que ele mesmo.

Bielsa "é como o meu pai futebolístico. Nós fazemos parte de uma geração de treinadores que começaram como seus discípulos” Maurício Pochettino

Consistência e agressividade defensiva, pressão alta, jogo em posse ao sair a jogar detrás, utilização de toda a largura do campo em ataque continuado, enfim, tudo termos que foram popularizados por alguns dos maiores treinadores do mundo e que tiveram como referência Marcelo Bielsa, um mestre na forma como encara o futebol.

Leeds e Bielsa nasceram um para o outro

O ano é 2004. O Arsenal de Arsène Wenger terminava a época como campeão e com um zero na coluna das derrotas. Ficariam para sempre conhecidos como Os Invencíveis. No lado oposto da tabela estavam Wolves, Leeds e Leicester City, todos eles com 33 pontos, todos eles abaixo da linha d’água. Três anos antes, mais precisamente em Abril de 2001, os Pavões (alcunha pela qual o Leeds é conhecido) jogavam as meias-finais da Liga dos Campeões. Uma ambição desmedida na forma de investimento no plantel e aumento pouco controlado da folha salarial, acompanhado por resultados menos bons e consequente não qualificação para a Liga dos Campeões, resultaram na falência desportiva do projeto e, mais tarde, na falência técnica do clube.

Em 2001, o Leeds estava nas meias da Champions; em 2007, jogava na League One, terceiro escalão do futebol inglês.

Nesse período, o clube teve vários proprietário. Com um deles, Massimo Cellino, o Leeds viu oito treinadores entrarem e saírem em apenas quatro anos (num período de apenas seis meses, Cellino chegou a despedir três treinadores!). A atitude só não surpreende mais porque ao longo de 22 anos aos comandos de clubes de futebol, o ex-proprietário do Cagliari ter já contratou e despedidiu 36(!) treinadores.

Mas depois de Cellini chegou Andrea Radrizzani, também ele um investidor italiano, e o clube pareceu ganhar o rumo da estabilidade. Faltava o regresso à Premier League e foi para isso que chegou Bielsa, no verão de 2018.

Tendo passado por clubes como o Espanyol, o Athletic Bilbao e o Marselha (para além das seleções da Argentina e do Chile), Marcelo Bielsa chegou ao Leeds com 62 anos e sem nada a provar. Ainda que os trabalhos anteriores do argentino não tenham sido propriamente brilhantes no capítulo dos resultados.

Dois anos antes, em julho de 2016, El Loco "despediu" a Lazio dois dias depois de começar a trabalhar no centro de treino do clube italiano, na sequência de promessas não cumpridas no que a contratações dizia respeito (e colocando um ponto final numa história que ainda nem tinha começado). Depois, veio o Lille OSC, onde após dezanove jogos no comando da equipa, o mundo espantava-se com a notícia de que o clube francês suspendera Bielsa da sua posição de treinador após este ter conseguido ganhar apenas três jogos, deixando o Lille na segunda posição a contar do fim da tabela.

E é então que chega o Leeds, histórico inglês a precisar de reerguer-se do Championship em direção à Premier League, casamento perfeito entre um treinador à procura de um novo desafio e um clube gigante a precisar da pessoa certa para igualar a fé dos adeptos fora de campo com a qualidade da equipa dentro dele.

Marcelo Bielsa é um dos mais enigmáticos e loucos treinadores que o futebol alguma vez viu. A juntar a um clube cuja massa adepta tem a equipa do coração como máxima prioridade na sua vida, como podemos perceber no documentário aqui recomendado há alguns meses, a edição da Premier League de 2020-21 tem mais uma componente que a tornam a melhor e mais espectacular liga de futebol do mundo.

Que os deuses do futebol continuem a não nos falhar.

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