Junta realidade e ficção. “O Último Adepto”, livro da autoria de Nuno Nogueira Silva, pega na história real de um cidadão, de nome Albuquerque, adepto da seleção nacional de futebol. Embalado por um sonho, embarcou para França. Objetivo: ver Portugal no campeonato da Europa, no ano de 2016. Ao longo de 300 páginas, Nogueira Silva acrescenta uma dose de capítulos romanceados, prosa essa baseada em pressupostos verídicos passados em terras gaulesas durante o Euro2016.

“O Albuquerque é o comum dos mortais”, apresenta Nuno Nogueira Silva, em conversa com o SAPO24. “No fundo, aos 94 anos, vive isolado em sua casa e quando a maioria das pessoas pensa que é o fim, achou-se cheio de força para seguir o sonho de ver Portugal campeão europeu”, sumariza.

Adepto da seleção, “fez as malas sem dizer nada a ninguém, apanhou o comboio que passava em Vila de Nogueiras, onde residia em Vila Real (Trás-os-Montes), vem para o Porto (Aeroporto) para seguir para França”, conta. “Sem bilhetes, vai direto para Saint Étienne, local do primeiro jogo”, continua.

“Não fala francês e acaba por sentir-se estranho, mas ao mesmo tempo bem acolhido, porque futebol tem a mesma linguagem em todo o mundo e as pessoas conseguem comunicar-se. E, depois, em todo o lado há um português e alguém que o consiga compreender”, detalha.

Cidadão e adepto de futebol, Albuquerque não é uma criação literária. “O Albuquerque existiu, é esse o nome. Cruzou-se no meu caminho”, garante. “Tinha aventuras na cabeça e levava-as até ao fim, como foi o caso do Euro2016”, descreve  Nogueira Silva, autor que se revê na personagem. “Também vibro pela seleção. Tenho é metade da idade”, sorri.

Em França, entre o local de estágio da equipa das Quinas, em Marcoussis, nos arredores de Paris, e os estádios e cidades dos três jogos da fase de grupos — Saint Étienne, Paris e Lyon —, Albuquerque personifica a vibração dos emigrantes adeptos. “Sentiu o sofrimento de ir de estádio em estádio, a procura de casa, os bilhetes, como já tinha falado...”, diz o autor.

Termina, neste ponto, a parte, mais ou menos, verídica do livro. Daqui para a frente, dará lugar à parte romanceada, mas cujo final foi bem verdadeiro.

“Tal como o Albuquerque, acreditei no mesmo: vamos ser campeões”, assume Nuno Nogueira Silva, uma convicção em crescendo, à medida que escrevia naquele mês de competição, entre junho e julho de 2016.

As palavras aceleraram num blogue que deu origem a um livro estacionado na gaveta desde o dia 10 de julho de 2016. “Tudo escrito antes de cada jogo”. Seria publicado, quatro anos depois, em 2020, quando era suposto Portugal estar num novo campeonato europeu, prova adiada um ano e a decorrer atualmente.

De acordo com o autor, pelo menos de antigamente, a portugalidade corre nas veias de Albuquerque. “Tem a convicção que não somos mais fortes do que os outros e entramos sempre a medo. Mas acredita sempre que o divino nos vai ajudar”, assegura numa referência à trilogia tradicional “Fátima, Futebol e Fado”.

“É uma história de acreditar. De sonhos e de vontade de viver”, acentua. “E era necessário escrever sobre os adeptos. Sabemos tudo sobre os jogadores, mas sobre os adeptos nada. Não sabemos nada sobre quem está no camarote ou quem está na bancada atrás da baliza. É uma homenagem ao Albuquerque e a todos os adeptos que acompanham o futebol. Uma homenagem ao adepto anónimo”, justifica.

O Albuquerque “não viu”, no estádio, Portugal sagrar-se campeão europeu. "O Último Adepto", editado pela Chiado Editora, é, por isso, “em memória dele”, desvenda. “Devia-lhe isso, pela pessoa que era e pela força e esperança de vida, a cultura, sabedoria e vontade de viver que tinha. Não deixa de ser uma memória”, sublinha, ao mesmo tempo que desvenda um sonho. “Havia a vontade de escrever um livro sobre Liga das Nações”. Com Albuquerque, que entretanto morreu, como personagem principal.

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