Os estereótipos em relação ao género estão presentes mesmo na escola primária, com os rapazes a mostrarem mais interesse numa carreira profissional desportiva e com mais de 24% das crianças do sexo feminino a dizerem que os rapazes são melhores desportistas que as raparigas, disse à agência Lusa a investigadora de antropologia Daniela Rodrigues, que entrevistou 793 crianças, de Lousã e Coimbra, para a sua tese de doutoramento, concluída recentemente.
Para além disso, os rapazes e raparigas praticam desportos que são socialmente associados com o seu sexo, sendo que os desportos praticados pelos rapazes "são mais vigorosos", o que é mais benéfico para a saúde das crianças e ajuda a alcançar os valores mínimos de atividade física diária recomendada.
Neste estudo, a prevalência de excesso de peso e de obesidade abdominal foi "mais elevada nas raparigas do que nos rapazes", o que "pode trazer vários riscos de saúde como diabetes e doenças cardiovasculares".
Das crianças entrevistadas, quase 70% praticavam desporto, "mas na maior parte das vezes só uma ou duas vezes por semana e durante pouco tempo".
A investigadora chama também a atenção para outros fatores que levam a uma menor prática de desporto extracurricular, como o nível socioeconómico da família, o facto de os pais praticarem ou não atividade física, baixa escolaridade dos pais e a inexistência de locais para praticar desporto na área de residência.
Comparando também uma situação de meio urbano (Coimbra) com periferia (Lousã), nota-se que os pais que vivem na cidade parecem ter uma maior necessidade de estruturar as atividades dos filhos, havendo também uma menor prática de brincadeiras fora do contexto escolar (como jogar à bola ou andar de bicicleta) e menor prática de transporte ativo para a escola (a pé ou de bicicleta).
"Sabemos também que pais ativos têm maior probabilidade de terem filhos ativos. Na idade adulta, há mais homens a praticar atividade desportiva e há uma relação mais forte, neste campo, entre pai e filho e mãe e filha. A filha acaba por ter menos modelos a seguir", notou Daniela Rodrigues, considerando também importante a influência dos órgãos de comunicação social, que dão primazia ao desporto praticado por homens.
A própria escola, notou, "não estimula tanto a prática de atividades que as raparigas mais gostam".
Segundo Daniela Rodrigues, é necessário criar "estratégias para garantir uma maior prática desportiva junto das raparigas", criando "programas que envolvam toda a família, tendo por base os pais, assim como as escolas e professores, e tendo em conta as características específicas de cada criança e das condições económicas, culturais e ambientais que as rodeiam".
Para além disso, há também bloqueios financeiros, sendo necessário as autarquias garantirem transporte para a prática desportiva e apoiar as famílias, que se veem confrontadas com os custos de equipamento e mensalidades nos clubes.
"Uma das maiores influências foi também a perceção de barreiras pelos pais. Encontravam barreiras como tempo, dinheiro ou a segurança dos filhos e essa variável tinha também muito peso na prática de desporto das crianças. Mais barreiras, menos probabilidade de praticar desporto", resumiu.
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